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heculano microfone

J.Herculano Pires foi comunicado que Roberto Montoro, proprietário da Rádio Mulher, pretendia colocar na programação da emissora um programa espírita semanal, com a duração de uma hora. E mais: desejava fosse o programa estruturado e apresentado por ele.  O apóstolo de Kardec aceitou o convite, pois lhe fora assegurado que teria a mais ampla liberdade, “podendo tratar do espiritismo em todos os seus aspectos, sem restrição, e responder a qualquer pergunta” dos ouvintes.

No Limiar do Amanhã ia ao ar aos sábados à noite e obteve sucesso imediato em São Paulo. A Rádio Mulher passou a reprisá-lo aos domingos, pela manhã. A Rádio Morada do Sol, de Araraquara e a Rádio Difusora Platinense, de Santo Antônio da Platina, no Paraná, retransmitiram-no, também, com expressiva audiência. O vigoroso programa prestou inestimável serviço à doutrina espírita durante três anos e meio. Herculano Pires, obviamente, jamais aceitou da Rádio Mulher qualquer espécie de remuneração.

Nesta seção do site, você vai poder ouvir os áudios originais dos programas, e também ler o texto  integral da transcrição.

 AGRADECIMENTOS

A Fundação Maria Virgínia e J. Herculano Pires agradece a todos os que colaboraram com a criação do acervo desta seção, doando gravações dos programas, em especial a Aldrovando Góes Ribeiro, Maria de Lourdes Anhaia Ferraz e Miguel Grisólia.

 

 

No Limiar do Amanhã, um desafio no espaço.

 

Amigos ouvintes, a batalha do espiritismo se trava muito mais no interior de nós mesmos do que lá fora. Lembremo-nos disso no correr deste ano. Deixemos que a tempestade das agressões, das confusões, das mistificações, dos desentendimentos continuem a rugir lá fora, mas conservemos a paz em nossos corações. Não a paz do mar morto, das águas paradas que formam o pântano, mas a paz dos riachos alegres cujas águas refletem a luz do sol e das estrelas correndo para o futuro.

 

O ano de 1973 estende-se à nossa frente como uma planície do tempo esperando nosso esforço. Aproveitemos essa nova etapa de nossa existência para construir e servir. A era do espírito foi planejada pelo grande arquiteto, mas cabe a nós todos a sua construção. Não esmoreçamos no trabalho, não espedíssemos tempo e energia com distrações inúteis, trabalhemos com alegria e com amor.

 

Cada qual no seu posto, cada qual com sua enxada, com o seu trator, com seu malho, com a sua pena e a sua palavra erguendo o edifício da era do espírito no coração e na consciência dos homens. Não há tempo a perder, mas enquanto construímos, sejamos vigilantes afastando material impróprio ou deteriorado, afugentando os animais daninhos, corrigindo os que não seguem a planta com devido cuidado, louvando e apoiando os que se esforçam para que o edifício seja bem construído e não corra o perigo de desabar.

 

Não basta construir, amigos. É preciso vigiar. Construtores e pedreiros descuidados, displicentes, sem o devido senso de responsabilidade são construtores de catástrofes, semeadores de ruínas. Jesus Cristo, nosso senhor, nos ensinou a vigiar e orar. Não basta orar, é preciso vigiar. Estejamos vigilantes em nosso trabalho, assentando as pedras do edifício da era do espírito.

 

No Limiar do Amanhã: um programa desafio. Produção do Grupo Espírita Emanuel. Transmissão número 96, segundo ano. Direção e participação do professor Herculano Pires.

 

Este programa é transmitido nesse dia e nesse horário todas as semanas pela Rádio Mulher de São Paulo 730kz, pela Rádio Morada do Sol de Araraquara 640kz, e pela Rádio Difusora Platinense de Santo Antônio da Platina, Paraná, 780kz, todas as semanas neste dia e neste horário.

 

Perguntas e respostas. Faça suas perguntas por carta ao programa No Limiar do Amanhã escrevendo para a Rádio Mulher, Rua Granja Julieta, 205, São Paulo. Não faça relatórios, faça perguntas. Se quiser, faça suas perguntas pelo telefone durante a semana no horário comercial discando esses números: 269-4377 ou 269-6130. E ouça as respostas pela Rádio Mulher em São Paulo, pela Rádio Morada do Sol em Araraquara, e pela Rádio Difusora Platinense em Santo Antônio da Platina, Paraná. Todas as semanas neste dia e neste horário.

 

Pergunta nº 1: Ajuda dos desencarnados

 

Locutor - Professor, o ouvinte Renato Moreti, da Rua Antônio Foster, Socorro, Santo Amaro, nos faz duas perguntas. Primeira: de que formas os parentes ou pessoas conhecidas que já desencarnaram podem oferecer ajuda do plano espiritual?

 

J. Herculano Pires - Da mesma maneira por que nós, nós mesmos, aqui na Terra podemos oferecer e dar ajuda do plano espiritual às pessoas que necessitam e que nos pedem.

 

Quantas vezes somos procurados por pessoas necessitadas que rogam a nossa intervenção nos problemas com que se defrontam, certos de que a nossa atitude será benéfica para elas. Ora, nós sabemos que não dispomos, de nós mesmos, dos recursos necessários para atender a esses pedidos. Mas sabemos também que podemos elevar o nosso pensamento a Deus, pedir a ele o amparo para essas pessoas, que podemos orar, enfim, em benefício da solução dos problemas, das dificuldades, e até mesmo das doenças com que essas criaturas se defrontam. Ora, se nós, encarnados, podemos fazer isso, por que não o poderíamos fazer quando desencarnados?

 

Desta maneira, nós colocamos em primeiro lugar este ponto que é o seguinte: o espírito desencarnado pode perfeitamente solicitar aos espíritos superiores, através da prece, através da oração, o auxílio necessário para aqueles seus parentes e amigos que daqui da Terra apelam a eles.

 

Da mesma forma, porém, segundo ponto, os espíritos desencarnados, desde que já disponham de uma certa elevação, poderão através do seu próprio pensamento dar-nos boas intuições, ajudar-nos com a sua presença, com seu envolvimento fluídico ou vibratório, para que nós tenhamos mais ânimo, mais coragem no enfrentar as nossas dificuldades e os nossos problemas.

 

Download Pergunta nº 2: Manifestações físicas

 

Locutor - Segunda pergunta: um espírito que já desencarnou há dois anos, se possui conhecimento, pode materializar-se com a ajuda dos mentores espirituais?

 

J. Herculano Pires - Todo fenômeno de materialização realizado, seja em sessões ou não, é sempre presidido por espíritos superiores. Nós sabemos – e Kardec o explica muito bem – que os fenômenos de efeitos físicos, sejam eles de materialização, de movimentação de objetos ou semelhantes, todos eles dependem da ação direta de espíritos ainda inferiores sobre objetos materiais. Sabemos também que esses espíritos inferiores apegados, portanto, ainda ao nosso plano, têm mais facilidade para movimentar os objetos e as coisas da matéria.

 

Justamente por isso os espíritos se servem deles, os espíritos superiores se servem deles para que os fenômenos sejam produzidos. Mas o fato de que estes espíritos que Kardec chega mesmo a classificar como sendo uma espécie de carregadores do mundo espiritual, o fato de que estes espíritos estejam trabalhando nos fenômenos de materialização e de manifestações físicas em geral não quer dizer que esses fenômenos sejam realmente produzidos por espíritos inferiores. A ação direta destes espíritos na realização dos fenômenos é dirigida pelos espíritos superiores que controlam o problema. Assim, um espírito desencarnado recentemente, mesmo que não tenha conhecimentos necessários para agir por si mesmo na atividade plena durante a materialização, ele pode materializar-se porque será socorrido no tocante aos problemas puramente materiais pelos espíritos que servem de assistentes aos espíritos superiores que dirigem as reuniões.

 

Então poderemos resumir assim a resposta à sua pergunta: o espírito desencarnado há dois anos, ou menos do que isso, há um ano, há um mês, há alguns dias, pode materializar-se numa sessão desde que ele esteja espiritualmente em condições de submeter-se às operações necessárias para essa materialização. Podemos mesmo acrescentar que um espírito bastante evoluído pode materializar-se momentos após a sua desencarnação.

 

Um fato histórico bastante importante para nós no Brasil é o da materialização de Cairbar Schutel após a sua morte, materialização esta ocorrida numa sessão em Londres logo após a desencarnação de Schutel. Este fato nos mostra, entre muitos outros, a possibilidade de materialização das entidades logo após o desencarne.

 

Eu queria aqui, continuando a atender as suas perguntas, se bem que já terminei as respostas, mas vejo que o senhor pede também o oferecimento de um livro e escolhe o livro “O espírito e o tempo”. Nós damos os livros aqui no programa de acordo com a necessidade de esclarecimento de certas perguntas que nos são feitas. Entretanto, vamos atender ao seu pedido específico e lhe damos este presente de irmão que o senhor pede: o livro “O espírito e o tempo”. Este espírito lhe deverá ser dado pelo programa No Limiar do Amanhã e pela editora Edigraf. O senhor pode procurá-lo, portanto, a partir de segunda-feira no escritório da Rádio Mulher, Avenida Barão de Itapetininga, 46, 11º andar, conjunto 1.111, sempre no horário comercial.

 

Download Pergunta nº 3: Vício

 

Locutor - Professor, o ouvinte Arualdo Barreto Aragão, da Rua Particular, Santa Maria, São Paulo, nos escreve agradecendo pelo livro “Iniciação espírita” e diz que está gostando muito do mesmo. Ele nos faz as seguintes perguntas: o fumo, o vício de fumar e de beber, faz parte da evolução do homem terreno. Mesmo sabendo que estamos nos envenenando com vários exemplos, de pessoas em hospitais e hospícios, o homem está se tornando escravo do vício mesmo sabendo de sua destruição, e sente-se satisfeito destruindo seus órgãos carnais. Na minha opinião, todos os viciados são pessoas que procuram prazeres artificiais fora do equilíbrio da natureza. São enjoados das coisas naturais. Portanto, peço explicações sobre consciência, compreensão e lógica.

 

J. Herculano Pires - O senhor fez, na verdade, uma única pergunta, mas essa pergunta implica realmente em outras.

 

Quando o senhor fala do problema do vício, o senhor diz que as criaturas que estão se viciando, sabendo que esses vícios podem levá-las a hospitais e tudo isso, elas estão, naturalmente, se destruindo a si próprias, e que esses viciados são pessoas que procuram prazeres artificiais.

 

Não há dúvida! E o senhor pergunta o seguinte: se estes vícios fazem parte da evolução terrena, da evolução do homem na Terra.

 

É claro que fazem parte. Não só estes vícios como todos os demais desmandos praticados pelos homens. Quando os homens estão em evolução, eles dispõem de livre-arbítrio, porque para que o espírito possa evoluir, é necessário que ele tenha liberdade. Se nós fizermos a evolução do homem forçadamente, obrigando-o a adotar certos caminhos pela força, nós não estamos lhe dando o principal para sua evolução espiritual que é a liberdade.

 

Sem liberdade, não existe responsabilidade. Isto é muito conhecido e hoje muito utilizado até mesmo na pedagogia, na educação comum das criaturas humanas.

 

Antigamente, fazia-se a criança, na escola, decorar, aprender obrigatoriamente certas matérias, e se ela errava, castigava-se fisicamente a criança. A educação moderna mudou isso por completo. Ensinou que aquela educação antiga não era propriamente educação e sim domesticação, da mesma forma que se domestica um animal obrigando-o a adquirir hábitos forçados contra sua própria natureza.

 

Assim, a educação moderna é uma educação que dá liberdade à criança. Muita gente lamenta isto, porque queria que as crianças fossem esmagadas pela sua prepotência. Mas Deus não age dessa maneira. Ele quer que todas as suas criaturas evoluam dentro dos princípios da liberdade. Porque só tendo liberdade é que a criatura pode ser responsável pelo que faz. Quando a criatura não tem liberdade, o responsável é aquele que impõe à criatura os atos que ela pratica.

 

Dessa maneira os vícios fazem parte não apenas da evolução terrena do homem, como de todas as criaturas que evoluem em todos os mundos, vícios, crimes, todos os desequilíbrios por que nós passamos.

 

Mas isso não quer dizer que as criaturas sejam obrigadas a viciar-se. O homem tem liberdade de escolha, de opção. Ele pode escolher o caminho que ele quiser. É verdade que haverá constrangimentos sociais, constrangimentos impostos, às vezes, pelas próprias situações vivenciais em que ele se encontra. Mas ele dispõe de elementos para reagir contra estes constrangimentos.

 

Assim, se ele aprender a reagir e vencer, ele então será o responsável pela sua própria evolução. E este é o seu mérito. Mas não é apenas uma questão de mérito que está em jogo e sim a questão de fazer com que o espírito que evolui seja senhor de si mesmo e saiba por que faz ou não faz isto ou aquilo.

 

Os viciados que estão hoje prejudicando-se, estão passando por uma experiência. Por mais dolorosa que seja essa experiência, vai ensinar-lhes na próxima encarnação a se afastarem dos vícios.

 

Desta maneira nós temos de compreender que todos os males existentes na Terra, com que nos defrontamos aqui, não podem ser suprimidos de um momento para outro como nós queríamos. Esses males desaparecerão com a evolução do homem e da humanidade. Mas para que o homem evolua realmente ele precisa ter a liberdade de experimentar até mesmo o vício, se ele quiser.

 

O senhor pergunta ainda sobre consciência, compreensão e lógica. A sua pergunta é muito sucinta, o senhor não diz o que quer e

 

ntender sobre isso, o que quer saber sobre isso. Mas eu relaciono naturalmente isso com a sua pergunta anterior. O senhor poderia perguntar o seguinte: onde está a consciência dos viciados? A consciência dos viciados existe, como existe a consciência dos criminosos, como existe a consciência dos selvagens, como existe a consciência dos homens mais evoluídos intelectualmente e mais desprovidos de moral. A consciência faz parte da nossa estrutura espiritual. Todos nós temos consciência, e a consciência está sempre agindo dentro de nós. A consciência, costuma-se dizer, é a voz de Deus conduzindo-nos nos caminhos da evolução.

 

Mas acontece que o homem tem liberdade, como dissemos, e precisa ter liberdade. Ele ouve a consciência ou não ouve. Ele escuta essa voz misteriosa que fala dentro dele e a obedece ou a desobedece e procura abafá-la com seus interesses imediatos na vida carnal. De maneira que a consciência não está ausente no caso do viciado. A consciência está sempre presente em todas as criaturas, mas o homem tem liberdade de ouvir ou não a voz da consciência.

 

No tocante à compreensão: todos nós devemos compreender os nossos deveres, as nossas obrigações, os nossos problemas. Mas todas essas coisas são muito mais complexas do que podem parecer imediatamente para nós. É muito simples dizermos assim: este homem viciado no álcool não compreende que o álcool o está destruindo? Por que ele não deixa isso imediatamente?

 

É muito fácil para nós que estamos fora da situação dele dizermos isso. Mas o homem que está dentro do vício, que está imerso no vicio, ele está lutando com uma infinidade de problemas. Ele luta inclusive com sua consciência, contra sua própria consciência. Essa batalha muitas vezes o desnorteia. Ele se sente incapaz de dirigir com verdadeira compreensão à sua luta para poder se libertar do vício. A compreensão, entretanto, irá surgindo com o tempo. Porque não só o homem nessa batalha dispõe do poder da consciência como dispõe também da ajuda do seu espírito protetor, dos espíritos amigos que o assistem, dos parentes que oram por ele, e da proteção de Deus. Mais hoje, mais amanhã, a compreensão o levará a tomar uma atitude diferente.

 

A lógica, diz o senhor, e a lógica?

 

A lógica é claro que decorre de um pensamento esclarecido conduzido rigorosamente dentro das leis da razão, mas é evidente que um homem que está viciado não está em condições de usar este pensamento. Ele necessita vencer os seus instintos, as forças instintivas que agem dentro dele e que o arrastam, às vezes, para caminhos viciosos muito perigosos.

 

Não podemos exigir de uma mente em conflito, aturdida por problemas vitais em que ele se vê envolvido como uma criatura num incêndio, no meio de um incêndio, exigir que ele vá usar a lógica com a precisão de um sábio num laboratório. Precisamos também entender essas coisas. Precisamos também ter lógica da nossa parte no exame do problema dos vícios e dos perigos a que as criaturas humanas são arrastadas pelos seus impulsos afetivos, pelas suas forças interiores que, não controladas ainda no processo evolutivo, muitas vezes desencadeiam-se como os elementos nas tempestades.

 

Em tudo isto, no tocante à consciência, à compreensão e à lógica, quando falamos dessas coisas, nós também devemos perguntar a nós mesmos, que estamos interpelando os outros a respeito, se estamos procedendo com a devida orientação da nossa própria consciência. Com a necessária compreensão do problema em que aquela criatura está envolvida, e com a lógica devida para não fracassarmos nas nossas críticas ou nas nossas observações.

 

Download Pergunta nº 4: Livros fundamentais

 

Locutor - Professor, o ouvinte Ivan Demétrio Santana nos escreve dizendo: há poucos meses que frequento aulas sobre espiritismo. Aqui onde me encontro, havia ainda até pouco tempo este tipo de religião e nós recorríamos à biblioteca onde, com os antigos livros, conseguimos o pouco que sabemos com respeito à doutrina.

 

Num dos programas passados, o senhor falou sobre um livro no qual Allan Kardec formulou uma série de perguntas aos espíritos e estes responderam a todas. Peço-lhe, então, que se possível, o senhor me envie o livro para que eu possa aprender um pouco mais sobre a nossa vida material e espiritual.

 

J. Herculano Pires - Percebo que os seus conhecimentos a respeito da doutrina realmente são ainda bastante rudimentares, porque o senhor se assustou de eu falar de um livro de Kardec em que há perguntas e respostas, no diálogo de Kardec com os espíritos.

 

Pois bem, toda obra de Kardec, toda obra básica de Kardec que deu origem à doutrina e que se conformou na organização da doutrina, toda esta obra é um diálogo de Kardec com os espíritos. A partir, portanto, do “O Livro dos Espíritos” – e foi certamente a este livro que eu me referi –, a partir dali a obra de Kardec é um constante dialogar com os espíritos através da mediunidade.

 

Toda doutrina espírita resultou deste diálogo. Então é necessário que o senhor tome conhecimento disso. Mas eu não o aconselharia a ler imediatamente “O Livro dos Espíritos”. Eu lhe aconselho a ler antes os livros que preparam a nossa mente para a compreensão do “O Livro dos Espíritos”, porque este livro é a obra fundamental da doutrina. Então eu vou lhe fazer um presente de irmão, de acordo com a maneira por que atendemos a certas perguntas neste programa. É um presente de irmão do programa No Limiar do Amanhã e da editora Edicel. Vou lhe oferecer o livro “Iniciação espírita”, de Allan Kardec. Este livro o senhor recebe como um presente de irmão, porque todo o livro espírita é um presente verdadeiramente de irmão para irmão. O senhor pode procurar este livro no escritório da Rádio Mulher a partir de segunda-feira próxima no horário comercial. O escritório da Rádio Mulher fica na Avenida Barão de Itapetininga, 46, 11º andar, conjunto 1.111. O livro estará no seu nome.

 

Download

 

Pergunta nº 5: Criação e evolução

 

Locutor - Professor, a ouvinte Vera Lúcia Casagrande, da Rua São Leonardo, nos diz o seguinte: conhecendo seu sistema de trabalho, resolvi escrever-lhe a fim de que sejam esclarecidas certas dúvidas que me rodeiam. Segundo “O livro dos espíritos”, nós fomos criados simples e ignorantes. Gostaria de saber se Jesus Cristo está enquadrado na mesma situação.

 

J. Herculano Pires - É evidente que sim.

 

Toda criação do universo foi feita por Deus. Todas as criaturas do universo são filhas de Deus. Pois bem, Jesus Cristo comparou-se no Evangelho, como nós vemos, a nós mesmos. Ele falava de Deus como pai, o nosso pai, o pai de nós todos. E considerava-se nosso irmão.

 

Jesus Cristo, como nós, como todos os demais espíritos superiores, todos foram criados por Deus, e todos partiram do mesmo princípio, porque Deus é justo e equânime. Nós todos começamos da mesma maneira. Acontece que Jesus é um espírito criado muito antes de nós, com uma evolução imensa diante de nós, e quando ele veio para a Terra ele já estava há muitos e muitos séculos e milênios numa situação de evolução superior, muito superior à nossa humanidade. Por isso, ele é o nosso governador espiritual. É o governador espiritual do nosso planeta.

 

Download Pergunta nº 6: Idade

 

Locutor - Prossegue a nossa ouvinte: o espírito no momento de reencarnar se reduz ao tamanho infantil?

 

J. Herculano Pires - O tamanho físico não tem relação com o tamanho espiritual ou aquilo que poderíamos chamar de tamanho espiritual. Mas na verdade toda vez que um espírito vai se reencarnar, ele se submete, na espiritualidade, a um processo de adaptação às condições infantis. Por isso diz Allan Kardec que o espírito da criança aparece na Terra vestindo a roupagem da inocência. Aparentemente inocente como uma criança, mas trazendo dentro de si toda bagagem das experiências, dos conhecimentos das vidas anteriores.

 

Talvez pudéssemos chamar a essa bagagem enorme que os espíritos trazem para a Terra quando se reencarnam, pudéssemos considerá-la como sendo o tamanho espiritual do espírito. Porque é na verdade a sua idade. A idade do espírito se mede pela bagagem de experiências e de conhecimentos que ele traz consigo. A idade no sentido da sua formação, do seu aparecimento como indivíduo humano.

 

Assim, nós poderíamos perguntar também: neste caso, a criação de Deus não foi feita apenas uma vez e num momento determinado? Não. De acordo com o espiritismo e de acordo com o Evangelho de Jesus, porque lá no Evangelho está bem claro isso, que Deus age constantemente, sempre agiu, e está agindo mesmo agora neste momento, segundo disse Jesus.

 

De acordo com esses dois princípios, o evangélico e o espírita, nós sabemos que a criação é permanente, é contínua. A todo o momento Deus está criando. E a criação se processa de acordo com as explicações que nós encontramos no “Livro dos Espíritos” de uma forma realmente impressionante para nós, porque não corresponde às nossas ideias, não corresponde aos nossos atos de encarar os problemas.

 

O homem, diz a Bíblia, foi feito por Deus do limo da terra. Pois bem, é do limo da terra, é dos reinos inferiores da natureza que o homem é arrancado lentamente por Deus através da evolução. E este princípio nos mostra então que na realidade a formação do homem não corresponde às ideias dramatizadas que nos apresentam as várias religiões cristãs, mas corresponde a um processo muito mais sutil e profundo que o espiritismo explica.

 

Download Faça as suas perguntas por carta ao programa No Limiar do Amanhã escrevendo para a Rádio Mulher Rua Granja Julieta, 205, São Paulo. Não faça relatórios, faça perguntas. Se quiser, faça as suas perguntas pelo telefone durante a semana no horário comercial discando estes números: 269-4377 ou 269-6130. E ouça as respostas pela Rádio Mulher em São Paulo, pela Rádio Morada do Sol em Araraquara, e pela Rádio Difusora Platinense em Santo Antônio da Platina, Paraná. Todas as semanas neste dia e neste horário.

 

Perguntas e respostas.

 

Pergunta nº 7: Reencarnação de Kardec

 

Locutor - O ouvinte Rafael Belmonte, da Rua Maria Coelho, Itaberaba, Capital, faz a seguinte pergunta, professor: no livro “Obras Póstumas” de Allan Kardec, ele dá entender que deveria voltar no fim do século passado ou no começo deste, e segundo o que tenho observado, isso não aconteceu. O que é que o senhor poderia dizer a respeito?

 

J. Herculano Pires - Esse problema da reencarnação de Kardec tem dado muito pano pra manga no meio espírita, mas não há motivo para isso. Kardec apenas registrou em “Obras Póstumas” algumas informações que os espíritos lhe deram. 

Os espíritos, como sabemos, vigiavam o trabalho de Kardec porque o auxiliavam, estavam sempre com ele, orientando, dando-lhe intuições, e mesmo através de médiuns manifestando-se a ele transmitindo-lhe comunicações. Procuravam orientá-lo, estimulá-lo, ajudá-lo. Kardec, ao perceber que estava chegando ao final da sua existência e que na realidade ainda havia muito que fazer no espiritismo, ele naturalmente se inquietava com isso, como todas as pessoas responsáveis se inquietam ao verem, principalmente como ele via, que não existia ninguém no seu tempo capaz de substituí-lo a altura no desenvolvimento do espiritismo.

 

Estas preocupações de Kardec levaram naturalmente os espíritos guias, orientadores do seu trabalho, a lhe darem algumas comunicações sobre a sua próxima reencarnação. Era uma providência no sentido de acalmá-lo, de desviá-lo das preocupações com isso, a fim de que ele pudesse aproveitar com mais tranquilidade o resto de tempo de que ainda dispunha da encarnação daquele tempo aqui na Terra.

 

Assim, não podemos considerar as referências feitas ali como coisas decisivas, como afirmações dos espíritos de que Kardec reencarnaria em tal ou tal tempo. Os espíritos, como nós fazemos com as crianças, se servem para conosco, as criaturas encarnadas, de certos expedientes para manterem a nossa atividade no campo da eficiência, do bom aproveitamento.

 

Naturalmente o senhor poderia alegar que Kardec era um espírito evoluído, altamente evoluído. Sim, não há dúvida. Mas os

 

espíritos por mais evoluídos que sejam, quando se encontram encarnados, quando estão na Terra, eles têm a sua visão limitada às condições do mundo em que vivem, aos problemas com que se defrontam. A obra de Kardec era imensa. Ele se preocupava muito com a sua realização, co

 

m o cumprimento da sua missão. E justamente por isso ele se preocupava também com a continuidade do trabalho que ele via estender-se ainda muito além de tudo aquilo que ele já tinha feito. Os espíritos se serviram naturalmente dess

 

e recurso para orientá-lo e acalmá-lo, propiciando-lhe a oportunidade de dar mais ênfase ao momento presente em que ele se encontrava, no trabalho que ele tinha que realizar naquele momento. Assim, nós temos de considerar estas coisas e evitar as especulações absolutamente inúteis sobre a reencarnação de Kardec. Na verdade, nós ainda não aprendemos a lição de Kardec. O que ele nos ensinou nas suas obras ainda é mistério para a maioria de nós. Nós todos que procuramos ler Kardec, estudá-lo, aprofundá-lo, conhecê-lo, na realidade estamos muito longe de haver atingida a plenitude daquilo que ele nos ensinou.

 

Kardec ensinou muita coisa que nós ainda estamos longe de compreender. Ora, a troco de quê? Para que voltaria o professor à classe? No sentido de prosseguir o ensino, se o ensino dado até agora ainda não foi suficientemente compreendido. Esperemos, com tranquilidade, o momento em que Deus na sua infinita sabedoria poderá proporcionar-nos de novo a presença do professor de espiritismo que foi Kardec, para que ele possa desenvolver as suas lições no sentido de maior amplitude. Não será isso agora. Nós estamos ainda no ABC da obra de Kardec. Precisamos aprofundá-la, tornarmo-nos bons alunos, aprendizes ativos, capacitados, para então sim nos tornarmos dignos da volta do professor.

 

Download Pergunta nº 8: Desenvolvimento da mediunidade

 

Locutor - Professor, o ouvinte Otavio Noronha nos pergunta o seguinte: a mediunidade é privilégio para algumas pessoas ou adquire-se por intermédio ou através de estudos?

 

J. Herculano Pires - A mediunidade, segundo temos sempre repetido neste programa, é uma faculdade humana natural. Nós todos somos naturalmente médiuns. Não é, portanto, a mediunidade um privilégio, não é uma graça concedida somente a esta ou àquela criatura. Podemos mesmo dizer que a mediunidade é uma conquista do próprio homem.

 

Nós todos temos as nossas faculdades. As faculdades humanas. Cada uma dessas faculdades se desenvolverá de acordo com as nossas experiências, com o nosso trabalho, com o nosso desejo bem aproveitá-la e de pô-la a serviço da evolução geral da humanidade.

 

O homem inteligente, por exemplo, que tem a inteligência bem desenvolvida, ele a tem porque desenvolveu, pois nós todos temos em potência a mesma capacidade intelectual, a mesma inteligência em condições de se desenvolver. Mas cada um a tem no momento presente na Terra, na sua fase atual de existência, cada um a tem na proporção em que já desenvolveu. Assim acontece com a mediunidade. Na proporção em que o homem a emprega utilmente, aproveitando a sua capacidade de percepção extrassensorial, quer dizer, de perceber as coisas não apenas através dos sentidos físicos, mas além dos sentidos; na proporção em que o homem se serve desses recursos e da sua capacidade de captar pensamentos, intuições, comunicações espirituais que lhe são dadas pelas formas mais diversas, na proporção em que ele vai desenvolvendo isto, ele desenvolve a sua mediunidade. E no momento em que ele aparece na Terra como um médium de alto desenvolvimento é porque ele conquistou esse desenvolvimento. A graça de Deus já nos foi dada no momento em que ele nos criou. Porque ele nos criou tendo dentro de nós mesmos todas as potencialidades para serem desenvolvidas. E assim na proporção em que desenvolvemos essas potencialidades, a graça de Deus vai se atualizando, ou seja, se transformando em realidade atual na nossa existência.

 

Download Pergunta nº 9: Cuidado com a mediunidade

 

Locutor - O senhor Antônio Severino da Silva, da Rua João Euclides Pereira, Presidente Altino, Osasco, nos escreveu fazendo os seguintes relatos: em 1970 eu estava trabalhando, senti uma friagem no corpo e vi um menino vestido de padre e que me disse ser São Francisco de Assis. Passados dois dias, senti novamente essa friagem e nesta visão havia muita gente e alguns animais doentes e eu fiz grandes milagres. Depois de um mês, recebi um aviso de que ia ficar doente e fiquei quinze dias de cama. Como o senhor explica isso? E o que me aconselha, professor?

 

J. Herculano Pires - A explicação disto é simplesmente a explicação de que o senhor tem naturalmente possibilidades de desenvolvimento mediúnico bastante acentuado. Mas que é preciso o senhor ter o maior cuidado possível com isso. Não se deixe levar por essas visões. Não se deixe impressionar por elas. Não acredite que São Francisco de Assis vem em forma de menino falar com o senhor, porque, se o senhor acreditar nisso, amanhã o próprio Deus aparecerá para falar com o senhor.

 

O mundo espiritual, como o mundo material aqui na Terra – este mundo em que vivemos –, está cheio de espíritos de todas as qualidades e de todos os graus de evolução. Há muitos espíritos mistificadores, mal intencionados e muitos deles bastante inteligentes que, quando encontram um médium desprevenido, procuram envolvê-lo nas suas fascinações. E nada mais fácil para fascinar um médium do que tocar-lhe a vaidade.

 

Se o senhor se envaidecer com a ideia de que São Francisco de Assis está se manifestando para o senhor, pode contar que sua mediunidade vai por água abaixo. O senhor será um candidato a desequilíbrio mental.

 

Não aceite, portanto, nada disto e procure frequentar um bom centro espírita e estudar. Estudar muito o espiritismo. Leia o livro “Iniciação Espírita” de Allan Kardec. Leia este livro com atenção. Página a página, procurando entender bem os seus ensinos. Na última parte desse livro, o senhor encontrará numerosas e proveitosas instruções sobre a mediunidade. Mas não leia apenas! Frequente um bom núcleo espírita. Um grupo espírita onde se pratica espiritismo de verdade, espiritismo de Allan Kardec, sem vestimentas brancas, sem rituais, sem imagens na mesa ou onde quer que seja, um centro onde as pessoas falem de maneira razoável, sensata e que tenham sempre sobre a mesa os livros de Allan Kardec, principalmente “O Livro dos Espíritos” e “O Evangelho segundo o Espiritismo”.

 

Aliás, depois que o senhor ler “Iniciação Espírita”, o senhor irá ler “O Livro dos Espíritos”. Mas primeiro o senhor vai ler este livro. E neste momento mesmo em que o senhor está lendo, pode também acompanhar a sua leitura com algumas leituras de “O Evangelho segundo o Espiritismo”, fazendo preces, pedindo o amparo do seu espírito protetor, dos bons espíritos para o auxiliarem a fim de que o senhor não se extravie no tocante às suas relações com o mundo espiritual.

 

Vou lhe dar, em nome deste programa e da editora Edicel, um presente de irmão que é o livro “Iniciação Espírita”. O senhor o pode retirar a partir de segunda-feira, no horário comercial, no escritório da Rádio Mulher, à Rua Barão de Itapetininga, 46, 11º andar, conjunto 1.111. Grave bem este endereço e procure lá durante a semana a qualquer momento, dentro do horário comercial, em qualquer dia o senhor pode passar lá.

 

Download Pergunta nº 10: Indiscrição dos espíritos

 

Locutor - Professor, o ouvinte Ildefonso dos Santos, da Rua 15 de Novembro, nos faz as seguintes perguntas: no “O Livro dos Espíritos” existe uma pergunta no capítulo nove, número 456: “Os espíritos veem tudo que fazemos? Resposta: Podem ver”.

 

Agora pergunto eu: não acha, o senhor, que é um contrassenso os espíritos penetrarem nos nossos atos mais íntimos? Estou falando dos espíritos levianos.

 

J. Herculano Pires - Não acho um contrassenso porque é uma realidade, e uma realidade natural que nós podemos ver aqui mesmo na nossa vida material, na nossa vida corpórea.

 

O senhor não teria nunca dado ouvidos a espíritos levianos encarnados; a pessoas que lhe sopraram instruções negativas, erradas, ou intuições falsas que o levaram a fazer coisas que o senhor não desejaria fazer, mas por instigação delas o senhor as praticou e depois se arrependeu?

 

Nós todos estamos sujeitos a essas interferências de espíritos levianos e irresponsáveis em nossas vidas. E não só espíritos desencarnados, mas também espíritos encarnados. Da mesma maneira por que esses espíritos encarnados nos atingem com as suas palavras e nos envolvem muitas vezes na sua maneira envolvente de falar e de nos arrastar para suas ideias, assim também os espíritos desencarnados com mais facilidade nos sopram as suas ideias.

 

Porque a nossa mente é como um aparelho de rádio. Ela pode pegar as ondas hertzianas do pensamento. Estas ondas podem vir de um cérebro encarnado ou de uma mente desencarnada. Nós recebemos constantemente pensamentos que nos vêm de outras mentes e de outros cérebros. Muitos destes pensamentos passam despercebidos pela nossa cabeça. Mas outros são detidos por nós. A escolha é nossa. Quem manda nas nossas cabeças somos nós, não são aqueles que nos transmitem pensamentos. Nós podemos ligar o nosso aparelho de rádio na estação que quisermos, mas se nós não vigiarmos a nossa mente, deixarmos que ela fique aberta a todas as interferências, então estamos sujeitos a ser prejudicados pelos outros, a perder o controle de nós mesmos e a ser controlados pelos outros. É o que acontece com as pessoas que aceitam pensamentos errados, que elaboram esses pensamentos em suas mentes considerando como de sua propriedade, como nascidos nelas mesmo, e que por fim se extraviam nas suas atitudes, nas suas atividades no mundo por falta de orientação.

 

A falta de orientação provém de nós mesmos. Da nossa incapacidade de nos firmarmos como donos e senhores da nossa mente e da nossa própria orientação.

 

Procuremos, pois, compreender isto e nos lembremos daquele ensino que vem no “O Evangelho segundo o Espiritismo” que diz assim: “Não podemos impedir que um passarinho pouse na nossa cabeça, mas não podemos deixar que esse passarinho faça ninho ali.” Compreendeu bem?

 

Constantemente passarinhos mentais estão pousando nas nossas cabeças. São pensamentos alheios. Mas não podemos impedir que eles passem pela nossa mente. Entretanto, se nós escolhermos um deles, aceitarmos e o acariciarmos, ele fará ninho em nossa mente e poderá produzir grandes consequências prejudiciais para nós.

 

Tratemos, por isso, de manter sempre a nossa estação de rádio mental ligada com uma boa estação, o nosso aparelho de rádio mental ligado com uma boa estação. Uma estação que emita programas de elevação espiritual, de responsabilidade moral. Se fizermos assim os outros pensamentos serão interferências passageiras que não afetarão a nossa conduta.

 

Download Pergunta nº 11: Provação

 

Locutor - Segunda pergunta do nosso ouvinte referente ao capítulo 852 sobre fatalidades. Diz que os espíritos escolhem essa ou aquela prova ao reencarnarem. Então os que não conseguem se casar, mesmo querendo, escolheram também este tipo de prova ou é mesmo falta de sorte?

 

J. Herculano Pires - É claro, é claro que se trata de prova. Porque aquilo que nós chamamos “falta de sorte” não é nada mais do que consequências do nosso próprio destino.

 

Nós todos temos sorte, a grande sorte que Deus nos deu de vivermos e de nos desenvolvermos nas atividades terrenas para que o nosso espírito se aprimore e se prepare com vistas não só a reencarnações mais felizes no futuro como, principalmente, a uma vida espiritual feliz, que é o mais importante. A vida material é passageira, é efêmera, como nós sabemos. Ela passa muito rápida. Nós nos apegamos a ela por falta de compreensão espiritual, porque a nossa vida verdadeira é a vida espiritual, é a vida do espírito. Ora, Deus nos concede as existências passageiras na Terra para que através das coisas mínimas nós possamos conquistar as coisas máximas; através das experiências terrenas nós nos preparemos para viver com mais amplitude a verdadeira vida que é a vida do espírito.

 

No problema do casamento, como em qualquer outra circunstância da vida humana, o que nós temos é sempre um problema de determinação anterior de acordo com as provas que nós escolhemos.

 

Nós, como espíritos, vivendo na vida espiritual, compreendendo, portanto, uma vida maior, vemos ali por nós mesmos o que está nos faltando na nossa evolução para nós atingirmos um plano mais favorável, para nós podermos subir um degrau na nossa escada evolutiva. E ao ver isto, nós escolhemos uma determinada prova. Uma delas pode ser a de não nos casarmos. Nós temos essa prova não apenas como prova, mas como uma oportunidade para nos dedicarmos mais profundamente a outros problemas que nos desafiam através das encarnações sucessivas. E nós devemos então devemos encarar a oportunidade da aparente solidão em que vamos viver no mundo como uma oportunidade na verdade favorável ao nosso desenvolvimento futuro.

 

É para isso que nós passamos pela Terra. E no caso do casamento, como de qualquer outra circunstância, nós não devemos nos esquecer de que não é a sorte ou a falta de sorte, não é o acaso que influi na nossa vida e que determina nossa situação, mas sim a lei de causa e efeitos, a lei de ação e reação que dirige todo o nosso destino e que nos traz à vida terrena com uma determinação escolhida por nós, pelo nosso próprio interesse. Porque na realidade essa provação vai resolver os problemas profundos do nosso espírito que nós, no momento presente aqui na Terra, não somos capazes de ver, mas que quando estamos em estado de espírito, na vida espiritual, enxergamos de maneira perfeita e clara.

 

Download Pergunta nº 12: Pecado

 

Locutor - A ouvinte Ana Lúcia Silveira, do Morumbi, pergunta: já que palavra “pecado” está completamente em desuso, a doutrina espírita tem em seu livro “Leis de Amor” respostas às faltas cometidas pelos encarnados e suas consequências aos escândalos praticados hoje sem a menor cerimônia. Por que nós espíritas não alertamos a tempo, baseados na lei de causa e efeitos, se somos expositores, como o senhor sempre diz?

 

J. Herculano Pires - A palavra pecado praticamente quer dizer erro, incidência numa violação da lei de Deus. Ora, de maneira que, o fato de a palavra não ter hoje o efeito que tinha no passado não quer dizer que ela não possa ter vigência. Mas nós sabemos que no espiritismo todas estas coisas são consideradas dentro do processo da evolução.

 

O maior pecado para um espírita é ele impedir a sua própria evolução ou a evolução dos demais.

 

Qualquer obstáculo oposto no caminho da evolução do espírito é um pecado, no sentido de ser um erro bastante grave e até mesmo um crime, às vezes.

 

Diz a senhora que na doutrina espírita existe o livro “Leis do Amor”. Não é bem assim. “Leis do Amor”, “A Lei do Amor” faz parte do capítulo das leis morais no “Livro dos Espíritos”. Ali no “O Livro dos Espíritos”, nas leis morais, nós encontramos a explicação do problema da lei do amor.

 

Mas o problema da lei do amor, diz a senhora, devia ser explicado por nós espíritas, principalmente por aqueles que são expositores. Na verdade, os expositores têm a função de expor os princípios doutrinários. Mas se a senhora não tem ouvido exposições sobre o problema da lei de causa e efeito e das consequências dos erros que cometemos, principalmente no tocante à lei do amor dentro do espiritismo, é porque certamente a senhora tem ouvido expositores espíritas tratarem de outros assuntos.

 

Se a senhora ouvir este mesmo programa aqui verá que continuamente nós falamos deste assunto. Tratamos deste problema. Porque é um problema fundamental, de importância básica para o espiritismo. Nós todos conhecemos a lei do amor. É a lei suprema do universo. O amor deve, portanto, ser entendido do ponto de vista espírita num sentido, numa perspectiva muito mais elevada do que a perspectiva comum em que o encaramos na Terra.

 

O amor não é apenas o amor de uma criatura por outra. É o amor de Deus pelas suas criaturas! É o amor dos espíritos superiores por todas as criaturas! A lei do amor é a força suprema do universo! É o grande poder criador de Deus! E quando nós amamos, quando nós, criaturas humanas, aprendemos a amar, realmente, nós também nos tornamos criadores como Deus. Não no sentido biológico, mas no sentido espiritual. Criadores de ideias, de imagens, de grandes obras, de gestos e de atitudes heroicas no sentido do heroísmo puro que é o heroísmo da abnegação em favor do próximo.

 

Download O Evangelho do Cristo em espírito e verdade, não segundo a letra que mata, mas segundo o espírito que vivifica. Abrindo o Evangelho ao acaso encontramos em Atos, no capítulo 17 do versículo 1 ao 8, o seguinte: Tendo passado por Anfípolis e Apolônia, chegaram à Tessalônica onde havia uma sinagoga de judeus. Paulo, segundo seu costume, ali entrou e por três sábados discutiu com eles tirando argumentos das escrituras, expondo e demonstrando ser necessário que o Cristo padecesse e ressurgisse dentre os mortos. “Este Jesus que eu vos anuncio, dizia ele, é o Cristo”.

 

Alguns deles foram persuadidos e se associaram com Paulo e Silas bem como uma grande multidão de gregos devotos e não poucas mulheres de qualidade. Porém os judeus movidos de inveja, tomando consigo alguns homens maus dentre o vulgacho, e ajuntando a turba, amotinaram a cidade assaltando a casa de Jason, procuraram-nos para entregar ao povo. Porém, não os achando, levaram a Jason e alguns irmãos à presença das autoridades da cidade clamando: “estes que têm transtornado o mundo chegaram também aqui, aos quais Jason recolheu; todos eles vão de encontro aos decretos de César dizendo haver outro rei, que é Jesus”.

 

A leitura desses versículos 1 ao 8 do capítulo 17 do Livro de Atos dos apóstolos vem a propósito no encerramento deste programa. Nós vemos que a presença de Paulo e Silas em Tessalônica representou um momento bastante importante no desenvolvimento da campanha de propagação do cristianismo no mundo empreendida pelo grande apóstolo dos gentios. Vimos também a coragem, a bravura com que Paulo se apresentava às sinagogas judias, ele que havia sido doutor da lei em Jerusalém, e que havia sido perseguidor do cristianismo, a coragem com que ele se apresentava para defender o próprio cristianismo e afirmar aos judeus de livro nas mãos, com as escrituras judaicas nas mãos, afirmar a eles que Jesus de Nazaré, o crucificado, era na realidade o cristo esperado por Israel.

 

Não podemos imaginar hoje a situação que Paulo criava na sinagoga judaicas com isto, porque era realmente um escândalo fazer uma afirmação desta, e principalmente ele com sua autoridade de doutor da lei, de homem que havia atingido as culminâncias do poder espiritual em Israel, ele aceitar aquilo que para a maioria dos judeus era a farsa do cristo, a farsa que Jesus teria representado ao se apresentar como cristo. A coragem de Paulo era enorme, e Silas, que o acompanhava, partilhava desta coragem com a mesma abnegação e a mesma capacidade de devotamento ao Cristo.

 

O importante é que Paulo tinha que se servir naturalmente de poderosos argumentos para justificar diante dos seus compatriotas e diante dos seus antigos companheiros de religião a sua defecção, o seu abandono da escola judaica para integrar-se na escola cristã que estava nascendo. E Paulo, como vimos, se serve das próprias escrituras; ele vai justificar com os profetas, com os livros em que aparecem anunciação da vinda do messias, ele vai demonstrar que realmente Jesus passou por tudo aquilo que os profetas haviam falado, e que ao passar por aquilo, Jesus confirmara a sua existência natural de Cristo, a sua condição natural de Cristo.

 

Vemos também nesta passagem um ensino, um ensino histórico bastante importante não tocante ao desenvolvimento da espiritualidade na Terra. Nós sabemos que as religiões são formas educacionais, formas pedagógicas através da qual os mestres espirituais vêm ensinando na escola da Terra os homens a caminharem para a espiritualidade. Mas estas religiões se sucedem umas às outras como os anos escolares se sucedem num curso escolar na Terra. E de uma religião vai naturalmente resultar o aprendizado básico para o desenvolvimento do espírito em outra religião seguinte.

 

É assim que das religiões primitivas, passando para as religiões das formas civilizadas do mundo nas civilizações sucessivas que a história nos apresenta, os homens vão subindo pouco a pouco no conceito de Deus, na ideia que fazem da sua própria natureza, da sua existência na Terra, da sua vida terrena e das consequências que os seus atos na Terra terão na vida futura no espaço.

 

Nós podemos ver isto na própria transição do judaísmo para o cristianismo. Quando lemos as escrituras judaicas que são apresentadas em nosso mundo cristão através da Bíblia; quando lemos esses livros bíblicos com suas diversas formas de expressão e trazendo-nos informações não somente espirituais, mas históricas, materiais sobre o costume dos povos daqueles tempos e as atividades religiosas que desenvolviam, e quando confrontamos isso com os ensinos de Jesus, com o trabalho espiritual que ele realizou junto das almas e não apenas dos homens, nós vemos a grande diferença, o grande passo que o mundo deu ao passar da era judaica para a era cristã.

 

Paulo foi praticamente o artífice dessa transição. Ele realizou um trabalho profundo no sentido de demonstrar que ao contrário do que pensavam os judeus a glória de Deus não reside na glória falsa dos homens. E que justamente por isso o Cristo não devia aparecer como o indivíduo investido de autoridade, de poderes temporais, como esperavam os judeus, para que então, através desse poder e dessa autoridade, se impusesse ao mundo; mas pelo contrário, a glória de Deus se tece daquelas coisas que os homens desprezam, as coisas que para os homens são humilhações e não glória.

 

E por isso o Cristo teria que padecer e de morrer na cruz, considerado como uma criatura ignominiosa, submetido a mais ignominiosa das condenações que havia na época. Tinha de passar por isso para mostrar que baixando ao último na escala dos homens, ele subiria depois através da ressurreição, ao ápice da evolução na escala espírita, na escala dos espíritos, do mundo espiritual. A divindade do Cristo não se afirmaria, portanto, como esperavam enganosamente os judeus, não se afirmaria através dos seus poderes terrenos, mas sim das suas virtudes celestes.

 

E é Paulo, este mesmo Paulo que faz essa afirmação aos judeus, que ele depois irá nos fazer as afirmações constantes da epístola aos coríntios, a primeira epístola em que ele apresenta a ressurreição do Cristo como aquela mesma ressurreição pela qual nós todos passaremos: a ressurreição do espírito em espírito e verdade no corpo espiritual após a morte do corpo material. Este ensino, portanto, de Paulo em Tessalônica ressoa ainda em nossos corações e em nossas consciências neste momento em que o cristianismo redivivo se ergue dentro de nós, diante de nós, em nós mesmos e fora de nós, na nossa presença, no desenvolvimento da era do espírito em nossa Terra.

 

Amigos ouvintes, aqui nos despedimos com os votos de estudo e trabalho, compreensão e amor para a próxima semana. Dia a dia, hora a hora, minuto a minuto, estejamos empenhados na construção da era do espírito.

 

No Limiar do Amanhã: um convite ao futuro.

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