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heculano microfone

J.Herculano Pires foi comunicado que Roberto Montoro, proprietário da Rádio Mulher, pretendia colocar na programação da emissora um programa espírita semanal, com a duração de uma hora. E mais: desejava fosse o programa estruturado e apresentado por ele.  O apóstolo de Kardec aceitou o convite, pois lhe fora assegurado que teria a mais ampla liberdade, “podendo tratar do espiritismo em todos os seus aspectos, sem restrição, e responder a qualquer pergunta” dos ouvintes.

No Limiar do Amanhã ia ao ar aos sábados à noite e obteve sucesso imediato em São Paulo. A Rádio Mulher passou a reprisá-lo aos domingos, pela manhã. A Rádio Morada do Sol, de Araraquara e a Rádio Difusora Platinense, de Santo Antônio da Platina, no Paraná, retransmitiram-no, também, com expressiva audiência. O vigoroso programa prestou inestimável serviço à doutrina espírita durante três anos e meio. Herculano Pires, obviamente, jamais aceitou da Rádio Mulher qualquer espécie de remuneração.

Nesta seção do site, você vai poder ouvir os áudios originais dos programas, e também ler o texto  integral da transcrição.

 AGRADECIMENTOS

A Fundação Maria Virgínia e J. Herculano Pires agradece a todos os que colaboraram com a criação do acervo desta seção, doando gravações dos programas, em especial a Aldrovando Góes Ribeiro, Maria de Lourdes Anhaia Ferraz e Miguel Grisólia.

 

 

No Limiar do Amanhã: um desafio no espaço.

 

É tempo de amadurecer. As humanidades amadurecem nos mundos. Chegou a hora de maturação da humanidade terrena. A criança despe a roupagem da inocência para vestir a toga viril. O homem de hoje despe a roupagem ilusória das crenças para vestir a toga da razão. É preciso encarar a realidade face a face, porque a realidade é mais bela do que todos os sonhos.

 

Até agora o homem dormiu na matéria e sonhou com o espírito. Mas agora ele acorda e vê o espírito à sua frente como um sonho que se fez real. Os cientistas soviéticos materialistas proclamam a beleza esplendente do corpo bioplástico do homem. No mundo inteiro os físicos se deslumbram com a descoberta da antimatéria. O espiritismo se impõe como a religião científica na idade da razão. Não estamos no tempo das hipóteses, mas no tempo das provas. Do ceio opaco da matéria, o espírito explode como uma alvorada celeste.

 

O Brasil lidera a marcha do mundo para a era do espírito. Agora mesmo se reúne na Bahia o III Congresso Espírita do estado. Na Bahia nasceu o Brasil, na Bahia nasceu o espiritismo brasileiro. De 27 a 30 deste mês os espíritas baianos estarão reunidos em Salvador para o grande congresso. Não vão tratar de crenças e suposições, mas traçar planos e ações para a batalha final do espírito. Delegações de todo Brasil estarão presentes na Bahia de Todos os Santos para tratar dos interesses reais de todos os homens. O Brasil espírita está de pé na Bahia com os olhos no futuro.

 

O III Congresso Espírita da Bahia será mais um marco da era espírita no Brasil e no mundo. Os delegados paulistas, paranaenses, catarinenses, gaúchos se aprestam para participar do grande acontecimento. Não haverá solenidades retumbantes nem figurações materiais. Haverá estudos, debates, decisões que balizarão a marcha do espiritismo no correr do ano próximo. Vibremos com os espíritas baianos enviando-lhes a saudação fraternal do país do sul, como dizia Castro Alves.

 

No Limiar do Amanhã um programa desafio. Produção do grupo espírita Emanuel. Transmissão número 89. Segundo ano. Direção e participação do professor Herculano Pires.

 

Amigo ouvinte, aqui estamos de novo com as mensagens do amanhã. Não tenha dúvidas, amigos, o amanhã é sempre o melhor. Dia-a-dia crescemos para a espiritualidade e avançamos para o infinito. Ouça-nos todas as semanas neste dia e neste horário ligando seu receptor para a Rádio Mulher de São Paulo 730 kHz, para a Rádio Morada do Sol de Araraquara 640 kHz, e para a Rádio Difusora Platinense de Santo Antônio da Platina, estado do Paraná 780 kHz. Todas as semanas neste dia e neste horário.

 

O espiritismo é uma doutrina de três aspectos que abrange a ciência, a filosofia e a religião. Não pode e não deve ser praticado sem conhecimento, sem estudo. Por isso daremos a você, amigo ouvinte, conforme os termos e o assunto da sua pergunta um livro que o ajudará a compreender melhor a nossa resposta. Livro é presente de amigo, mas livro espírita é presente de irmão. Preste atenção no presente de irmão que lhe dermos e vá buscá-lo a partir de segunda-feira dentro do horário comercial no escritório da Rádio Mulher à Rua Barão de Itapetininga, 46 – 11º andar, conjunto 1.111. Os ouvintes do interior receberão os seus livros pelo correio. Essa é uma promoção da Rádio Mulher e das editoras espíritas de São Paulo: GEEM, do grupo espírita Emanuel, Edicel, Edigraf e LAKE.

 

Atenção! O ouvinte só tem direito ao livro que for indicado na resposta como presente de irmão. Os livros apenas citados para indicação de fontes não devem procurados. Procure apenas o seu presente de irmão e trate de lê-lo o quanto antes. Livro guardado não ensina ninguém. Aprenda lendo.

 

Os ouvintes que não retiraram os livros oferecidos pelo programa os quais estão à disposição no escritório da rádio mulher à Rua Barão de Itapetininga, 46 – 11º andar, conjunto 1.111. São eles: o senhor José Olavo, José Carlos Isaias, Antônio Terenzo, Jader Frutuoso, Francisco Carlos Domingues, Gentil Belara, Herber Cremer, Adão Trindade, Antônio Barbosa Albuquerque, José Carlos, da Rua Afonso Vergueiro, e Diva Nazaré. Esses ouvintes deverão passar no escritório da Rádio Mulher à Rua Barão de Itapetininga, 46 – 11º andar, conjunto 1.111, e retirar o seu presente de irmão.

 

Perguntas e respostas.

 

As perguntas por carta devem ser dirigidas à Rádio Mulher: Rua Granja Julieta, 205, travessa da avenida Santo Amaro, São Paulo. Não faça relatório, faça perguntas. Durante a semana no horário comercial você pode fazer suas perguntas pelos telefones: 269-4377 ou 269-6130. Ouça as respostas pela Rádio Mulher de São Paulo, 730Khz, pela Rádio Morada do Sol de Araraquara, 640khz, e pela Radio Difusora Platinense, de Santo Antônio da Platina, Paraná, 780Khz. Todas as semanas, neste dia e neste horário.

 

Continuamos respondendo ao nosso ouvinte.

 

Pergunta nº 1: Tubo de ensaio

 

Locutor - B. A. de Souza da Rua A, Santo Amaro. Ele pergunta: um corpo criado num tubo de ensaio teria espírito? Como seria visto do ponto de vista espiritual?

 

J. Herculano Pires - Um corpo criado num tubo de ensaio certamente poderá ter um espírito se as condições em que ele se formou forem adequadas à manifestação da vida e ao procedimento da existência do espírito na carne. Entretanto, não podemos afirmar nada disto com certeza, porque estamos ainda no tempo das experiências a respeito deste assunto.

 

Ao que parece, pelo que já se verificou na pesquisa, tem havido realmente a possibilidade de desenvolvimento da criança no tubo de ensaio. Se isso acontecer é porque o espírito encarnou-se ali. Ele pode se encarnar em qualquer lugar onde um corpo se desenvolva apto a recebê-lo. Não precisa ser apenas na condição comum, habitual, normal, que é o ventre da mãe. Pode também realizar-se num instrumento apropriado, realizado, organizado num laboratório de ciências. Admito, portanto, que poderá ser possível.

 

 

Download Pergunta nº 2: Sonhos

 

Locutor - Quando sonhamos com alguém e vivemos um acontecimento juntos, a pessoa com quem sonhamos sonha também?

 

J. Herculano Pires - Quando isso acontece nós temos uma prova de que durante o sono as duas pessoas se encontraram na vida espiritual, desde que, naturalmente, elas tenham lembranças precisas daquilo que conversaram, daquilo que promoveu esse encontro, que provocou essa oportunidade.

 

Entretanto, isto não é comum; isto é bastante raro.

 

 

Download Pergunta nº 3: Nostradamus

 

Locutor - E por último, pergunta o nosso ouvinte: “fale alguma coisa sobre Nostradamus”.

 

J. Herculano Pires - Aliás, não está perguntando, está mandando falar. Não é? Pois bem, Nostradamus, como nós sabemos, foi uma espécie de profeta. Digo uma espécie de profeta porque ele não se enquadra no tempo das profecias, ele veio posteriormente. Nós sabemos que há uma era profética bem determinada do ponto de vista histórico que abrange não só a Palestina, mas também os países do oriente. Nessa era profética houve então um verdadeiro surto de profecia em todo mundo.

 

Nostradamus veio posteriormente. Ele foi um profeta europeu, francês, e na verdade as suas profecias ainda hoje são muito discutidas, muito apreciadas e interpretadas por várias maneiras. Muito mais confuso, muito mais simbólico, muito mais cheio de fantasias, podemos assim dizer, do que aquelas que encontramos nos profetas hebraicos, Nostradamus oferece oportunidade para as interpretações mais diversas. Isso tem dado muita confusão a respeito desse profeta moderno, desse profeta que na verdade pertence ao nosso tempo e não no tempo das profecias.

 

Muitas interpretações foram feitas, inclusive aqui em São Paulo, numa tradução das Centúrias de Nostradamus, porque ele fez suas profecias em forma poética e as colocou na forma clássica das centúrias; ele profetiza muitas coisas que, segundo este livro publicado aqui em São Paulo há tempos, se relacionariam com a própria história do Brasil.

 

Vemos que a adaptação feita à história do Brasil em certas passagens dá mesmo a impressão de uma validação absoluta. Em outras, não. Por outro lado, houve uma pessoa que interpretou também as profecias de Nostradamus como aplicadas a ela mesma; ela seria a figura indicada ali no livro de Nostradamus. E interpretou isso baseando-se em certas alegorias de Nostradamus que concordava com o seu nascimento aqui no Brasil.

 

Tudo isso nos mostra que as profecias de Nostradamus, tão famosas e tão citadas como exatas em vários pontos, na verdade são consideradas exatas de acordo com a interpretação pessoal de cada um.

 

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Pergunta nº 4: Roustaing

 

Locutor - Professor, o senhor Plínio de Campos, da Av. Garcia de Ávila, faz várias perguntas. Quem foi Roustaing?

 

J. Herculano Pires - Roustaing foi um advogado francês, da cidade de Bordeaux, que tendo certa vez adoecido, depois de se projetar na vida e na sua profissão como um brilhante advogado, tendo adoecido seriamente foi recolhido a um hospital. Ao sair deste hospital, ele se sentia bastante fraco e em condições difíceis de reencetar as suas atividades profissionais. Nessa ocasião caiu-lhe nas mãos “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec. Ao ler este livro, Roustaing ficou empolgado pela visão nova que este livro oferecia da vida humana na Terra. Mas não concordou com a posição de Kardec no tocante à figura do Cristo. Então ele entendeu que faltou a Kardec uma revelação especial sobre a natureza do Cristo. E como ele se chamava Jean-Batista Roustaing, ele fez uma prece juntamente com um médium e pediu ao espírito de João Batista que viesse lhe esclarecer alguma coisa a respeito da natureza do Cristo.

 

Imediatamente, o espírito de João Batista apareceu e, comunicando-se com Roustaing, deu-lhe uma teoria fantasiosa sobre a natureza de Jesus, teoria essa que constitui a base da sua obra.

 

Logo a seguir vieram outros apóstolos seguidores de Jesus, inclusive Moises, e outras figuras bíblicas, a também trazerem informações sobre a vida de Jesus na Terra.

 

Todas essas informações, bastante fantasiosas, foram aceitas por Roustaing. A médium principal que serviu para ele foi à senhora Collignon, que era uma figura de destaque no meio cultural francês, esposa de um grande juiz, mãe de outro juiz que também tinha fama na França, mas essa senhora não aceitou a realidade daquilo que recebia. Ela desconfiou dos espíritos, achou-os mistificadores e rejeitou a obra. Não obstante, Roustaing cada vez mais empolgado com as comunicações que recebia, que ele considerou revelações do mais alto sentido, Roustaing prosseguiu e organizou uma obra volumosa de quatro volumes, publicada inicialmente apenas em três, mas depois mais tarde, principalmente aqui na tradução brasileira dividida em quatro volumes para tornar mais cômoda sua leitura; e fez desta obra aquilo que ele chamou “a revelação da revelação”, quer dizer, uma revelação nova que vinha esclarecer a revelação recebida por Allan Kardec.

 

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Pergunta nº 5: Obras de Roustaing

 

Locutor - Suas obras são consideradas espíritas cristãs?

 

J. Herculano Pires - Não. As obras de Roustaing, para todos aqueles que conhecem realmente o espiritismo, que se interessam seriamente pela doutrina, são simplesmente obras de mistificação.

 

Estas obras no seu conjunto representam aquilo que podemos dizer no singular uma obra de mistificação. Assim, nós encontramos no Brasil alguns núcleos espíritas que aceitam essa obra de Roustaing, mas estes núcleos estão colocados fora daquilo que nós chamamos a linha segura, séria de orientação espírita que provem de Kardec.

 

Infelizmente, a Federação Espírita Brasileira aglutinou em seu seio um grupo de roustainguistas que acabou dominando-a, empolgando a sua direção. Assim tornou-se uma instituição roustainguista aprovando a obra de Roustaing. Não obstante, não conseguiu impor essa obra ao espiritismo brasileiro.

 

As federações estaduais, a partir daquela que está mais próxima dela que é a Federação Espírita do Estado do Rio, em Niterói, e de lá para cá, abrangendo todo sul do país, todas as demais federações espíritas repelem a obra de Roustaing; consideram essa obra como uma mistificação e sustentam a realidade da codificação de Allan Kardec. Download Pergunta nº 6: Obras de Sayão e Bittencourt Locutor - As obras de Antonio Luiz Sayão e de Bittencourt Sampaio são reconhecidas como da linha Kardec? J. Herculano Pires - Não. Tanto Luiz Sayão como Bittencourt Sampaio são roustainguistas. Entretanto, é preciso compreender o seguinte: os Roustainguistas não deixam de ser kardecistas; eles seguem, naturalmente, a opinião de Roustaing no tocante àqueles pontos em que Roustaing discorda de Kardec, mas eles adotam Kardec no sentido geral, o que prova que a codificação de Kardec é a base mesmo do espiritismo, pois a codificação suposta de Roustaing não chega a empolgar as pessoas para que se afastem definitivamente de Kardec.

 

Entretanto, e justamente por isso, tanto Antonio Luiz Sayão quanto Bittencourt Sampaio são dois escritores espíritas que, pelo simples fato de aceitarem Roustaing, não deixam de ser espíritas. O que acontece com eles no caso de aceitação de Roustaing é terem cometido uma falta, um erro de interpretação da doutrina, mas não deixam de ser espíritas, e deram a sua contribuição para o espiritismo dentro das suas possibilidades.

 

 

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Pergunta nº 7: Linha da Federação

 

Locutor - Qual é a opinião base da Federação Espírita do Estado de São Paulo a respeito do corpo de Jesus Cristo?

 

J. Herculano Pires - É precisamente a opinião de Alan Kardec. A Federação Espírita do Estado de São Paulo é kardecista. Houve na Federação Espírita do Estado de São Paulo um tempo em que criou-se uma espécie de dúvida a respeito da sua posição doutrinária. Não que ela aceitasse Roustaing, mas por alguns outros desvios que foram ali implantados pela sua direção de então. Mas isso já passou, a Federação consolidou-se posteriormente, firmando a sua linha doutrinária que segue até agora e seguirá para o futuro, cada vez com mais firmeza, porque seus atuais diretores realmente compreendem a necessidade de imprimirem à Federação com uma orientação segura no campo do espiritismo.

 

Ela é kardecista e, portanto, encara Jesus como um espírito superior que se encarnou na Terra para cumprir uma missão divina.

 

 

Download Pergunta nº 8: Guia de Antônio Luiz Sayão

 

Locutor - O espírito de Frei José dos Mártires, guia de Antônio Luiz Sayão, pode ser considerado pseudossábio?

 

J. Herculano Pires - Não conheço nada deste espírito, nenhuma das suas possíveis obras mediúnicas ou daquilo que ele ensinava ao Antônio Luiz Sayão. Não posso dizer, portanto, que se possa considerá-lo assim. Não tenho nenhuma informação para isso. Por exemplo, pelo fato de Luiz Sayão ter sido roustainguista também não implica numa suspeita de que esse espírito de Frei José dos Mártires pudesse ser um espírito mistificador. Não, porque o espírito-guia muitas vezes não corrige imediatamente o seu protegido, preferindo que ele encontre por si mesmo, nas suas próprias experiências, o erro em que caiu. Não posso, em todo caso, dar uma opinião a respeito disso.

 

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Pergunta nº 9: Definição de trindade

 

Locutor - Qual a definição exata da trindade segundo o espiritismo?

 

J. Herculano Pires - De acordo com “O Livro dos Espíritos”, a trindade universal se constitui de Deus, espírito e matéria. São estes, por assim dizer, os três elementos fundamentais do universo. Deus, espírito e matéria.

 

Assim, nós temos uma trindade que não é simbólica, não é alegórica, não é fictícia; é uma trindade real que constitui os fundamentos de toda estrutura do universo. Entretanto, nós sabemos que, gerado desta própria existência natural destes elementos fundamentais, houve um mito da trindade que aparece em quase todas as grandes religiões. Este mito da trindade em cada religião toma a sua forma própria de acordo com a cultura em que nasce, com a concepção daqueles que a professam, que a propagam.

 

De maneira que essa trindade que aparece nas religiões é para o espiritismo o reflexo humanizado, poderíamos dizer assim, num processo anímico da trindade real, que consta dos três elementos fundamentais do universo.

 

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Pergunta nº 10: Definição de Espírito Santo

 

Locutor - Qual a definição exata do Espírito Santo segundo o espiritismo?

 

J. Herculano Pires - O espírito santo é aquilo que nós chamamos o espírito da verdade, é o espírito iluminador, o espírito que procura trazer para os homens o esclarecimento de todas as questões com que ele se debatem aqui na Terra com referência ao seu destino e à vida espiritual que eles terão de viver.

 

Nós sabemos, por exemplo, que toda Bíblia está cheia desta referência ao espírito. Na verdade, nós não encontramos na Bíblia a designação de espírito santo, mas sim o espírito. A todo momento os textos bíblicos nos falam do espírito que se manifestou em tal lugar, do espírito de Deus que derramará sobre o povo, como na profecia de Joel, e assim por diante. Mas, no evangelho aparece na tradução latina, e consequentemente nas traduções das línguas latinas, a expressão “espírito santo”. Muitas vezes essa expressão resulta do adicionar-se o designativo santo à palavra espírito, que é o único que figura muitas vezes no próprio texto evangélico. De qualquer maneira, o que se sabe é o seguinte: existe o espírito como elemento fundamental do universo. Existe o espírito como a individualização deste princípio fundamental que vai se manifestando em formas sucessivas até aparecer no homem e depois nos anjos, nas entidades superiores em que o homem vai se transformar. Este espírito se comunica com os homens e traz mensagens esclarecedoras e orientadoras para estes. Assim, aquilo que se chama o Espírito Santo para o espiritismo é o espírito que se manifestou a Allan Kardec com o nome de a Verdade e que foi profetizado pelo Cristo como podemos ver, principalmente, no evangelho de João, quando ele anunciou que pediria ao pai para que o pai enviasse à Terra o Espírito da Verdade a fim de esclarecer todos os seus ensinos e levar aos homens toda verdade.

 

 

Download Pergunta nº 11: Divergência sobre o corpo de Jesus

 

Locutor - Essas divergências sobre o corpo de Jesus Cristo não é prejudicial ao espiritismo?

 

J. Herculano Pires - Todas as divergências doutrinárias, quando não são consideradas dentro daquilo que Kardec chamava o crivo da razão, quando não são passadas, portanto, pelo crivo da razão, tornam-se prejudiciais. Mas na verdade, o fato de haver divergências, este fato em si não é prejudicial. Por quê? Porque é duvidando, pondo em dúvida as coisas, e submetendo-as a debates, aos estudos, é que nós podemos chegar a conclusões verdadeiras. De maneira que, não obstante haja esta divergência no espiritismo, ele não deixa por isso de progredir e de se desenvolver, levando principalmente o homem a raciocinar melhor sobre todos os problemas com que se defronta.

 

Download Comentário J. Herculano Pires - Antes de prosseguirmos com as perguntas, eu queria fazer ainda uma pequena consideração a respeito das perguntas do senhor Plínio de Campos, da Avenida Garcia de Ávila, principalmente no tocante às suas referências a Roustaing e aos roustainguistas.

 

Não é apenas Roustaing que aparece, no meio espírita e no movimento espírita, como um elemento de tropeço, uma espécie de pedra de tropeço colocada na frente daqueles que estudam a doutrina. Há outras formas de mistificação até mais recentes, como no caso de Ramatis, que estão também sendo semeadas fartamente no meio espírita. E contra essas formas de deturpação da doutrina, de mistificação, cuja tentativa final é a ridicularização do espiritismo, algumas chegando mesmo, como no caso de Roustaing, a ridicularizar a própria figura do Cristo, a figura de Maria e também o cristianismo em si, contra essas formas é preciso que haja sempre um espírito alerta de parte daqueles que se dedicam ao espiritismo.

 

Kardec não se cansou de dizer que espiritismo é, sobretudo, uma questão de bom senso. Nós não podemos nos deixar levar por tolices e por aquilo que o apóstolo Paulo já chamava nas suas pregações do início do cristianismo de fábulas. Dizia ele que não podíamos tornar as fábulas por verdades. Assim acontece no meio espírita. A propósito, eu vou aproveitar a presença aqui no nosso estúdio do nosso companheiro Jorge Rizzini e convidá-lo para trazer ao nosso microfone um soneto psicograficamente por ele recebido de Cornélio Pires. Cornélio Pires, com seu humor caipira tão bem conhecido, nos dá um bom conselho a respeito desse assunto.

 

 

Jorge Rizzini - Aliás, meu querido Herculano Pires, esse soneto do Cornélio Pires que, aliás, é primo seu, aliás, é primo de segundo grau ou primeiro grau, Herculano?

 

J. Herculano Pires - Segundo.

 

Jorge Rizzini - Segundo grau.

 

Mas esse soneto do Cornélio Pires é uma lição para todos esses médiuns que não gostam de ler e dizem mesmo que o espírito guia sabe tudo, e sabendo tudo o espírito guia, o médium não precisa ler.

 

É exatamente um absurdo o que esses médiuns dizem, mesmo porque o espírito da verdade deu um mandamento para os espíritas dizendo: “Espíritas, instrui-vos”. Quer dizer, o médium, principalmente o médium, tem que ler, tem que saber o que é mediunidade, tem que conhecer a doutrina em profundidade. Porque não estudando vai acabar fatalmente na obsessão.

 

É claro que não é o espírito guia que diz ao médium “não leia, eu respondo tudo”. Ora, o espírito guia orienta seu médium, quer que seu médium se instrua, conheça as verdades, de modo que todo espírito que aconselhar o médium a não ler, estamos diante não de um espírito guia e sim de um obsessor.

 

E o soneto então de Cornélio Pires é uma advertência a todos os médiuns que se recusam a estudar as obras básicas da codificação, as obras básicas de Kardec.

 

O soneto, meu querido Herculano, diz assim e se intitula “Zé Pavão”:

 

Morreu Zé Pavão, médium obsedado, seu velho obsessor sempre lhe dizia:

 

Alan Kardec está já superado!

 

E ler o Evangelho? Isso é mania!

 

Você, Pavão, nasceu iluminado

 

e eu sou sábio hindu, seu grande guia.

 

Apontemos ao mundo o que é errado.

 

Abaixo meu Pavão a velharia.

 

E Zé Pavão jogou Kardec fora.

 

E assim foi indo até que veio a hora.

 

Um dia quando estava em alta escada

 

o obsessor em verdade um botocudo

 

aplicou-lhe feroz um bom cascudo

 

e Zé Pavão morreu de cabeçada.

 

J. Herculano Pires - Muito bem, Rizzini. Obrigado pela sua participação e este soneto de Cornélio Pires vem bem mesmo em cima do assunto.

 

E eu queria lembrar também, nessa ocasião, que esse soneto pertence à “Antologia do mais além”. É um livro de Rizzini com psicografias de poesias de vinte e dois poetas, portugueses e brasileiros, que deverá ser lançado dentro de uma ou duas semanas pela editora LAKE.

 

Pergunta nº 12: Parábola da figueira seca

 

Locutor - Professor, o senhor Francisco Domenico, da Rua Maria Paula, quer saber como o senhor explica a parábola da figueira seca.

 

J. Herculano Pires - A parábola da figueira seca tem duas apresentações no evangelho e por isso mesmo dá motivo a várias interpretações. Mas na verdade as interpretações vão além daquelas que constam do Evangelho.

 

Por exemplo, nós encontramos em Matheus e Marcos essa parábola na forma de um fato real. Não aparece como parábola. É um episódio da vida de Jesus. Conta Marcos que Jesus passando pela estrada e sentindo fome dirigiu-se à figueira, mas não era tempo de frutos, consequentemente a figueira não poderia dar frutos, não poderia ter frutos naquele momento. E que Jesus amaldiçoou-a para que ela secasse. E ela realmente secou.

 

Este mesmo episódio nós vemos repetido em Matheus. Eu digo repetido em Matheus porque a ordem canônica dos evangelhos, essa ordem com que nos é apresentada não está certa. O evangelho primeiro de acordo com todas as pesquisas históricas foi o de Marcos. Consequentemente o de Matheus é um evangelho que segue o de Marcos e de certa maneira decalcado nele.

 

Assim, essa parábola da figueira que aparece em Matheus vem, exatamente, do evangelho de Marcos. Mas nestes dois evangelhos a parábola é apresentada em forma de episódio real com uma finalidade: a de mostrar o poder da fé.

 

Tanto Marcos como Matheus acentuam isto: que Jesus depois, disse mesmo, aos discípulos que a figueira havia secado pela sua ordem como também muitas outras coisas poderiam ser feitas por quem tivesse fé. Quer dizer, Jesus então teria dado um exemplo do poder da fé fazendo secar essa figueira.

 

Apesar disso, essa parábola tem dado muita preocupação aos exegetas, aos interpretadores do evangelho, que acham estranho ter Jesus cometido um ato deste apenas para dar um exemplo aos discípulos quando poderia fazê-lo sem o sacrifício de uma árvore, que não tinha culpa nenhuma de não dar frutos naquela ocasião, porque não era tempo de frutos.

 

Parece que vem dirimir essa questão o trecho de Lucas, no evangelho de Lucas, que nos apresenta então a parábola da figueira. Ali sim o caso da figueira não é relatado como um fato, mas sim como uma parábola. Vemos Jesus contando a parábola da figueira que vai dar frutos, que vai dar – não que não dava frutos. Modifica-se a situação, modifica-se o quadro, e Jesus então apresenta a figueira e refere-se também as demais árvores como uma forma de acentuar nos discípulos a esperança do reino de Deus. Diz ele que o reino de Deus vem chegar à Terra, e que assim, como a figueira quando começa a dar os seus brotos anuncia a proximidade do verão, assim também, nós, que sabemos compreender este anúncio da figueira, devemos compreender nos acontecimentos do mundo que nos cercam, os anúncios da vinda do reino de Deus.

 

Esta é uma interpretação da parábola dada pelo próprio evangelho de Lucas. Há pessoas, naturalmente, intérpretes diversos que consideram a parábola da figueira seca como a indicação de que os médiuns que não produzem, os cristãos que não dão frutos, aquelas criaturas que estudam o evangelho ou estudam o espiritismo e não aprendem a praticá-lo, são como a figueira que acabará secando por não dar frutos e não ter valor nenhum.

 

Esta já é uma parábola atribuída, portanto, àqueles que interpretaram posteriormente o evangelho. Mas a interpretação que consta do evangelho é essa não referente à figueira seca, mas sim à figueira que vai começar a dar fruto e que anuncia isso através dos seus brotos.

 

Me parece que nós estamos diante de um problema difícil, de solução assim positiva como geralmente se deseja. Muitas pessoas querem que nós respondamos a essas perguntas dando uma definição precisa. Não, isto deve ser interpretado assim e não assado. As coisas se passam assim e não de outra maneira. Não é o caso. Nós temos de compreender que estamos diante de textos antigos, muito antigos, e textos escritos por diversos autores, cada qual referindo-se a determinado fato. Há certas pessoas que pretendem dar validade apenas à parábola da figueira que aparece no evangelho de Lucas pelo fato de saberem que Lucas andou pesquisando para escrever o seu evangelho, e que foi inclusive conversar com Maria que ainda existia na época, ainda vivia na cidade de Éfeso e com a qual ele obteve muitas informações sobre a vida de Jesus.

 

Considero então que essa passagem de Lucas é valida, enquanto a de Marcos e de Matheus representam apenas interpretações errôneas da parábola interpretada como um fato real. Por outro lado, é preciso considerar que existem muitas passagens dos evangelhos que aparecem como fatos reais e que na investigação histórica nos mostram sua face diferente; eles são ensinos de Jesus, parábolas, que foram mais tarde interpretados como acontecimentos.

 

Por isso é que o estudo do evangelho e sua compreensão exigem sempre muito cuidado e muita atenção. E foi por isso que Kardec, ao escrever “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, ele fez questão de deixar de lado uma porção de fatos puramente históricos ou mesmo não históricos porque fabulosos referidos nos evangelhos que ele achou que não correspondiam com a realidade essencial do ensino de Jesus. E por isso no “Evangelho Segundo o Espiritismo”, ele aproveitou apenas o ensino moral de Jesus, para fazer deste ensino uma bandeira, como ele diz, indiscutível sobre a qual podem se acolher todas aquelas pessoas que desejarem realmente compreender as lições que Jesus nos deixou na Terra.

 

 

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Pergunta nº 13: Sobre os planetas

 

Locutor - O ouvinte Luis A. Visin Tarien, da rua Gembassú, São Paulo, nos escreve fazendo as seguintes perguntas: Nós que atualmente estamos na Terra nascemos aqui mesmo ou teríamos vindo de outro planeta?

 

J. Herculano Pires - Nós sabemos pelas informações dos espíritos que a população atual da Terra – e este é o princípio que os ouvintes podem encontrar no “O Livro dos Espíritos” –, essa população que não se compõe apenas dos elementos oriundos do próprio planeta.

 

Por quê? Porque a humanidade terrena, como nós sempre temos dito aqui, pertence à humanidade cósmica. A humanidade não é apenas terrena. Ela é cósmica, ela habita o cosmos, habita, portanto, numerosos planetas no infinito, e sendo assim existe entre os planetas aquilo que se chama a migração de espíritos.

 

Espíritos de certos mundos são às vezes transferidos para outros de acordo com as suas necessidades evolutivas e de acordo com as necessidades de evolução dos próprios mundos em que estão.

 

Assim nós não podemos dizer que nós todos na Terra somos oriundos aqui da própria Terra. Não. Houve migrações de espíritos, o transplante – como hoje se costuma dizer – de verdadeiras levas de espíritos de outros mundos para a Terra. Emmanuel, por exemplo, em “A Caminho da Luz”, ele nos fala da migração dos capelinos, ou seja, dos habitantes do planeta chamado Capela na constelação do Cocheiro, que é, de acordo com as indicações de Emmanuel, um planeta muito semelhante à Terra; e dizer que este planeta ao passar pela fase de transição que a Terra está agora passando a fim de se transformar de mundo de provas e expiações em mundo de regeneração, este planeta tinha uma grande parte de sua população que não podia se adaptar às novas condições do planeta. Então essas legiões de espíritos foram transportadas para a Terra e aqui se radicaram.

 

Assim nós vemos que da população terrena existem aqueles que fazem parte, que evoluíram aqui porque fazem parte das próprias origens do planeta, mas existem também aqueles que vieram depois. Da mesma forma nós podemos comparar assim o que aconteceu, por exemplo, no Brasil. O Brasil tinha sua população indígena que, ao menos do ponto de vista do nosso conhecimento imediato, era a população natural do continente que habitamos, mas depois da descoberta pelos portugueses, numerosas migrações de povos de outras terras vieram para cá e desenvolveram uma nova população. Assim aconteceu na Terra de acordo com as informações espirituais. E justamente por isso nós sabemos que não podemos dizer quais são aqueles povos – embora haja também teorias a respeito disso – quais são aqueles povos que realmente pertencem à origem do planeta e quais aqueles que vieram depois.

 

 

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Pergunta 14: Consciência de Jesus sobre a decadência das religiões

 

Locutor - Jesus Cristo, naquele tempo que veio à Terra em sua evolução fabulosa, já previa ou tinha noção da decadência das religiões dogmáticas como, por exemplo, o catolicismo?

 

J. Herculano Pires - Isto ressalta do seu próprio ensino. Quando Jesus falou, por exemplo, à mulher samaritana, ele ensinou a esta mulher que viria o tempo em que os verdadeiros adoradores de Deus não precisariam ir adorá-lo no templo de Jerusalém nem no templo do monte Garizim, onde os samaritanos, que eram dissidentes dos judeus, realizavam as suas cerimônias religiosas. E ele acrescentou: porque esses adoradores o adorarão, quer dizer, adorarão a Deus em espírito e verdade. Assim Jesus anunciou a religião em espírito e verdade que viria substituir as religiões dogmáticas.

 

E este ensino de Jesus ainda mais se acentua quando nós vemos as suas divergências com os fariseus, quando ele condena violentamente até em certos trechos do evangelho as expressões e as ordenações puramente formalistas dos fariseus, para ensinar que o que vale no campo sentimento religioso e, portanto, no campo da religião, é a essência e não a forma e, portanto, o pensamento do homem, o seu sentimento, a sua intenção, a sua compreensão espiritual, e não as práticas rituais a que ele se entregue.

 

Assim está bem claro que Jesus previu e anunciou essas transformações.

 

 

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Pergunta 15: Comunicação de mais de um espírito

 

Locutor - Um médium pode receber manifestação de três ou mais espíritos ao mesmo tempo?

 

J. Herculano Pires - Há ocasiões em que as manifestações mediúnicas revelam fenômenos desta natureza. Não digo três ou mais ao mesmo tempo, mas pode receber mensagens simultâneas. Por exemplo, houve casos de médiuns psicógrafos que recebiam uma mensagem de um espírito com uma das mãos e com a outra mão, mensagem de outro espírito.

 

É possível, portanto, essa manifestação simultânea de espíritos no médium, mas isso quando se trata de mediunidade mecânica, porque quando o espírito necessita de se comunicar com o médium, não por forma mecânica e sim envolvendo, dando aquilo que chamamos uma comunicação por incorporação, ou uma comunicação psicofônica – se bem que a incorporação apesar de tão mal ensinada hoje por muitos espíritas novidadeiros que gostam muito de novidades –, na verdade é uma expressão que condiz melhor com a natureza do fenômeno porque o espírito comunicante se incorpora no médium, não penetrando o corpo do médium, mas ligando-se ao perispírito do médium. Assim quando se dá um fenômeno deste não é possível a manifestação de dois ou mais espíritos pelo mesmo médium no mesmo tempo, porque aí aquele espírito que se ligou com o médium é que vai se comunicar. Mas como na psicografia existe o aspecto da psicografia mecânica, isto é possível porque psicografia mecânica o espírito se serve apenas da própria mão do médium para fazê-lo escrever. Download A primeira quarta-feira de dezembro será no dia seis. Teremos então o nosso programa de auditório com perguntas feitas ao microfone e respondidas na hora. Esse programa de seis de dezembro será dedicado ao Natal. Convidamos você, amigo ouvinte, seja espírita ou não a preparar suas perguntas sobre o Natal e vir fazê-las em nosso auditório na rua Granja Julieta, 205, última travessa da Avenida Santo Amaro, em São Paulo. Pergunte e ouça a resposta na hora. E se discordar, discuta conosco. Estaremos aqui para isso.

 

Os ouvintes que não retiraram os livros oferecidos pelo programa os quais estão à disposição no escritório da Rádio Mulher à Rua Barão de Itapetininga, 46, 11º andar, conjunto 1.111, são eles: José Olavo, José Carlos Isaias, Antonio Terenzo, Jober Frutuoso, Francisco Carlos Domingues, Gentil Belara, Helber Cremer, Adão Trindade, Antonio Barbosa Albuquerque, José Carlos da Rua Afonso Vergueiro e Diva Nazaré. Estes ouvintes poderão passar no escritório da Rádio Mulher à Rua Barão de Itapetininga, 46, 11º andar, conjunto 1.111, e retirar o seu presente de irmão.

 

Locutor - O Evangelho do Cristo em espírito e verdade. Não se apegue à letra que mata, procure o espírito que vivifica. Abrindo o evangelho ao acaso lemos em Paulo aos Filipenses no capítulo segundo do versículo 19 ao 22. Paulo recomenda-lhes Timoteo e Hepafrodito. Espero porém no senhor Jesus enviar-vos brevemente Timoteo para quem também eu esteja animado, conhecendo o vosso estado. Nenhum outro tenho de igual sentimento o qual sinceramente cuide dos vossos interesses, pois todos eles buscam o que é seu, não o que é de Cristo Jesus.

 

J. Herculano Pires - Esta passagem mostra o interesse de Paulo não somente pelas igrejas a que dirigia suas epístolas, mas principalmente pelo cristianismo em si, pela doutrina do Cristo, a sua divulgação e a sua sustentação no mundo. E nós vemos também acentuar-se aí um aspecto que ainda hoje continua ser doloroso tanto no movimento espírita quanto em qualquer outra expressão do cristianismo na Terra. É a falta de criaturas que geralmente se dediquem, que realmente se dediquem ao trabalho doutrinário com desapego pessoal, voltando-se para a verdade que a doutrina ensina e não procurando injetar, por assim dizer, no campo doutrinário, os seus preconceitos, as suas idiossincrasias, ou as suas preferências personalistas. Nós vemos que Paulo afirmava aos filipenses no momento em que lhes enviava Timoteo, ele afirmava que desejava inteirar-se melhor da situação deles, da situação da igreja, porque havia tido muitas informações a respeito, mas ele queria saber de perto através dos olhos e dos ouvidos de um enviado em quem pudesse confiar. E ao dizer isto, Paulo se refere aos outros que não podia enviar. Por quê? Porque eles tinham mais interesse pelas suas próprias coisas do que pelas coisas dos filipenses. Quer dizer, tinham mais interesse pelos seus problemas pessoais, pelas suas questões particulares, pelas suas posições personalíssimas dentro do movimento cristão do que pelos problemas que conturbavam ou que perturbavam a igreja de Felipe, e que deviam ser tratados de um ponto de vista superior.

 

 

Timoteo, como sabemos, era aquele que Paulo considerava seu filho querido, aquele que ele realmente introduziu no cristianismo com todo ardor da sua fé e procurou dirigi-lo sempre pelo caminho certo da doutrina espiritual, fazendo-o ver no cristianismo não um meio de a pessoa se destacar perante as outras pessoas, de a pessoa se tornar mais evidente no meio em que vive, mas sim um meio de levar ao homem o despertar do espírito a fim de que ele pudesse também absorver nas lições do cristianismo os elementos necessários para a compreensão da vida maior, que é a vida após a morte. A dificuldade que Paulo encontrava no lidar com outras pessoas fazia com que ele distinguisse Timoteo com estes elogios feitos nas suas epístolas e também com uma posição especial que ele assumia diante do discípulo, considerando-o como um verdadeiro filho do coração. Porque Timoteo tinha o espírito e a vocação do Evangelho, ele se dedicava realmente ao ensino do Cristo, procurando levar às almas a iluminação necessária dentro daquilo que ele havia recebido de Paulo. E Paulo, como nós sabemos, recebeu o evangelho diretamente do Cristo. Paulo é o apóstolo que não foi apóstolo; aquele que veio por último, aquele que, como ele mesmo diz, era um apóstolo que podia se considerar abortivo. Na sua humildade, ele chegava a ter esta expressão. Mas na verdade, este último apóstolo foi o chamado para trazer ao cristianismo a seiva da verdadeira palavra e do verdadeiro ensino de Jesus. Mais uma vez se confirmou aquilo que o próprio Cristo disse: “os últimos serão os primeiros”. O último dos apóstolos se tornou o primeiro, porque foi ele que deu ao cristianismo a orientação segura que ele mesmo havia recebido na estrada de Damasco quando teve a felicidade de encontrar-se espiritualmente com o Cristo e receber dele a bênção necessária para desvia-lo dos erros em que insidiam no campo do judaísmo, da fé puramente judaica. Essa posição de Paulo diante do cristianismo era seguida, portanto, por Timoteo com verdadeiro ardor cristão. Timoteo não admitia, como Paulo nunca admitiu, que se desfigurasse o Cristo, que se atribuísse ao Cristo como fizeram alguns apóstolos e muitos discípulos dos apóstolos impregnados pelas influências da cultura grega do tempo, que se atribuísse ao Cristo uma posição mitológica na história do mundo.

 

Não. Timoteo, como Paulo, sustentava a necessidade de compreendermos o Cristo como encarnação do verbo. E neste ponto eles seriam mais tarde secundados pelo evangelho de João, pois João, como sabemos, foi dos apóstolos do Cristo o que mais firmemente sustentou a posição natural de Jesus como um homem, um espírito encarnado, o verbo que se fez carne para trazer aos homens a mensagem espiritual necessária à sua redenção. Assim, temos neste momento de encerramento do nosso programa na leitura deste pequenino trecho da epístola de Paulo aos filipenses, temos novamente colocado o problema que ainda hoje agita os meios cristãos e principalmente o meio espírita no tocante à natureza de Jesus. E vemos que a atitude de Paulo nesse terreno já era a de ter cuidado, o máximo cuidado com as próprias pessoas que ele podia enviar às igrejas a fim de que não levassem para lá confusão em invés de levar o esclarecimento, a fim de que não fossem semear o joio em lugar do trigo. O mesmo cuidado precisamos ter hoje no movimento espírita. O que nos deve interessar não é nossa opinião pessoal nisto ou naquilo, mas sim a firmeza com que pudermos seguir os princípios da doutrina espírita. E esses princípios estão firmados, como nós sabemos, na codificação de Allan Kardec. E estes princípios, por sua vez, têm a sua base mais profunda, as suas raízes mais penetrantes nos próprios evangelhos de Jesus.

 

Estamos na era do espírito. É preciso ler livros espíritas para se esclarecer e se orientar. Participe do novo mundo que está nascendo; aprenda a verdade sobre a vida e a morte para não temer a vida e nem se apavorar com a morte. E ajude o novo mundo a crescer lendo a Revista Educação Espírita que lhe mostrará as perspectivas da nova educação que está surgindo. Prepare-se para auxiliar as novas gerações a se integrarem na era do espírito.

 

Esse programa não é de propaganda religiosa, mas de esclarecimento espiritual em bases racionais e científicas. Não temos igreja nem buscamos adeptos. Não somos pregadores, somos expositores. Divulgamos a ciência do espírito na era do espírito. Nosso lema é este: cada crente com sua crença; cada descrente com sua descrença. Mas a verdade ao alcance de todos. Queremos a verdade, só à verdade, nada mais que a verdade, e se você provar que está com a verdade, ficaremos com você.

 

No Limiar do Amanhã.

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