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heculano microfone

J.Herculano Pires foi comunicado que Roberto Montoro, proprietário da Rádio Mulher, pretendia colocar na programação da emissora um programa espírita semanal, com a duração de uma hora. E mais: desejava fosse o programa estruturado e apresentado por ele.  O apóstolo de Kardec aceitou o convite, pois lhe fora assegurado que teria a mais ampla liberdade, “podendo tratar do espiritismo em todos os seus aspectos, sem restrição, e responder a qualquer pergunta” dos ouvintes.

No Limiar do Amanhã ia ao ar aos sábados à noite e obteve sucesso imediato em São Paulo. A Rádio Mulher passou a reprisá-lo aos domingos, pela manhã. A Rádio Morada do Sol, de Araraquara e a Rádio Difusora Platinense, de Santo Antônio da Platina, no Paraná, retransmitiram-no, também, com expressiva audiência. O vigoroso programa prestou inestimável serviço à doutrina espírita durante três anos e meio. Herculano Pires, obviamente, jamais aceitou da Rádio Mulher qualquer espécie de remuneração.

Nesta seção do site, você vai poder ouvir os áudios originais dos programas, e também ler o texto  integral da transcrição.

 AGRADECIMENTOS

A Fundação Maria Virgínia e J. Herculano Pires agradece a todos os que colaboraram com a criação do acervo desta seção, doando gravações dos programas, em especial a Aldrovando Góes Ribeiro, Maria de Lourdes Anhaia Ferraz e Miguel Grisólia.

 

 

No Limiar do Amanhã, um desafio no espaço. A obra de redenção personificada em Cristo é obra de educação. Essa frase lapidar de Vinícius transformou-se na legenda do Instituto Espírita de Educação, célula básica da Cultura Universidade Espírita de São Paulo. Pedro de Camargo, mais conhecido pelo pseudônimo de Vinícius, encerrou sua vida postular em São Paulo no dia 11 de outubro de 1966. Grande conferencista, sua presença na tribuna da confederação espírita marcou época no movimento espírita paulista.

 

Discípulo de Kardec, Vinícius recebera educação evangélica no protestantismo e soube desenvolvê-la no espiritismo. Os livros que nos deixou, como Nas Pegadas do Mestre, revelam a lucidez de sua inteligência e a firmeza de sua fé racional. Como espírita, soube alinhar a fé e à razão e compreendeu o profundo sentido educacional do espiritismo. Costumava lembrar, na tribuna e nos seus artigos para a imprensa espírita, que Jesus só aceitara um título na Terra, o de mestre.

 

Neste mês de outubro, que resolvemos consagrar à educação espírita como mais adequada homenagem a Kardec, reverenciamos, comovidos, a memória de Vinícius. Foi ele o primeiro presidente do Instituto Espírita de Educação e conseguiu, apesar de já em avançada idade, criar um patrimônio dessa instituição. Não foi o fundador do instituto como erroneamente se diz, mas teve a glória de ser seu criador e consolidador. O Instituto Espírita de Educação foi fundado pela comissão de educação da USE, União Social Espírita, através do Primeiro Congresso Educacional Espírita Paulista. Na realidade, essa fundação representou um dos pontos mais altos do movimento espírita em São Paulo. A comissão de educação da USE era presidida pela veneranda professora Luiza Peçanha de Camargo Branco e realizou intensiva campanha para convocação do congresso e fundação do instituto. Repitamos a frase de Vinícius: “a obra de redenção, personificada em Cristo, é obra de educação”. No Limiar do Amanhã, um desafio no espaço. Transmissão número 134, terceiro ano, direção e participação do professor Herculano Pires.

 

Esse programa é um desafio ao futuro, um desafio a todos que dormem no passado, um desafio aos dogmáticos da crença e aos dogmáticos da descrença. Estamos no limiar da era do espírito e não podemos continuar anestesiados pela fé cega ou pelo ópio do materialismo. Necessitamos da verdade na religião, da verdade na ciência, da verdade na filosofia e da verdade na educação.

 

Queremos a verdade, só a verdade, nada mais que a verdade, e se você nos provar que está com a verdade, ficaremos com você.

 

Por que lutamos pela educação espírita?

 

A educação pagã formava gerações no conceito mitológico do homem e do mundo. Preparava os homens para uma vida fictícia, regida pela concepção politeísta em que os Deuses representavam as falsas virtudes humanas da ferocidade disfarçada em bravura, da arrogância travestida de heroísmo, da força sobrepujando o direito, do orgulho esmagando a humildade.

 

A educação cristã substitui essa forma brutal de educação do mundo antigo apoiando-se nos ensinos renovadores do Cristo. Mas o dogmatismo religioso e os interesses institucionais das igrejas restringiram a liberdade cristã, transformando a nova educação num sistema fechado e rígido. A educação cristã se tornou inadequada ao novo mundo que surgiu com o progresso científico.

 

Novo tipo educacional se impôs: a educação leiga favorecendo o desenvolvimento cultural, evitando os atritos religiosos nas escolas, mas ao mesmo tempo sonegando aos educandos os elementos religiosos indispensáveis à boa formação moral. Os frutos dessa educação foram o ateísmo e o materialismo que desarmaram as novas gerações ante as crises da era tecnológica.

 

Surgiu a crise educacional com as duas formas de educação em conflito: a religiosa mantida pelas igrejas e a leiga mantida pelo estado e por instituições particulares de ensino. Nas escolas e universidades religiosas a educação se tornou sectária e rejeitou os dados da ciência ou procurou adaptá-los às exigências dogmáticas. Nas escolas e universidades leigas, a religião foi sumariamente banida e qualquer elemento espiritual considerado como suspeito. De um lado e de outro, a verdade só era admitida pela metade e a formação das novas gerações se tornou deficiente. O espiritismo, desenvolvendo a ciência espírita, realiza a unificação da ciência com a religião. Por isso mesmo foi considerado inaceitável pela educação religiosa e pela educação leiga. Esse é o motivo por que a educação espírita se faz uma exigência da era do espírito. Só ela, a educação espírita, tem condições para dar as novas gerações em nosso tempo uma formação completa e verídica.

 

Nas escolas e universidades espíritas, a educação e o ensino não precisam ocultar nada, nem deformar coisa alguma. A educação espírita soluciona o problema educacional do mundo e restabelece a verdade cristã, acima dos interesses do sectarismo religioso e do dogmatismo científico. A educação espírita proporciona a formação integral dos educandos com absoluto respeito pela verdade científica e pela verdade religiosa.

 

Nenhuma outra forma de educação corresponde às exigências da formação das novas gerações no mundo contemporâneo. Os espíritas estão no dever inalienável de lutar para que a educação espírita se estabeleça no mundo atual, preparando os novos tempos anunciados pelo consolador. Espíritas, atenção. Nosso dever maior nesse momento é trabalhar em favor da educação espírita. Só os cegos de espírito, os faltos de entendimento não compreenderão que a educação espírita nos convoca a todos para uma batalha decisiva.

 

Atenção, espíritas, atenção! A educação espírita é a única forma de reajustar o mundo dividido e contraditório em que vivemos nessa fase evolutiva. As novas gerações precisam da verdade integral que somente a educação espírita lhes pode proporcionar.

 

Pergunta nº 1: Devedor

 

Locutor - O ouvinte Moacir Santos da Rua Augusta, conta-nos o seguinte: em meu consultório dentário, fiz um serviço para um moço que no fim ficou me devendo quatrocentos e tantos cruzeiros velhos. Eu não conhecia nenhum membro dessa família que residia na zona rural. Pois bem, depois de passados quase dois anos, apareceu em meu consultório um moço que me perguntou se seu irmão me devia alguma coisa. Eu lhe perguntei quem era o seu irmão e ele declinou seu nome. Procurei em meu livro, encontrei e lhe disse. Ele respondeu: "é isso mesmo", e me pagou. Eu lhe indaguei onde estava seu irmão que eu não vi mais. Sua resposta: "então o senhor não sabe? O meu irmão já há algum tempo havia falecido em desastre de caminhão perto de Campinas e ultimamente a sua mãe vinha sonhando com ele que lhe pedia para me pagar determinada quantia", que era justamente o que estava em meu livro.

 

J. Herculano Pires - Como vemos, esse episódio relatado pelo nosso ouvinte representa realmente um episódio curioso e de grande autenticidade espírita. Devemos lembrar que fatos semelhantes figuram na bibliografia espírita de todo o mundo. Por exemplo, o professor Ernesto Bozzano, o famoso meta psiquista em espírita italiano, no seu livro I Morti Ritornano, ou seja, Os Mortos Voltam, relaciona alguns fatos deste, particularmente um fato ocorrido num navio em pleno mar em que o comandante novo do navio não sabia da dívida contraída para com o comando com o marinheiro que morrera anteriormente. E este marinheiro se manifestou através da psicografia e pediu a uma das pessoas presentes que se incumbisse de levar ao conhecimento do novo comandante a dívida antiga e que lhe fizesse o pagamento. Isso ocorre muito. Quando os espíritos de pessoas que viveram honestamente aqui na Terra se sentem, no além, com uma dívida realizada, um compromisso assumido aqui na Terra e que eles não podem saldar, então sempre que possível, servindo-se de um médio ou através do sonho, ou através de qualquer outra forma de comunicação, eles pedem para que essa dívida seja paga. É claro que se trata de um problema apenas de consciência do próprio espírito. Não quer dizer absolutamente que principalmente essas pequenas dívidas contraídas aqui na Terra fiquem pesando, por assim dizer, na responsabilidade do espírito com vistas a encarnações próximas. Não. Mas evidentemente quando se trata de uma pequena dívida que pode ser paga com facilidade, e o espírito pelo seu sistema de vida aqui na Terra, poderíamos mesmo dizer, pela sua filosofia de vida, ele se sente então na obrigação de providenciar o pagamento, procura naturalmente uma forma de manifestar-se, de comunicar-se e de pedir a uma pessoa amiga que faça por ele aquilo que ele não pode fazer em vida. Portanto, esse episódio tem, como vemos, não só um correspondente nas várias formas de bibliografia e da bibliografia espírita divulgadas no mundo, tem sempre um fato que corresponde a natureza desse, como também ele está perfeitamente válido no seu ponto de legitimidade quanto à fenômenos de espírita.

 

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Pergunta nº 2: Arrebatamento

 

Locutor - Professor, a ouvinte T. M. U. nos escreve relatando o seguinte: eu ia ser freira, mas não me conformava com as contradições que achava entre o evangelho e a religião que professava e isso me angustiava bastante. Meu pai desencarnou em 1941 e em 1942 fui à casa de minha irmã Mariana. Ela estava iniciando-se no espiritismo, por intermédio do casal I. e V. M.. Presenciei então as primeiras manifestações do espírito de papai e anotei num caderno como foi seu despertar no mundo espiritual. Então me dizia: I., leia o que está escrito nesse caderno. São comunicações do espírito de papai. Eu dizia: Deus me livre. Não quero saber dessas coisas. Mas comecei a notar que aquela angustia estava desaparecendo. Não vivia mais discutindo comigo mesma, fato que ocorria há uns oito anos. Então pensei: vou ler o que está escrito naquele caderno. Esse dia foi 01 de julho de 1942. Abri o caderno e li o seguinte: o dirigente abriu os trabalhos; perguntou: irmão, podeis falar Sofreis? O espírito de meu pai respondeu: estou sempre em minha casa, não sei o que aconteceu. Minha família está numa grande tristeza. Nesse momento fiquei inconsciente. Creio que meu espírito foi arrebatado para algum lugar, um minuto, dois, não sei. Mas quando voltei, que júbilo, que alegria! Ninguém precisou me explicar o que era espiritismo. Encontrei-me chorando de alegria e declarei-me espírita convicta.

 

J. Herculano Pires - Me parece que o nome do casal ouve uma pequena atrapalhada. Não são M. né? Parece-me que é I. e V. M., não é isso?

 

Locutor - Não senhor, aqui estão...

 

J. Herculano Pires - M., mesmo? Então obrigado. Quer dizer que é o casal I. e V. M., que foi que iniciaram essa moça, como é o nome dela?

 

Locutor - O nome dela é I. M. U..

 

J. Herculano Pires - I. M. U., iniciaram a irmã dela no espiritismo e a irmã depois quis que ela lesse a mensagem do pai. O ponto importante desse fato é o arrebatamento dessa moça. Ela foi arrebatada quando começava a ler a mensagem do pai, a comunicação do espírito do pai. Mas o arrebatamento em si não teria grande importância, porque são muito comuns os fatos de arrebatamento num momento de emoção. Mas o que é importante é que ela ao voltar a si ela estava espírita. Isto revela que mesmo que tenha sido um arrebatamento de um, dois minutos, três minutos, seja lá o que for, ela teve aquilo que nós chamamos uma verdadeira doutrinação espiritual no espaço, na vida espiritual. Ela voltou de lá conhecendo o espiritismo e não precisamos que ninguém mais lhe explicasse do que se tratava. Isso nos faz lembrar, naturalmente, sem estabelecemos um termo de comparação absoluta, que seria absurdo, mas nos faz lembrar o episódio de Paulo, do apóstolo Paulo na estrada de Damasco, quando ele viu a aparição de Cristo e ele diante da figura do mestre, ele, como sabemos, sofreu um colapso, ele caiu, um colapso momentâneo, ele caiu até do cavalo e, quando voltou a si, ele já era cristão. Ele, que era judeu, perseguidor dos cristãos, tinha ido mesmo a Damasco especialmente para realizar uma verdadeira perseguição aos cristãos na cidade de Damasco, ele, Paulo, ao voltar a si, naquele instante ele já sabia o evangelho de Jesus, e tanto assim que chegou em Damasco, dali onde ele foi socorrido por Anania,s que era um cristão da cidade que foi socorrê-lo, deu-lhe passes, fez com que ele voltasse a ver, porque ele ficou cego com a luminosidade no meio da estrada. Depois disso Paulo, como sabemos, retirou-se para o deserto onde ficou durante três anos meditando sobre o evangelho que havia recebido de Jesus. Mas depois, durante toda a sua pregação, e nós podemos ver isso nas epístolas de Paulo, no próprio evangelho – ele diz: eu que recebi o evangelho diretamente do Cristo; não recebi de nenhum apóstolo, não recebi através de ninguém aqui na Terra; eu o recebi diretamente do Cristo. É exatamente um fato igual a esse que ocorreu com essa moça. Assim como Paulo recebeu o evangelho, recebeu, portanto, a base do cristianismo diretamente num lapso de tempo bastante rápido, durante o qual ele apenas sofreu uma espécie de perturbação, caiu do cavalo e levantou-se outra vez, neste momento o seu espírito no espaço já se inteirou através do ensino direto de Jesus do que era o evangelho, assim aconteceu com essa moça no momento em que ela, desprendendo-se rapidamente, ela que ia ser freira, deixou de ser para encaminhar-se ao espiritismo e entregar-se a ele. Ela recebeu o ensino espírita nesse lapso de tempo. Podemos dizer aí: mas como pode ser dado num lapso de tempo tão curto um ensino tão longo? Esse é o problema do tempo que nós encontramos bastante discutido não somente no espiritismo, como hoje em quase todos os campos da ciência, da psicologia, na filosofia, em todos os campos estuda-se muito o problema do tempo. O que é o tempo, como ele flui, quais são as relações do tempo com as nossas possibilidades pessoais. O tempo correspondente à Terra não é o mesmo tempo correspondente à vida espiritual, não é o mesmo tempo, como nós sabemos, das diversas latitudes da Terra. Há sempre uma variação.

 

Ora isso então, esse episódio serve para nos mostrar que há uma diferença muito grande entre o que nós chamamos o tempo material na vida material terrena e o tempo espiritual na vida do espaço. A prova está aí, que num momento brevíssimo para nós, uma pessoa recebeu um ensinamento que duraria, no mínimo, vários dias aqui na Terra. Me lembro do professor Lauro de Almeida Carneiro que foi um grande professor secundário em São Paulo e que lecionou também durante muito tempo em escolas diversas, esse professor que já se encontra na vida espiritual ele relatava sempre um fato curioso, lendo um dia, uma noite, aliás, lendo um jornal na sua sala enquanto a mulher fazia os filhos dormir, de repente ele sentiu que o seu espírito se afastou, ele sentiu-se afastar do corpo, e ele não sabe dizer o que aconteceu. Só sabe que quando ele voltou a si, ele tinha impressão de ter se afastado apenas um minuto. Entretanto, quando olhou para o relógio, já era plena madrugada. Ele havia ficado seguramente umas duas ou três horas ou mais desacordado, afastado do corpo sem perceber o tempo que decorreu. Isso tudo nos lembra então que na realidade há uma diferença bastante grande entre o tempo material na Terra e o tempo espiritual no espaço, ou pelo menos as oportunidades que o tempo espiritual oferece para o espírito são muito mais amplas e fecundas do que o tempo material na Terra.

 

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Pergunta nº 3: Jan Hus

 

Locutor - Professor, a ouvinte I. M. U., Vila Prudente, pergunta: há uns vinte anos atrás li no jornal espírita A Nova Era de Franca um artigo sobre Jan Hus que muito me impressionou sobre sua vida e sua desencarnação. Poderia o professor dizer algo a respeito dele? Haverá algum livro com sua biografia?

 

J. Herculano Pires - Sim, não há dúvida que há biografia de Jan Hus. Jan Hus é muito conhecido porque ele foi um reformador religioso e foi também um político, um grande político e um grande professor universitário em Praga, na Tchecoslováquia. Jan Hus é um homem do século XIV, mas faleceu no século XV e por sinal o seu falecimento foi o mais trágico possível. Jan Hus pretendeu fazer algumas reformas na teologia católica e apesar da sua alta posição, porque ele era não só professor universitário, ele foi também duas vezes reitor da universidade de Praga, portanto uma figura de grande destaque na vida daquele país, Jan Hus foi ainda também o organizador da língua tcheca moderna, quer dizer, a função dele na Tchecoslováquia é semelhante à função de Lutero na Alemanha. Nós sabemos que o alemão moderno decorre todo do trabalho de Lutero. Ele foi quem praticamente deu forma moderna e forma precisa, gramatical à língua alemã. Assim aconteceu com Jan Hus no tocante à língua tcheca. Mas ele foi na sua tentativa de reforma de certos aspectos da religião que ele achou que não estavam correspondendo exatamente às suas investigações dos evangelhos, porque ele foi um teólogo e um profundo estudante do evangelho de Jesus, ele então foi excomungado pelo papa Alexandre V. O papa Alexandre V o excomungou. Jan Hus nasceu em 1369 e foi queimado vivo em Praga em 1415 por uma decisão do Concílio de Constança. O Concílio de Constança reunido estudou o caso de Jan Hus e o condenou a morte na fogueira. Ele foi queimado vivo. Um seu discípulo, que também era professor da universidade e ficou muito conhecido com o nome de Jerônimo de Praga, esse seu discípulo apavorou-se com a morte de Jan Hus e renegou as doutrinas de Jan Hus. Posteriormente, entretanto, Jerônimo de Praga sentiu a consciência pesar e sentiu-se covarde diante da situação que havia assumido. Então resolveu sair à rua e pregar novamente as ideias de Jan Hus. Diante disso, Jerônimo de Praga foi preso e por ordem eclesiástica foi também condenado à fogueira. Jerônimo de Praga então enfrentou corajosamente a fogueira, foi queimado em praça pública no mesmo lugar que Jan Hus e as suas cinzas foram jogadas no Reno. Ora, acontece que durante o momento em que Jerônimo de Praga estava sendo queimado, uma velhinha religiosa, muito piedosa, pegou algumas achas de lenha e trouxe para aumentar a fogueira em que Jerônimo de Praga ia ser queimado. Naturalmente na sua humildade, e na sua ignorância, ela estava certa de estar fazendo um ato meritório, porque de acordo com o que se dizia na época, quando se queimava um indivíduo na fogueira era para livrá-lo do fogo eterno do inferno. De maneira que aquele fogo passageiro tinha um sentido assim de caridade, era caridade queimar o indivíduo na fogueira. Quando a velhinha chegou com as duas achas de lenha e jogou na fogueira, não, porque ainda não tinha sido aceso, mas ali naquele monte de paus e tábuas que tinha sido preparado para queimar Jerônimo de Praga, Jerônimo tranquilamente olhou e disse: santa ignorância. E então ele foi queimado também.

 

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Perguntas e respostas. Mande-nos suas perguntas, amigo ouvinte. Entre no diálogo radiofônico do programa No Limiar do Amanhã em busca da verdade sobre os problemas da vida e da morte.

 

Pergunta nº 4: Sonho

 

Locutor - Professor, o ouvinte E. G. da S. pergunta: o que nos diz o espiritismo a respeito do que acontece com a gente depois de deitarmos à noite. Logo depois, já em estado de inconsciência, sentimo-nos voando em grandes alturas e em longas distâncias, e nesse estado, despertamos no leito, como se viéssemos à tona d’água depois de um mergulho profundo. Esse fato é real e verdadeiro ou é pura fantasia de um sonho?

 

J. Herculano Pires - Não se trata de sonho. O espiritismo nos explica que quando nós dormimos, nós nos afastamos do corpo espiritualmente. O que necessita de repouso durante o sono é o corpo, não é o espírito. Podem, naturalmente, alguns psicólogos alegar que não só o corpo, porque a mente também se cansa, o cérebro se sente cansado e precisa se refazer. É preciso notar que há uma distinção que hoje não é só do espiritismo, é também da parapsicologia entre mente e cérebro. A mente é, por assim dizer, o cérebro do espírito. O cérebro, nós podíamos inverter o papel e dizer, é a mente do corpo. Sim, porque o cérebro é, na verdade, o instrumento de manifestação da mente. Quem pensa não é o cérebro é a mente, mas a mente transmite ao cérebro o pensamento e o cérebro é que funciona para comunicar o pensamento ao plano material. Portanto, quando nós falamos, há uma verdadeira dinâmica nesse processo que vem desde o aparecimento do pensamento na mente até a sua transmissão ao cérebro, o revestimento do pensamento no cérebro pelos instrumentos materiais da comunicação, que no caso são a palavra, a forma de escrever, os sinais, a mímica, tudo isso que terá que ser traduzido, que serão as formas de tradução de que o cérebro vai se servir para transmitir a mensagem ao meio material em que nós vivemos. Ora, sendo assim, quando nós dormimos, o nosso espírito geralmente se desprende do corpo. Só não se desprende quando a pessoa é ainda muito materializada, demasiadamente apegada às coisas da matéria, ao corpo. Ela fica então em estado de sonolência também junto com o corpo. Mas isso, na proporção em que a criatura evolui, ela vai se libertando dessa situação, vai se libertando e aprende a se desprender e a viver no mundo espiritual. Nós nem sempre nos lembramos com precisão daquilo que ocorre no mundo espiritual durante o tempo em que estamos dormindo, mas quando nos lembramos de alguma coisa, nós temos então a lembrança do sonho e temos essas lembranças semelhantes a essa sensação que o ouvinte nos relata aí. Naturalmente que essa sensação que o senhor sente provem precisamente da volta do seu espírito ao corpo, e o despertar no corpo lhe dá a impressão de haver realmente surgido de um mergulho, num mergulho, entretanto, numa situação diferente daquela em que o senhor vive, que não é propriamente um mergulho na água, mas um mergulho no plano espiritual. É esse o motivo pelo qual o senhor sente essa sensação.

 

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Pergunta nº 5: Medo da mediunidade

 

Locutor - Professor, a ouvinte M. F., da Rua Bom Pastor, Ipiranga, pergunta: sou médium vidente e os espíritos, às vezes, me tomam sem eu querer. Eu não quero ser médium e não quero ver espírito. Eles me dão medo e me atrapalham a vida. O que devo fazer para me livrar dessas coisas?

 

J. Herculano Pires - A senhora está diante de um verdadeiro dilema e eu tenho de responder para a senhora com plena franqueza e sinceridade. A senhora não pode deixar de ser médium, porque a mediunidade, principalmente assim como essa que a senhora possui, inclusive de vidência, é sempre um compromisso que o espírito assumiu na vida espiritual antes de encarnar-se na Terra. A senhora assumiu esse compromisso com uma finalidade: a finalidade de prestar serviços na mediunidade e, particularmente, a finalidade de atender as necessidades de certos espíritos que são ligados à senhora por vidas anteriores, espíritos com os quais a senhora tem compromissos muito sérios. Assim, a senhora poderia naturalmente procurar um desses lugares onde se diz por aí que se fecha a mediunidade, que se faz com que o médium deixe de ser médium. Há certas práticas que são usadas para isso, mas que não dão o resultado necessário. Pelo contrário, servem muitas vezes para perturbar ainda mais a pessoa. A senhora não tem razão nenhuma para ter medo dos espíritos. Os espíritos são as criaturas humanas apenas desvestidas, por assim dizer, do seu escafandro material que é o corpo. Imagine, por exemplo, um escafandrista que desce ao fundo do mar; ele tem que se vestir com aquele escafandro para poder enfrentar um meio diferente, um meio líquido em que a água pode entrar-lhe pelos ouvidos, pelo nariz, pela boca. Então ele se veste com aquele escafandro e desce para realizar uma tarefa lá embaixo. O que diria ele se encontrasse lá com outro escafandrista e que esse outro escafandrista, ao invés de auxiliar no trabalho, regressasse imediatamente à superfície com medo do escafandrista que ele viu lá embaixo? É o que acontece com a senhora aqui. A senhora está no seu escafandro. Ao ver um espírito necessitado que a procura ou um espírito amigo que quer lhe falar, quer ajudá-la, quer orientá-la, talvez, a senhora o recuas, a senhora o repele e pretende procurar um meio de não mais o ver. A senhora está fugindo de um compromisso muito sério. Eu acho que a senhora deve tratar de frequentar uma boa reunião espírita num centro onde realmente se conheça espiritismo e lhe possam dar a orientação necessária. Mas ao mesmo tempo a senhora precisa ler, precisa ler principalmente o livro Iniciação Espírita, de Allan Kardec. É um livro de grande importância, de grande interesse para lhe dar a orientação necessária. Quanto aos centros espíritas, eu lhe indicaria dois centros: o centro Pedro e Anita, à Rua Ambrosiano de Macedo 194, em Vila Mariana. Neste centro, a senhora deveria ir aos sábados, no primeiro sábado que a senhora quiser ir, às 4 horas da tarde. Lá, a senhora procura entender-se com o presidente do centro e explicar-lhe o seu caso, pedir-lhe orientação. É um homem bastante capaz de orientá-la com segurança neste assunto. O outro centro é o centro espírita Renovação, à Rua Espírita, 116, travessa da Rua Lavapés, no Cambuci. Neste centro a senhora pode ir às segundas ou às sextas feiras, às 20h30, tanto na segunda-feira como na sexta-feira. Às 20h30 é que se iniciam os trabalhos. A senhora deve chegar um pouco antes, procurar o diretor dos trabalhos, expor-lhe a sua situação e ouvir dele as indicações necessárias. É o conselho que eu lhe dou.

 

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Pergunta nº 6: Exorcismo

 

Locutor - Ela ainda pergunta mais, professor, o seguinte: fui num padre exorcista que me deu um tapa muito forte nas costas para expulsar o espírito e nada conseguiu. Me mandou acender velas e fazer ladainhas durante quinze dias. Mas quando eu acendo as velas e começava a rezar, os espíritos queriam me tomar, Fiquei com mais medo ainda e parei com tudo isso. O senhor acha que eu devo continuar?

 

J. Herculano Pires - Não. Eu acho que a senhora deve ir a um dos centros que eu lhe indiquei e a senhora deve ler o livro Iniciação Espírita de Allan Kardec. Há vários livros com esse nome, Iniciação Espírita, eu lhe aconselho bem o livro de Allan Kardec, Iniciação Espírita. Eu diria à senhora o seguinte: o exorcismo é uma velha prática que vem de tempos muito remotos. Por exemplo, os judeus aplicavam o exorcismo. Mas o exorcismo interpreta sempre o espírito comunicante como o demônio. É um demônio que tem que ser afugentado, que tem de ser afastado da gente através de coisas de que ele não goste, daí mandar acender velas, fazer preces, essa coisa toda. Mas como os espíritos que a senhora está vendo não são demônios, absolutamente não são, não são diabos, não são nada disso, são criaturas humanas e algumas delas são suas amigas, criaturas muito suas amigas, então elas não podem se afastar com essas coisas, mesmo porque elas não estão querendo fazer o mal. O que elas querem é apenas ajudá-la no cumprimento da sua missão mediúnica. Acho que a senhora não deve continuar à procura de exorcismos, porque ninguém afastará da senhora os espíritos que estão ligados à senhora por vidas anteriores. A senhora deve enfrentar o assunto corajosamente. É preciso enfrentá-lo de frente. E em qualquer desses dois centros que eu lhe indiquei, a senhora encontrará apoio e orientação seguras para enfrentar essa parada, como se diz.

 

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Pergunta nº 7: Espiritismo como religião

 

Locutor - O ouvinte J. C., da Rua Domingos de Moraes, Vila Mariana, faz a seguinte pergunta: professor, por que o espiritismo se recusa a considerar-se como religião? Sei que o senhor vai falar nos três modos da doutrina, o científico, o religioso e o filosófico. Essa tese eu já conheço, mas acho que o principal do espiritismo é a religião, que leva o homem a Deus. O senhor parece não pensar assim. Me parece que o senhor acha a ciência como a mais importante das partes do espiritismo. Permita-me explicar um pouco mais. O espiritismo se considera como revelação. Ora a revelação não é religião, pois toda religião vem da revelação. Então, por que os espíritas não se organizam em igreja como as demais religiões com seus sacerdotes e etc.? O senhor não acha que os espíritas têm preconceitos contra religião?

 

J. Herculano Pires - Não, os espíritas não têm esse preconceito tanto que são religiosos. A grande maioria dos espíritas no Brasil e no mundo é religiosa. Por outro lado eu não faço distinção, não faço nenhuma separação entre as três partes constitutivas da doutrina que o senhor já conhece, só que o senhor não as colocou na ordem devida. A ordem é a seguinte: o espiritismo é ciência, filosofia e religião. É ciência porque o espiritismo não nasceu de uma revelação direta dos espíritos através de um profeta, de um missionário, de um messias. Ele nasceu das manifestações dos espíritos ocorridas em todas as partes do mundo e investigada cientificamente. O próprio trabalho de Kardec iniciou-se com a investigação científica dos chamados, hoje chamados fenômenos paranormais. Kardec investigou não no sentido de saber quê espírito estava ali se manifestando, mas no sentido de saber quais eram as causas daqueles fenômenos que ocorriam, e verificou que as causas desse fenômeno eram os espíritos. Só depois que ele verificou isso, que ele conseguiu provar, deixar provado cientificamente que a causa desses fenômenos eram os espíritos, só então ele se interessou pelos outros aspectos: o aspecto filosófico e o aspecto religioso. Já expliquei aqui numerosas vezes que a ciência é a base do espiritismo, a ciência espírita, porque foi dela que nasceu o espiritismo. A filosofia é uma consequência natural da ciência espírita, porque esta ciência, como todas as ciências, oferece-nos explicações de fenômenos que não eram até então explicados. Ora, ao explicar esses fenômenos, essa ciência modificou a nossa concepção do mundo. Vem daí o aparecimento da filosofia espírita. Toda filosofia é uma concepção do mundo, mas toda filosofia determina um novo tipo de moral. Ora, se o senhor, por exemplo, tem uma filosofia materialista e de repente o senhor passa para um tipo de filosofia espiritualista, o senhor sai da materialista e vai para a espiritualista, o seu tipo de moral, de comportamento humano tem de modificar-se, porque do ponto de vista materialista para o espiritualista há uma grande virada, uma grande modificação na posição do homem diante do mundo e diante da humanidade e diante de si mesmo. O senhor tem de mudar as suas condições morais, o seu comportamento, a sua orientação de vida. Ora, então, dizia Kardec, a filosofia espírita força naturalmente o aparecimento de um tipo novo de comportamento do homem diante da vida. Este comportamento vai resultar num novo tipo de moral, mas essa moral não se liga apenas ao comportamento terreno, porque o espiritismo nos mostra a vivência do homem em dois planos, no plano material e no plano espiritual. E quando tratamos do plano espiritual, nós temos as relações do homem, não apenas com outros homens, mas também com Deus e com os espíritos superiores. Então, surge naturalmente o aspecto religioso. Assim, eu não quero de maneira alguma dizer que qualquer das partes do espiritismo seja superior à outra. Todas elas integram um todo, que é a Doutrina Espírita.

 

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Abrimos o evangelho ao acaso, e vamos ler o trecho que saiu (Jo, 19:38-42).

 

O enterro de Jesus.

 

Depois disso, José de Arimateia, que era discípulo de Jesus, ainda que oculto por medo dos judeus, pediu a Pilatos permissão para tirar o corpo de Jesus, e Pilatos concedeu-a. Foi José e tirou o corpo. Nicodemos, aquele que no princípio viera ter com Jesus de noite, foi também levando uma composição de cerca de cem libras de mirra e aloés. Tomaram o corpo de Jesus e envolveram-no em panos de linho com os aromas, como é costume entre os judeus sepultar os mortos. No lugar em que Jesus fora crucificado, havia um jardim e neste, um túmulo novo em que ninguém tinha sido ainda posto ali, pois por causa da preparação dos judeus e por estar perto o túmulo, depositaram a Jesus (Jo, 19:38-42). Essa descrição do enterro de Jesus é bastante significativa, pois nos mostra que Jesus nasceu, viveu e morreu como judeu, integrado, portanto, na sua raça, no seu povo, quer dizer, na raça em que ele se encarnou aqui na Terra para o cumprimento da sua missão, e integrado dentro da própria religião judaica. O seu enterro foi feito por José de Arimateia e por Nicodemos, e nós sabemos que Nicodemos era um rabi, era um chefe da igreja judaica, e que José de Arimatéia também era considerado como um dos mais ilustres judeus da época, bastante informado da sua religião e praticante dela. A morte de Jesus, portanto, se deu dentro do próprio judaísmo com todas as regras necessárias da religião, e o seu enterro se realizou de acordo com as prescrições rituais do judaísmo. Mas, apesar disso, Jesus, que saíra do judaísmo, como nós sabemos, lançou uma reforma da velha religião judaica e transformou essa religião: de uma religião em que se dava o início da transformação do mundo, quando se lutava pelo monoteísmo contra o politeísmo. Mas não se desenvolvia dentro da religião judaica esse processo de evolução que teria de se resolver depois, com o aparecimento de Jesus. Coube a Jesus a função de desenvolver aquilo que estava ainda apenas em germe no velho testamento. E foi por isso que o apóstolo Paulo, como nós sabemos, considerou que depois do aparecimento dos evangelhos, o que nós teríamos de mais importante na Terra, não era mais a antiga Bíblia judaica, mas sim o novo testamento que surgia com a manifestação do Messias, com a sua proclamação dos novos tempos e a sua modificação nos profundos conceitos que determinavam a vida do homem no tempo judaico. Por outro lado, nós sabemos que este enterro de Jesus assim descrito tira muito ao evangelho o seu aspecto mitológico, porque o realismo desse enterro nos mostra que Jesus não foi absolutamente considerado no seu tempo como o mito que fizeram dele depois. Pelo contrário, foi considerado como um homem judeu, um homem que enfrentou o seu trabalho, enfrentou a sua missão e esgotou a sua existência terrena no cumprimento dos seus deveres.

 

O que há de divino em Jesus não é, portanto, o seu corpo, não era esse corpo o que devia provocar as transformações do mundo, e sim o seu espírito, o seu ensino, a sua mensagem. Deste túmulo em que o encerraram – nós sabemos pelos próprios evangelhos – que ele vai levantar-se, ele vai ressuscitar. Mas de acordo com explicação do próprio apóstolo Paulo na primeira epístola dos Coríntios – notem bem: não é uma explicação espírita, é uma explicação paulina –, Jesus ressuscitou no seu corpo espiritual e não no corpo material, porque planta-se o corruptível, como diz o apóstolo Paulo, e nasce o incorruptível; planta-se o corpo animal e ressuscita o corpo espiritual.

 

Estejamos alerta: um novo mundo está nascendo. Acertemos o nosso passo com o ritmo dos novos tempos. Avancemos para o futuro.

 

No Limiar do Amanhã: lutemos pela educação espírita.

 


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