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heculano microfone

J.Herculano Pires foi comunicado que Roberto Montoro, proprietário da Rádio Mulher, pretendia colocar na programação da emissora um programa espírita semanal, com a duração de uma hora. E mais: desejava fosse o programa estruturado e apresentado por ele.  O apóstolo de Kardec aceitou o convite, pois lhe fora assegurado que teria a mais ampla liberdade, “podendo tratar do espiritismo em todos os seus aspectos, sem restrição, e responder a qualquer pergunta” dos ouvintes.

No Limiar do Amanhã ia ao ar aos sábados à noite e obteve sucesso imediato em São Paulo. A Rádio Mulher passou a reprisá-lo aos domingos, pela manhã. A Rádio Morada do Sol, de Araraquara e a Rádio Difusora Platinense, de Santo Antônio da Platina, no Paraná, retransmitiram-no, também, com expressiva audiência. O vigoroso programa prestou inestimável serviço à doutrina espírita durante três anos e meio. Herculano Pires, obviamente, jamais aceitou da Rádio Mulher qualquer espécie de remuneração.

Nesta seção do site, você vai poder ouvir os áudios originais dos programas, e também ler o texto  integral da transcrição.

 AGRADECIMENTOS

A Fundação Maria Virgínia e J. Herculano Pires agradece a todos os que colaboraram com a criação do acervo desta seção, doando gravações dos programas, em especial a Aldrovando Góes Ribeiro, Maria de Lourdes Anhaia Ferraz e Miguel Grisólia.

 

No Limiar do Amanhã, um desafio no espaço.

 

Abril, primavera na Europa, outono no Brasil, mas o nosso outono é também primaveril. Abril e maio são, no Brasil, uma anunciação da primavera que virá em setembro, depois do inverno. "No Limiar do Amanhã" foi lançado ao ar, pela rádio Mulher, em abril de 1971. Com este programa, encerramos o 3º ano de permanência no ar e iniciamos o 4º ano de transmissões semanais. "No Limiar do Amanhã" é um programa desafio, um desafio do futuro.

 

A Rádio Mulher, de São Paulo, a Rádio Morada do Sol, de Araraquara, e a Rádio Difusora Platinense, de Santo Antônio da Platina, Paraná, agradecem, neste momento, a colaboração de todos os que apoiaram e apoiam o programa "No Limiar do Amanhã". De todos os que contribuíram e contribuem, com seu interesse e sua colaboração, para que esse diálogo radiofônico permaneça no ar, através dos anos, sustentando a verdade incontestável da natureza espiritual do homem.

 

Nossa gratidão se estende às editoras espíritas de São Paulo, que se dispuseram a colaborar com este programa, na distribuição de prêmios em livros para nossos ouvintes. São elas: a Editora Cultural Espírita, que nos sugeriu essa distribuição e tem contribuído entusiasticamente com os lançamentos; a Editora GEEM, do Grupo Espírita Emmanuel, instituição responsável por este programa; a Livraria e Editora Allan Kardec, sempre disposta a atender aos nossos ouvintes; e a Livraria Espírita Boa Nova, que surgiu mais tarde e logo se integrou em nosso trabalho, com a mesma disposição e o mesmo entusiasmo das anteriores. Registramos com alegria, neste programa de aniversário, a instalação de mais uma livraria editora espírita em São Paulo, a Livraria FEP (?), da Federação Espírita do Estado, à Rua Maria Paula, que, dentro em breve, integrará à nossa cadeia de livrarias colaboradoras.

 

Agradecemos, com saudade, a colaboração dos companheiros dos primeiros tempos. Aurora Portella e Paulo José, ao Renato Melio e Teresa Campos, Jamil Nagib Salomão, Álvaro Ricardo, que outras atividades doutrinárias e profissionais afastaram de nosso convívio e do nosso diálogo. A todos eles, o nosso abraço radiofônico.

 

Aos companheiros presentes, não temos tempo de agradecer. Estamos todos muito ocupados. O tempo não para e o amanhã se aproxima a cada minuto que passa. Deus lhes dê forças, entusiasmo e constância para sustentarmos no espaço, o nosso desafio, o nosso diálogo radiofônico do programa "No Limiar do Amanhã".

 

"No Limiar do Amanhã". Ah! Não podemos esquecer nossa gratidão aos escoteiros do ar, balizas do futuro que, com seus cassetes, têm gravado pacientemente os nossos programas, para repeti-los em reuniões familiares e de várias instituições, dando maior ressonância ao nosso diálogo. Graças a eles, o programa "No Limiar do Amanhã" já varou as fronteiras do Brasil, repercutindo em países da América, atravessando, até mesmo, o vasto oceano, para ser ouvido em Portugal.

 

E nosso agradecimento ao Professor Mário Ferreira, autor do famoso livro Nas Veredas da Paz, e do livro mais recente Parapsicologia e Espiritismo, que gravou os nossos programas e deles extraiu 2 volumes, para serem editados dentro em breve. "No Limiar do Amanhã", um programa desafio. Produção do Grupo Espírita Emmanuel, transmissão 154, 4o ano. Locutores: Roberto Nei e Jurema Yara. Sonoplastia: Antônio Brandão. Técnico de som: Benê Alves. Direção e participação do Professor Herculano Pires. Gravação nos estúdios da Rádio Mulher, São Paulo.

 

Diálogo no Limiar do Amanhã. Antes do amanhecer as vozes da angústia e da esperança começam a dialogar. Vamos ouvi-las. Pergunta 1: Sobre o romance O Exorcista e a existência do diabo.

 

Locutora - A ouvinte Ágata Maria Delange pergunta ao professor: O senhor agora se convenceu de que o diabo realmente existe ? Ou duvida do caso de possessão demoníaca do romance O Exorcista e dúvida também das advertências do Papa Paulo VI e das autoridades eclesiásticas do Catolicismo e do Protestantismo, para se pronunciar a respeito? O exorcismo católico foi eficiente e o ritual espírita não produziu efeito, o que prova que se tratava do diabo. Não acha que isso ficou bem claro? J. Herculano Pires - O Senhor Carlos Roberto Guedes, nosso ouvinte da rua Engenheiro Saturnino de Brito, no Belém, enviou-nos um recorte do Jornal da Tarde, com reportagem sobre o caso que deu origem ao romance O Exorcista. Vemos por essa reportagem que o romance e o filme tiveram origem em um fato real. Mas ante a pergunta da Senhora Ágata Maria Delange, da Rua Santa Cruz, Vila Mariana, temos que voltar ao assunto de maneira mais analítica porque, de acordo com o que pediu o Senhor Carlos Roberto Guedes, demos à sua pergunta uma resposta bastante sintética. Vamos tentar esclarecer o problema que é demasiado complexo e pedimos a máxima atenção dos ouvintes que por ele se interessarem.

 

Começaremos por declarar à prezada ouvinte que o romance O Exorcista não trouxe nenhuma novidade a respeito do assunto, a não ser a revelação de mais um caso de subjugação, entre os muitos conhecidos e estudados no mundo. Não há nada neste caso que possa modificar a posição para qualquer pessoa conhecedora do assunto. Nada, absolutamente nada, que possa convencer um espírita da existência do diabo. Pelo contrário, tudo o que encontramos nele serve apenas para confirmar a educação doutrinária do Espiritismo, dada de maneira bem clara e precisa, há mais de um século, e constantemente confirmada pelas ocorrências dessa natureza até os nossos dias.

 

Quanto às advertências do Papa Paulo VI e declarações de autoridades eclesiásticas do Catolicismo e do Protestantismo sobre a ação do diabo em nosso tempo, é claro que respeitamos como manifestações coerentes com as posições das respectivas igrejas, mas não podemos aceitá-las cientificamente como válidas. Falta a essas autoridades religiosas, o conhecimento das pesquisas espíritas a respeito e das experiências inúmeras, realizadas pelos espíritas, com pleno êxito, na cura dos chamados "casos de possessão diabólica". Sim, chamados "casos de possessão", porque, na verdade, não são mais do que casos de obsessão, segundo a posição espírita. O formalismo religioso e o dogmatismo das igrejas, que impediram o desenvolvimento das ciências e, com isso, estimularam o materialismo e o ateísmo, continuam a manter na ignorância das questões espirituais desse gênero, grandes e belas inteligências que poderiam estar, naturalmente, militando no campo do esclarecimento.

 

O caso concreto que deu origem ao romance O Exorcista ocorreu há 25 anos, em 1949, num subúrbio da cidade de Filadélfia, nos Estados Unidos. O personagem central era um rapaz de 14 anos e, não, uma menina, como figura no romance. A família era protestante e chamou, primeiramente, um pastor luterano, que não se interessou devidamente pelo assunto. Psiquiatras foram consultados e nada conseguiram. O relatório escrito pelos padres jesuítas, que trataram do caso, menciona a intervenção de um espírita, que teria aplicado a fórmula espírita sem sucesso. Atribui-se falta de senso ou falta de condições, no ritual aplicado pelo espírita, para que produzisse, no fato, o resultado necessário. A falta de sucesso no caso de possessão humana seria mais fácil de se compreender se a aplicação do trabalho espírita fosse realizado de acordo com, não o ritual, porque não existe um "ritual espírita", mas, sim, de acordo com a praxe estabelecida no meio espírita para esses casos. Veremos, logo mais, que, na verdade, não se pode dizer que houve fracasso do ritual espírita, uma vez que não existe esse ritual.

 

A possessão diabólica era acompanhada de fenômenos de efeitos físicos. Objetos atirados com violência, vasilhas de líquido derramadas, levitação do rapaz diante dos exorcistas, livro de preces rasgado totalmente em pedacinhos, na mão do padre, de maneira instantânea. Os padres amarraram o rapaz a uma cadeira e o Espírito levitou a cadeira com o rapaz, logo a seguir. Vergões e inscrições apareciam na pele do rapaz, que se contorcia de dor, nesses momentos. Todos estes são fenômenos conhecidos no Espiritismo como de efeitos físicos e produzidos abundantemente em médiuns diversos que possuam a qualidade que hoje em parapsicologia se chama de PsiKapa. Os padres jesuítas de Filadélfia levaram o rapaz à cidade de São Luís submetendo-o ao exorcismo do Padre Braudernen, diretor da Faculdade de Teologia da Universidade daquela cidade. O rapaz foi internado no convento e ficou em tratamento durante quase 2 meses pelos padres, que jejuavam, aplicando, no caso, as regras e as fórmulas do ritual católico de exorcismo, durante o dia e a noite, passando mesmo até madrugadas em claro para atenderem ao rapaz. O padre Braudernen, segundo declarações atuais do padre Ohara, chegou a perder 25 ou 30 quilos de peso, em 6 semanas de trabalho. Mas nenhum padre morreu, nem sofreu qualquer prejuízo de ordem física que provocasse um aleijão, por exemplo. A morte de alguns padres, no romance, corre por conta exclusiva da imaginação do romancista, não correspondendo, portanto, ao fato real em que ele se baseou.

 

A nossa ouvinte diz: “o exorcismo foi eficaz, portanto está provado que existe o diabo”, e acrescenta: “o ritual espírita não produziu efeito.” Acontece que, como já dissemos, não existe ritual espírita de exorcismo. No Espiritismo, não há exorcismo, o que há é simplesmente o tratamento dos casos de obsessão, atacando-os por duas formas, ou seja, por dois lados diferentes. Vamos esclarecer este ponto. Ataca-se o caso de obsessão, do lado espiritual, procurando-se atender às necessidades dos espíritos obsessores, esclarecendo-os e mantendo-os, de maneira ativa, no sentido de se converterem ao bem. É o que Kardec chama "processo de conversão". Não se trata de converter ao Espiritismo mas converter os Espíritos maléficos ao Bem, retirar a mente desses obsessores do apego ao passado, a acontecimentos criminosos que os marcaram na vida e orientar a sua mente nos rumos da recuperação moral. Do lado material ou humano, procura-se esclarecer o obsedado, desviar também a sua mente de problemas que o perturbam e orientá-la no sentido de uma compreensão mais elevada da finalidade da vida. É também uma conversão, sem dúvida. Em ambos os casos trata-se, portanto, de esclarecer os espíritos obsessores e as pessoas obsedadas quanto ao verdadeiro significado da vida e da existência humana, de maneira a que não estejam entregando-se a excessos de vingança e de ódio, que geralmente caracterizam o fundamento dos casos obsessivos.

 

Se algum espírita norte-americano apareceu, no caso desse rapaz, e tentou afastar o Espírito com gestos, palavras e qualquer encenação ritual, é evidente que não conseguiria nada. E é evidente, também, que não estava em condições de aplicar, no caso, o tratamento verdadeiramente espirítico. Basta vermos o tempo que os próprios padres exorcistas empregaram no tratamento do rapaz, para compreendermos que não se tratava de maneira alguma, de tirar a obsessão com as mãos. O caso era grave e requeria tempo. E além de tempo, abnegação, amor e sacrifício. Nossa ouvinte poderia agora perguntar: Mas então, o ritual católico do exorcismo tem valor, ou não tem? Ninguém poderá negar o valor de preces e, até mesmo, de ritos de qualquer religião, desde que empregados com abnegação, com sinceridade e, sobretudo, com amor. O simples fato de o padre Braudernen haver perdido de 25 a 30 quilos de peso mostra que os padres jesuítas se dedicaram ao caso de corpo e alma. Padres, pastores, ou seja, sacerdotes de qualquer religião ou, mesmo, de religiões não cristãs, desde que sinceros e devotados, podem solucionar esses casos, pois todos somos filhos de Deus e Deus não faz acepção de pessoas, não se interessa por rótulos religiosos, mas pelas intenções das criaturas. Note-se, porém, o seguinte. Os padres lutaram mais e mais penosamente do que lutariam os espíritas, porque o seu ritual não se interessa pelos obsessores. Estes são tratados como entidades diabólicas e simplesmente rejeitadas, enviadas de volta ao Inferno. No caso espírita, os obsessores merecem a mesma atenção e o mesmos cuidado que se dispensa ao obsedado. Os obsessores não são encarados como demônios, mas como espíritos humanos e sofredores, necessitados de ajuda. Não se aplica, no caso, o amor apenas ao obsedado, mas também aos obsessores, que são nossos irmãos, filhos de Deus como todos nós, destinados à salvação e não à perdição. Essa posição espírita que nos livra da ideia herética da existência do Diabo como adversário de Deus, facilita o trabalho de cura. Os espíritos bons, que no Catolicismo são os anjos, encontram maior facilidade para a sua atuação benéfica. A rejeição do obsessor como criatura diabólica irrita o obsessor e naturalmente dificulta a cura.

 

As pessoas que desejarem compreender este problema através de exemplos concretos, devem ler o livro Obsessão, de Allan Kardec. Este livro se constitui de numerosos casos relatados por Kardec na coleção da "Revista Espírita". Há casos muito mais complexos e impressionantes do que o deste rapaz de 14 anos. Os espíritas belgas organizaram este livro e o publicaram na Bélgica. A editora O Clarim, de Matão, traduziu-o para a nossa língua e lançou a edição brasileira. Em qualquer livraria espírita, este livro é encontrado. Mas ele não teve a repercussão de O Exorcista, porque não foi usado como romance e porque os livros espíritas sofrem, como sabemos, o prejuízo dos preconceitos religiosos, no tocante à sua divulgação pública. Nossa ouvinte deve ler este livro, se realmente quiser esclarecer o assunto. Verá então que o diabo não existe, que as manifestações diabólicas nada mais são que manifestações de Espíritos sofredores, ignorantes, arrastados à prática do mal por terem sofrido sem resignação às suas provas quando viveram na Terra. O Diabo pertence à mitologia. É uma forma alegórica de personificação da maldade humana. Se o Diabo existisse, o mal seria eterno e absoluto como Deus, e isso é simplesmente um absurdo. É mesmo, podemos dizer sem dúvida, um pensamento herético. O mal é relativo e passageiro. A maldade humana nasce da ignorância e desaparece com o esclarecimento. Os espíritas creem na sabedoria, que é atributo de Deus, e não do Diabo, e a verdadeira sabedoria é sempre altamente moral, só busca o Bem e a Verdade.

 

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Pergunta 2: O senhor não era protestante?

 

Locutor - Professor, a senhora Maria José Galup da rua das Rosas, Vila Mariana, pergunta: O senhor quando morava na Rua das Camélias, aqui no meu bairro, não era protestante e frequentava a igreja Metodista livre? Quando e por que o senhor mudou de religião?

 

J. Herculano Pires - Não, nunca fui protestante, a senhora se engana. Realmente eu morei na Rua das Rosas, na Rua das Camélias e também na Rua das Rosas. Me lembro até que morei na Rua das Camélias, número 40. Acontece que o pastor Emerenciano da Igreja Metodista Livre, por sinal que esta igreja é uma igreja japonesa, foi o metodismo desenvolvido no Japão. E o pastor Emerenciano, que era nortista, se não me engano pernambucano, falava muito bem o japonês. Eu não falo japonês, mas sei que ele fala muito bem porque conversava amplamente com japoneses como se fosse um japonês. Pois bem, o pastor Emerenciano foi designado pela Igreja Metodista Livre para construir uma igreja ali no Mirandópolis, que era o nome do bairro, me parece que ainda hoje, Mirandópolis. Mas o pastor não dispunha de elementos para isso na sua Igreja, de elementos que pertencessem à igreja. Então ele começou a visitar as famílias ali, das redondezas, e pedir auxílio. Pedir que fossem à casa dele onde ele fazia um culto aos domingos. Então, minha mulher, que é espírita e sempre foi espírita, se interessou por ajudar o pastor. Sabia que ele tinha necessidade de amparo, de auxilio, de estímulo. E foi lá várias vezes, assistir o culto do pastor, levou as crianças para participarem. Porque nós, espiritas, não temos preconceito religioso, todas as religiões para nós, desde que praticadas com amor e com sinceridade, são boas. E algumas vezes eu também compareci ao culto. Depois, o pastor conseguiu construir a Igreja. Nós auxiliamos, inclusive contribuindo em dinheiro para que ele construísse a igreja. E ele fazia questão sempre que, nas festas da igreja, nós estivéssemos presentes. Mas ele sabia que nós éramos espiritas e eu até muitas vezes brincava com ele: "Pastor, nós vamos à sua igreja, o senhor não quer comparecer a uma sessãozinha?" Ele ria e dizia: “Ah, eu irei e coisa..", mas não ia, porque tinha medo do Diabo. De maneira que a senhora se engana, eu nunca fui protestante. Eu fui católico, porque nasci em família católica, fui educado no catolicismo, mas depois na adolescência, eu rompi com o catolicismo, porque não podia aceitar os dogmas católicos. E não demorou muito, me encontrei com o Espiritismo onde fiquei até hoje.

 

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Pergunta 3: A reencarnação e a comunicação dos mortos.

 

Locutor - Professor, ela pergunta ainda. O Espiritismo prega a reencarnação e comunicação dos mortos. Já ouvi o senhor dizer que o Espiritismo é cristão, mas o Cristianismo é contrário a essas coisas. O senhor, que já foi protestante, sabe disso muito bem. Como me explica isso?

 

J. Herculano Pires – Bom, tenho de repetir que eu nunca fui protestante. Nunca, nunca, nunca. Admiro os protestantes, gosto muito do trabalho evangélico deles. Considero, mesmo, que os protestantes realizaram um trabalho precursor do Espiritismo, com a divulgação do Evangelho que o catolicismo não permitia. Eles é que divulgaram. A começar de Lutero e Calvino, os Evangelhos foram retirados, por assim dizer, das criptas das catedrais, e foram divulgados nas línguas nacionais, quando só podiam ser impressos e divulgados em latim e grego. De maneira que o trabalho do protestantismo no mundo é um belíssimo trabalho, eu admiro muito os protestantes, mas nunca fui um protestante.

 

No tocante ao problema do Cristianismo, eu perguntaria à senhora. A senhora diz que o Cristianismo não aceita a reencarnação. Será verdade? A senhora se lembra de que Jesus (no Evangelho, está lá escrito, não é? Ninguém pode tirar isto, está lá escrito) ensinou a Nicodemos que era preciso nascer de novo? E que Nicodemos estranhou e perguntou a ele: “Mas Mestre, como nascer de novo? Então devo entrar de novo no ventre de minha mãe e tornar a nascer?” E Jesus respondeu a ele: “És mestre em Israel e não sabes estas coisas?” Estranhou que um mestre em Israel não conhecesse o problema da reencarnação. E por que ele estranhou? A história da religião judáica nos mostra porquê. E os próprios Evangelhos nos mostram o porquê. Quando Jesus começou a pregar, o que diziam os judeus? Que ele havia ressuscitado, era um profeta antigo que havia ressuscitado. Quando João Batista apareceu, todo mundo logo começou a dizer que ele também era um dos profetas antigos. E Jesus confirmou isso, quando respondeu: “Ele é o Elias que devia vir e veio e não o conheceram e dele fizeram o quanto quiseram.” Então a reencarnação está bem clara no Evangelho. Mas não é só neste ponto, há muitos outros pontos no Evangelho. Por exemplo, o caso daquele cego de nascença que perguntaram a Jesus: “Afinal de contas, quem pecou? Ele nasceu cego. Os pais pecaram e ele, então, está sofrendo a pena?” E Jesus disse: “Não, não foram os pais que pecaram, foi ele quem pecou antes de nascer.”

 

Ora, é muito curioso que, por exemplo, os teólogos católicos, quando estudaram este assunto chegaram a uma conclusão muito curiosa, muito interessante. Disseram "bom, ele pecou no ventre da mãe". Ora, o Espiritismo não aceita isto. Isto, está evidente que se trata de uma vida anterior. Ele pecou antes de nascer ali, naquele momento. Pecou na vida anterior. Porque Jesus também ensinou: “quem com o ferro fere, com o ferro será ferido". Ele ensinou portanto a lei de causa e efeito. Ele disse mesmo: “Se o teu olho te escandaliza, arranca-o e joga-o fora de ti, porque te é melhor entrar na vida com um olho só ou cego, do que entrar com os dois olhos e perder a alma”. Jesus ensinou constantemente a lei da reencarnação, do renascimento necessário. Certas igrejas cristãs interpretaram o renascimento como o renascimento da água do batismo. Quando se batiza uma pessoa, a pessoa renasce espiritualmente. Assim se dizia na Antiguidade. Então entenderam que o batismo era um renascimento. Mas acontece que o batismo de João que era o batismo da água, o próprio João chamava de batismo da penitência. E no Evangelho está bem claro isto, o batismo da penitência não é um renascimento, é uma modificação, uma renovação de conduta do homem na vida. O homem faz a penitência de declarar de público, na hora do batismo, os seus pecados e prometer que, dali por diante, não pecará mais. Foi o que Jesus disse à mulher adúltera, que não deixou que a apedrejassem e a mandou embora dizendo: “Agora vai e não peques mais.” Quer dizer, então, havia o rito da penitência, que era o batismo na água. Mas João Batista disse: “Eu batizo em água. Mas atrás de mim virá aquele que batizará no fogo e no espírito santo.” Ora, nós estamos vendo, então, que o problema da reencarnação, das vidas sucessivas é um problema que consta do próprio texto evangélico e é colocado, nesse texto, na boca de Jesus. Não são os apóstolos que dizem. Jesus estranhou, por exemplo, que Nicodemos não soubesse que há reencarnação. Então ele explicou a Nicodemos. Ele disse bem claramente. É preciso nascer de novo. Nascer da água e do espírito. Por esta expressão "nascer da água", certas igrejas entenderam que se referia à água do batismo. Acontece que Jesus não batizou em água e nem mandou ninguém batizar em água. E acontece, também, que a água, durante toda a Antiguidade, representava o elemento gerador da matéria. Tudo quanto vinha da água era matéria e o que vem do espírito, é do espírito. Por isso Jesus completa, no texto evangélico, este ensino quando diz assim: “o que vem da carne é carne, o que vem do espírito é espírito.” Está bem claro. Se a senhora ler com atenção o texto evangélico, pondo de lado os preconceitos religiosos contra o problema da reencarnação, a senhora verá que Jesus ensinou a reencarnação.

 

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Pergunta 4: O Que é o passe? É coisa de magia africana?

 

Locutor - Professor, o ouvinte Alberto Carrone da Rua 24 de Maio pergunta: Primeiro. O que é o passe? Me disseram que é coisa de magia africana. Está certo?

 

J. Herculano Pires - Não. O passe foi ensinado por Jesus. Está no Evangelho, está no livro de Atos, está nas Epístolas. O passe é simplesmente a imposição das mãos. Jesus curava por imposição das mãos. E Jesus ensinou os apóstolos a curarem pela imposição das mãos. Lembra-se, por exemplo, que certa vez, segundo relato evangélico, Jesus reuniu setenta dos seus apóstolos e os distribuiu, os mandou, dos seus discípulos, e os mandou a 70 cidades, de 2 em 2, com a missão de curar e pregar o Evangelho. E curar de que maneira? Impondo as mãos aos doentes. A imposição das mãos é o que nós chamamos no Espiritismo, passe. É uma prática legitimamente cristã ensinada por Jesus.

 

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Pergunta 5: Onde e como eu poderia falar com o espírito de meu pai?

 

Locutor - Segundo: No Espiritismo, se diz, fala-se com os Espíritos mortos. O senhor já falou com algum Espírito? Onde e como eu poderia tentar falar com o Espírito de meu pai?

 

J. Herculano Pires – Não existem Espíritos mortos. Nós podíamos dizer os Espíritos dos mortos. Mas Espíritos dos mortos, na verdade são os próprios mortos. Porque quando nós morremos, nós renascemos, como Jesus ensinou. E o apóstolo Paulo vai ainda mais longe. Ele explica isto de uma maneira bem clara, na I Epístola aos Coríntios. Tantas vezes, eu tenho repetido isto. Está lá, no apóstolo Paulo, diz: nós temos corpo material e corpo espiritual. Morre o corpo material e enterra-se ele, mas renasce, ressuscita o espiritual. Então, quer dizer, o que morre é simplesmente o corpo animal do homem, o corpo material. O espírito continua, porque o espírito é o homem. Nós não somos corpo, nós somos Espírito. Nós vivemos num corpo, servimos dele como um escafandrista, para descer ao fundo do mar, se reveste do escafandro. Os peixes se pudessem pensar e tivessem o conhecimento, pensar no sentido humano, e tivessem o conhecimento das coisas da Terra, da vida humana, ao verem o escafandrista, eles iam pensar que estavam vendo um homem, um homem na sua verdadeira estrutura natural. Então pensariam que o capacete do escafandro, a própria cobertura do escafandro para o resto do corpo, tudo aquilo representava a pele do homem. Eles não saberiam que o homem estava dentro de um instrumento, de um aparelho. Assim nós fazemos aqui na Terra. Olhamos as criaturas revestidas de matéria, de carne. As criaturas que se manifestam na vida material através de corpos de origem animal como são os nosso corpos e pensamos que isto é o homem. Não. O homem é o que está dentro disto. É a força que anima este corpo. É aquilo que os russos materialistas acabam de descobrir e consider como o corpo energético do homem, o corpo bioplástico ou bioplasmático, como dizem. Quer dizer, o corpo essencial ou verdadeiro corpo do homem.

 

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Pergunta 6: Não seria melhor a gente deixar os Espíritos em paz lá onde eles estão?

 

Locutor - Terceiro: Apesar de interessado no assunto, quero dizer-lhe uma coisa. Não seria melhor a gente deixar os Espíritos em paz, lá aonde eles estão?

 

J. Herculano Pires – Sim. Se eles também nos deixassem em paz. Acontece que os Espíritos é que nos procuram. Ninguém foi evocar Espíritos para provar que os Espíritos existiam. Os Espíritos se manifestaram, desde que o mundo é mundo. Ora, o senhor deve ter sabido que, nas religiões antigas, costumava-se conversar com os Espíritos. Os Espíritos se manifestavam por toda parte. O senhor deve saber que, no Judaísmo existia, e existe até hoje, a prática do exorcismo, que é o afastamento de Espíritos que se apossam de certas criaturas. No Catolicismo, existe também. No Protestantismo, existiu com Lutero. Foi mantida a prática do exorcismo e só posteriormente, em virtude da intervenção de Calvino e das suas teorias, o exorcismo foi afastado. Mas os protestantes sabem que existem os Espíritos e que os Espíritos se manifestam. Então, nós sabemos perfeitamente que os Espíritos existem, não distante de nós. Eles não estão no inferno, no meio da Terra como se costuma dizer, nas origens das erupções vulcânicas. Eles não estão nos espaços infinitos. Eles estão aqui ao nosso redor. Eles convivem conosco.

 

A teoria cientifica recente dos universos paralelos, é explicada no Espiritismo, como universos interpenetrados. A matéria, como sabemos, não é densa como nós pensamos. Ela é porosa, por assim dizer. Ela é constituída de átomos e existem numerosos espaços vazios entre os átomos. Nestes espaços, nós podemos considerar assim, para compreendermos o assunto, nestes espaços interfere o outro mundo, o mundo espiritual interpenetrado na Terra. Assim, os Espíritos vivem ao nosso redor, embora não vivam no nosso plano. Eles vivem no plano espiritual, mas podem comunicar-se conosco. E eles comunicam-se, independente de nossa vontade. A maioria dos médiuns que existem no mundo, a maioria desses médiuns, na verdade, não foi uma maioria que provocou os Espíritos, para se tornarem médiuns. Os médiuns aparecem espontaneamente, porque os espíritos se apossam deles. Os Espíritos se comunicam independente da vontade dos médiuns. E por isso mesmo muitos espíritas se tornaram espíritas, em virtude de manifestações inesperadas dos Espíritos. Nenhum espírita vai perturbar a paz dos mortos, como se costuma dizer. Nós, espíritas, apenas aceitamos os mortos como vivos. Porque eles são mais vivos do que nós. E temos prazer em conviver com eles, porque eles convivem conosco.

 

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O Evangelho do Cristo, em espirito e verdade.

 

Abrindo o Evangelho ao acaso, saiu o seguinte. Evangelho de João 18: 25-27. “Simão Pedro lá estava, aquentando-se. Perguntaram-lhe pois: “não és tu também um de seus discípulos?” Ele negou dizendo: "não sou". Um dos servos do sumo sacerdote, parente daquele a quem Pedro tinha decepado a orelha perguntou: "não te vi eu no jardim com ele?". De novo Pedro o negou. E no mesmo instante cantou o galo.”

 

Vê-se, neste pequeno trecho do Evangelho de João, com uma clareza absoluta, quase que retratado em forma fotográfica, o episódio da negação de Pedro. Pedro negando a Jesus, de acordo com aquilo que Jesus mesmo havia profetizado quando disse a ele: “antes do galo cantar me negarás três vezes". Eterna fragilidade humana. O apóstolo Pedro, aquela rocha. Porque ele se chamava Simão. E Jesus ao incluí-lo entre os seus apóstolos, ao levá-lo para o acompanhar nas pregações, disse: "te chamarás Pedro". Porque considerou que Pedro era uma rocha, era uma pedra, era firme, inabalável. E no entanto, o próprio Jesus percebeu depois que a fragilidade humana ia fazer que Pedro o negasse 3 vezes, antes do amanhecer, antes de cantar o galo. Ora, nós vemos então a fotografia perfeita, a cinematografia, aquela cena clara. Pedro sentado ali, se esquentando no frio da madrugada e, interpelado pelo pretoriano, imediatamente diz: "Não, não, eu não tinha nada com esse homem, eu não quero saber dele, Deus me livre", né? "Eu nem o conheço, não sei quem é ele". Ora, isto mostra como as criaturas humanas, por mais destacadas no plano religioso, estão sujeitas a fracassos, a quedas. A fragilidade humana é natural. O Espírito encarnado é ainda um Espírito frágil. Ele está no mundo para evoluir, para desenvolver as suas potencialidades interiores. E ele não pode se julgar infalível. A infalibilidade do homem, esteja ele em que posição estiver, é uma ilusão, é um engano. Não existe essa infalibilidade. O apóstolo Pedro faliu. Mas, nem por isso, ele foi afastado da sua missão, do seu trabalho, porque ele se arrependeu. Ele voltou a si e procurou corrigir-se e dedicou-se depois ao Cristianismo, e como nós sabemos, ele mostrou que realmente era uma pedra. Porque nem mesmo aquele fracasso temporário, ocasional, na hora difícil da crucificação, nem mesmo aquilo conseguiu abalar a sua firmeza no processo do Cristianismo, a sua fidelidade aos princípios de Jesus. Ele arrependeu-se e corrigiu-se.

 

Diz Alan Kardec que o arrependimento é apenas o primeiro passo do resgate de uma culpa. Muita gente pensa "eu me arrependi e pronto, está resolvido". Não. O arrependimento é o primeiro passo. O segundo passo é a reparação. Nós nos arrependemos de ter feito o mal. Então agora precisamos reparar o mal. E vamos repará-lo, se quisermos realmente obter o perdão. Seja da pessoa a quem ofendemos, seja do próprio Deus, da Justiça Divina. Ora, Pedro sabia disso. Ele arrependeu-se e reparou a sua falta. Reparou como? Dedicando-se de corpo e alma ao Cristianismo depois desta queda. Ele não se impressionou com a queda. Se Pedro houvesse se impressionado, podia afastar-se do Cristianismo e, daí, falir por completo. Por isso, esta missão do Evangelho é de grande importância para nós. Uma vez que nós, diante do mundo estamos sempre em face de um possível fracasso. Quando nós cometemos um fracasso, por mais grave que ele nos pareça, devemos nos lembrar de que caímos. Mas quem cai se levanta. E quem consegue se levantar, firmar os pés e avançar para a frente, tem a oportunidade de reparar o mal que fez, de reparar a falta cometida e de novamente se revigorar no caminho que tem que seguir.

 

O exemplo de Pedro é maravilhoso, neste sentido. E nós sabemos que Pedro dedicou-se de tal forma ao Cristianismo, que depois, nas suas pregações, no seu trabalho evangélico, na sua dedicação à propagação dos ensinos de Cristo, Pedro não vacilou mais hora nenhuma. Houve momentos de engano ainda na vida dele, é verdade. Como aquele momento no porto de Jope, que nós já comentamos tantas vezes aqui. Ele não se lembrou que o Cristo havia ensinado que todos os homens são filhos de Deus, e que não há separação entre os homens. Mas depois, ele compreendeu o erro e voltou novamente atrás. Então, está muito certa aquela expressão popular que todos conhecemos – "errar é humano" – mas não podemos perseverar no erro, temos de voltar atrás e corrigir-nos. Muitas pessoas dizem: "eu não posso ser religiosa, não posso seguir uma senda espiritual porque sou muito fraca. Eu me deixo cair. Eu caio constantemente". É como diz... Porque aquele que cai, sabe que pode levantar. Enquanto se tiver força para levantar, não importa cair. Quem cai se levanta e avança para a frente. Pedro avançou de tal maneira que nós sabemos que, quando o condenaram à crucificação em Roma, segundo a tradição, segundo consta da tradição evangélica, quando o condenaram à crucificação, ele disse: "Tenho um pedido a fazer. Me crucifiquem de cabeça para baixo, porque eu não sou digno de morrer como Cristo morreu". Veja-se, aí, que a firmeza de Pedro se restabeleceu por completo até o fim de sua existência.

 

Nada se acaba. Tudo se transforma. A morte é a passagem da vida menor para a vida maior. Não tenha medo da morte, não se assuste com essas histórias de diabo e inferno. O céu e o inferno estão em nós mesmos, na nossa consciência. Viva a vida com amor. Cultive a paz. Deus é pai, não é carrasco. Tenha confiança em Deus.

 

No Limiar do amanhã. Não olhe para trás. Olhe para a frente.

 


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