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heculano microfone

J.Herculano Pires foi comunicado que Roberto Montoro, proprietário da Rádio Mulher, pretendia colocar na programação da emissora um programa espírita semanal, com a duração de uma hora. E mais: desejava fosse o programa estruturado e apresentado por ele.  O apóstolo de Kardec aceitou o convite, pois lhe fora assegurado que teria a mais ampla liberdade, “podendo tratar do espiritismo em todos os seus aspectos, sem restrição, e responder a qualquer pergunta” dos ouvintes.

No Limiar do Amanhã ia ao ar aos sábados à noite e obteve sucesso imediato em São Paulo. A Rádio Mulher passou a reprisá-lo aos domingos, pela manhã. A Rádio Morada do Sol, de Araraquara e a Rádio Difusora Platinense, de Santo Antônio da Platina, no Paraná, retransmitiram-no, também, com expressiva audiência. O vigoroso programa prestou inestimável serviço à doutrina espírita durante três anos e meio. Herculano Pires, obviamente, jamais aceitou da Rádio Mulher qualquer espécie de remuneração.

Nesta seção do site, você vai poder ouvir os áudios originais dos programas, e também ler o texto  integral da transcrição.

 AGRADECIMENTOS

A Fundação Maria Virgínia e J. Herculano Pires agradece a todos os que colaboraram com a criação do acervo desta seção, doando gravações dos programas, em especial a Aldrovando Góes Ribeiro, Maria de Lourdes Anhaia Ferraz e Miguel Grisólia.


No limiar do amanhã. Um desafio no espaço.  
Arquimedes, o sábio e herói grego do século III antes de Cristo, pediu que lhe dessem um ponto fixo no espaço e uma alavanca e ele moveria a Terra da sua posição. Demonstrava assim, sua confiança no poder da alavanca.
 
Jesus de Nazaré, quase quatro séculos mais tarde, serviu-se de um ponto móvel, o inquieto coração do homem, e da palavra etérea do evangelho, para deslocar o mundo das trevas e lançá-lo na órbita da luz.
 
O mundo antigo apoiava-se em tradições e superstições. Estruturava-se na força e na violência. Suas religiões politeístas e mágicas refletiam as imperfeições de um homem dominado pelos instintos inferiores. A selvageria dominava o planeta.
 
O evangelho arrancou o mundo da barbárie ao penetrar o coração do homem. Modificados os sentimentos humanos à luz da razão, conseguiu romper os grilhões do primitivismo e libertar o homem de seu passado selvagem. Os instintos dominantes foram superados pelo desenvolvimento dos sentimentos. O cristianismo nascente ancorou a sua bandeira de redenção na face da Terra.
 
Mas o mundo novo que o cristianismo forjou não é estático e continua sua marcha para o futuro. De século para século, grandes modificações se processam. Neste momento de acelerada evolução, as mudanças devem ser pautadas pelas linhas do evangelho. As palavras do Cristo nos lembram mais uma vez que só pelo amor conseguiremos afastar da Terra o egoísmo, o ódio, a crueldade e a guerra.
 
O plano de ação do cristianismo previu o tempo da palavra e o tempo do espírito. Jesus anunciou a vinda do Espírito da Verdade para quando a palavra tivesse vencido. O apóstolo Paulo esclareceu que a letra mata e só o espírito vivifica. A palavra escrita presa na letra encerra o espírito como a semente encerra a planta. 
 
Para que a planta germine, a semente deve romper-se. Para vivermos o cristianismo em espírito e verdade, temos de penetrar no espírito da palavra evangélica. Só o espírito vivifica.
 
Melhoremos o mundo, melhorando-nos a nós mesmos. A batalha pela transformação do mundo começa no coração de cada um de nós.
 
No limiar do amanhã. Um programa desafio. Produção do grupo espírita Emmanuel. Transmissão 164, quarto ano. Locutores: Jurema Iara e José Pires. Sonoplastia: Paulo Portela. Técnica de som: Benê Alves. Direção e participação do professor Herculano Pires. Gravação nos estúdios da Rádio Mulher, São Paulo.
 
Este programa é transmitido todas as semanas neste dia e neste horário pela Rádio Mulher 730kw, São Paulo. Pela Rádio Morada do Sol 640kw, Araraquara. E pela Rádio Difusora Platinense 780kw, Santo da Antônio da Platina, Paraná. Todas as semanas, neste dia e neste horário.
 
Diálogo no limiar do amanhã, uma busca radiofônica da verdade. A verdade tem duas faces, uma que vemos, outra que não vemos. Uma material, a outra espiritual. Não olhe a verdade só de perfil.
 
 
***
 
Pergunta 1: Como e por que o senhor se tornou espírita?
 
Locutor
- Professor, a ouvinte Ambrosina Vaz Fagundes, da Rua da Mooca, pergunta: Perdoe-me, professor, mas preciso fazer esta pergunta. Como e porque o senhor se tornou espírita?
 
JHP -  Eu me tornei espírita simplesmente pelo seguinte. Por haver encontrado muitas dificuldades na aceitação de certos problemas que eram propostos pela religião minha de nascença, pela religião de família, que era o catolicismo. Não achando as soluções dadas por esta religião, compatíveis com aquilo que minha consciência exigia do ponto vista lógico, eu tive naturalmente de buscar outras explicações. E assim fui levado naturalmente por esta curiosidade e o desejo de encontrar realmente respostas satisfatórias, por outros caminhos, até encontrar o Espiritismo. No dia em que me caiu nas mãos O livro dos espíritos, que me foi dado, eu sempre gosto de mencionar isto, pelo meu velho e saudoso amigo Dadício de Oliveira Bolé, nesse dia, lendo O livro dos espíritos, eu comecei a sentir que encontrara as respostas que desejava. E faz isto mais de 38 anos. 
 
Pergunta 2: Como o Espiritismo explica a diferenciação das raças humanas? Há raças superiores e inferiores?
 
Locutor
- Outra pergunta da ouvinte Ambrosina. Como o Espiritismo explica a diferenciação das raças humanas? Há raças superiores e inferiores?
 
JHP  -  O Espiritismo explica que a diferenciação das raças humanas decorre de vários fatores. Por exemplo, quando o nosso planeta foi criado, quando ele se constituiu no Universo como um novo planeta capaz de receber a vida e, no seu desenvolvimento, atingiu aquele ponto em que podia receber a vida humana, algumas raças que são consideradas pelo Espiritismo como primitivas da Terra, como aqui nascidas, aqui desenvolvidas, começaram então a surgir no planeta. Mas posteriormente, como acontece sempre no Universo, onde os mundos são numerosos e há aquilo que chamamos a "migração dos mundos", ou seja, a migração de populações de um mundo para outro, de acordo com as necessidades evolutivas, então outras raças apareceram na Terra. São as raças que vieram de fora. Aconteceu no tocante, acontece no tocante aos planetas no espaço, o mesmo que acontece aqui na Terra no tocante aos continentes. Por exemplo, quando os europeus chegaram à América, encontraram aqui as raças aborígenes. Raças que eram próprias da América. Tinham se desenvolvido aqui, embora nós saibamos que há possibilidade de terem vindo, por exemplo, da Ásia. Mas seja como for, essas raças é que predominavam, é que dominavam a América. Assim, quando os europeus chegaram, eles trouxeram novas contribuições para a modificação da população, do sistema social, da vida e o desenvolvimento da cultura na América. Sabemos que civilizações americanas existiam, bastante importantes como os maias, os incas, os astecas. Os maias e os astecas, no México. Os incas, no Peru. Que eram povos já civilizados, com estrutura social muito bem organizada, com um sistema de vida realmente civilizado. Todas essas raças entretanto, foram atingidas pela invasão dos brancos europeus, que, na verdade, as conquistaram e impiedosamente as submeteram ao seu jugo, a ponto de dizimá-las, em grande parte.
 
Mas no planeta, na migração dos mundos, que é presidida não apenas pelos homens, mas por entidades superiores que regem o destino dos mundos, nós não encontramos esse mesmo processo. As raças superiores que vieram à Terra, trouxeram uma contribuição civilizadora para as raças que aqui se encontravam. São consideradas, por exemplo, como se pode ver no livro A caminho da Luz de Emmanuel, psicografado por Chico Xavier, como raças que apareceram aqui na Terra trazendo sua contribuição para esta evolução. Os árias, de que resultaram os arianos na Índia. Os egípcios, os egípcios antigos, que também desapareceram do planeta. A atual raça egípcia, como sabemos, é árabe e não propriamente egípcia. E os gregos primitivos, que também não constituíram a mesma raça de gregos que hoje existe. Assim nós temos também a explicação do fato por que na Grécia, por exemplo, desenvolveu-se, há cinco séculos antes de Cristo, uma civilização superior, que foi considerada por alguns pesquisadores e historiadores como um verdadeiro milagre. Não se podia explicar precisamente como, numa terra tomada na sua extensão quase total por populações infinitamente inferiores àquele povo, como aquele povo pôde atingir um nível cultural tão grande que, até hoje, as suas teorias e as suas doutrinas ainda estão balizando, por assim dizer, o nosso desenvolvimento cultural. Basta dizer que a própria Era Atômica, em que nós estamos vivendo, ainda está dentro da concepção grega, pois o problema dos átomos, como sabemos, foi colocado por Leucipo, Demócrito e outros filósofos gregos, que explicavam a estrutura do mundo como sendo atômica.
 
E assim por diante, todas as grandes conquistas da nossa civilização estão ainda sempre dentro dessa concepção grega. Bastaria isto para nos provar que essa raça que se extinguiu, como extinguiu-se a egípcia, essa raça era realmente superior. A diferenciação de raças na própria Terra explica-se pela diferenciação climática. As várias regiões da Terra foram habitadas por populações que resultavam de evolução das espécies animais. Os corpos humanos como sabemos estão ligados diretamente à evolução das espécies animais na Terra. Nós somos, mesmo, considerados, na escala zoológica, quando quisermos confrontar o homem com as espécies animais, nós somos considerados como animais mamíferos e vertebrais. Pertencemos inevitavelmente a essa escala. Assim, o aparecimento das raças humanas na própria Terra, antes da vinda dessas populações de outros mundos, este aparecimento diferenciou-se de acordo com os locais, sofrendo as influências mesológicas, ou seja, as influências do meio em que se desenvolviam. Os processos e sistemas de alimentação, a influência solar, as influências meteorológicas em geral. E tudo isto contribuiu para as diferenciações que se estabeleceu.
 
Pergunta 3: Posso aceitar o Espiritismo sem deixar minha religião?
 
Locutor
-  Professor, o ouvinte Mário Pacini, da Rua Aurora, pergunta. Primeiro, posso aceitar o Espiritismo sem deixar a minha religião? Li que no tempo de Kardec havia espíritas católicos e espíritas protestantes. Por que agora combatem isso?
 
JHP -  Realmente, no tempo de Kardec houve isso, porque Kardec não tinha nenhuma intenção de fundar uma nova religião. Geralmente, nós encontramos em algumas enciclopédias e em alguns livros dedicados a história das religiões, a informação errônea de que Kardec queria ser uma espécie de fundador de uma nova religião. Ele não teve essa intenção. Ele procurou desenvolver aquilo que chamou de "ciência espírita". A sua posição foi muito clara e está explicada nas suas obras. Ele entendeu que os fenômenos espíritas nos davam a possibilidade e esta possibilidade vinha corresponder a uma exigência do desenvolvimento científico na Terra. A possibilidade de investigar o problema do espírito através dos fenômenos, porque os fenômenos que são materiais, entretanto são produzidos por forças espirituais. Então, entendeu ele o seguinte: as ciências, dizia ele, seguem sempre o processo material, investigam a natureza material esquecendo-se do outro aspecto da natureza, que é o espiritual. É necessário que surja uma ciência que realmente corresponda este outro aspecto. Essa ciência foi, segundo ele, a ciência espírita, que tinha por finalidade oferecer a explicação cientifica dos problemas que as religiões solucionavam através da antigas revelações, das antigas tradições religiosas do mundo. Ora, as ciências materiais haviam demonstrado que muitas afirmações da tradição e das revelações antigas estavam erradas. A ciência as corrigia através da investigação. Então, Kardec entendeu que o avanço das ciências no plano material estava destruindo as religiões e matando o espírito no mundo, a compreensão espiritual da vida. Então, disse ele. O espiritismo aparece como um auxiliar das religiões. A sua finalidade é dar as religiões a possibilidade de enfrentar as ciências materiais no seu próprio terreno e com seus próprios métodos, com as suas próprias armas, portanto. Enfrentando assim o avanço das ciências, as religiões poderiam vencê-las, porque dispunham realmente de recursos para provarem aquilo que afirmavam. Isto nós encontramos principalmente no livro de Kardec intitulado O que é o Espiritismo. Ele declara isto de maneira bem clara, que o Espiritismo surgiu como um auxiliar das religiões.
 
De acordo com esta posição de Kardec, os espíritas não precisavam absolutamente deixar suas religiões. O que devia acontecer é que as religiões aceitassem o Espiritismo como um método, um processo de investigação dos fenômenos espirituais. Mas ao contrário disto, as religiões começaram a expulsar de seu seio aqueles de seus adeptos que aceitavam o Espiritismo. Chegou um momento em que Kardec disse: Não há outro recurso, os espíritas precisam tomar o seu próprio caminho, no campo religioso. Porque eles não podiam permanecer em nenhuma igreja. E assim sendo, Kardec, então, recebeu dos espíritos a informação de que na realidade o destino do Espiritismo teria de ser esse. Porque, no processo de evolução do cristianismo na Terra, o cristianismo havia se fundido, se misturado com vários sistemas religiosos do passado que não permitiam, pelo seu dogmatismo e a sua estruturação rígida, o avanço necessário para a compreensão mais profunda do espírito do cristianismo. E foi assim que o Espírito da Verdade manifestou-se a Kardec e deu-lhe a orientação necessária para o desenvolvimento daquilo que o próprio Kardec chamaria a religião em espírito e verdade, desprovida de todos os aparatos exteriores que constituem os sistemas religiosos antigos.
 
Pergunta 4: Nossa Senhora e o Espiritismo
 
Locutor
-  Professor, por que os espíritas não reverenciam Nossa Senhora e não a reconhecem como mãe de Deus? Jesus não era uma encarnação divina?
 
JHP  -  Os espíritas reverenciam Nossa Senhora. Quem disse isso que eles não a reverenciam? Como poderiam deixar de reverenciar aquela que foi a mãe de Jesus? Aquela que na realidade teve esse destino superior de receber, na Terra, o espírito mais elevado que já esteve entre nós. Eles reverenciam. Os espíritas reverenciam Nossa Senhora e têm por ela a mesma devoção que as pessoas de quaisquer outras religiões. O que eles não admitem, o que eles não concebem e nem podem conceber, é que Nossa Senhora, uma criatura de Deus, possa ser considerada como mãe de Deus. Conhecemos bem, na teologia católica este processo. Sabemos que Jesus é apresentado como o próprio Deus, porque sendo uma parte da trindade divina. Mas no Espiritismo nós não concebemos isto, porque sabemos que Jesus era um espírito superior elevadíssimo, mas que ele mesmo se dizia não apenas filho de Deus, mas também filho do homem. E sabemos que durante todas as suas pregações, ele sempre se colocou numa posição de nosso companheiro, de nosso irmão, para nos elevar a Deus. E que ele mesmo era o primeiro a chamar Deus de Pai. E ele mesmo lembrou aos homens referindo-se ao velho Testamento. Disse ele aos judeus: “então, não diz às vossas escrituras que vós sois deuses?”
 
Assim, a atribuição a Jesus de uma condição que ele mesmo não aceitou, que ele mesmo não disse que possuía, mas que, pelo contrário, contradisse através de numerosas passagens evangélicas, é isto que o Espiritismo não aceita. Não aceita Nossa Senhora como mãe de Deus porque nossa senhora é filha de Deus, é criação de Deus, é criatura de Deus. Deus a criou, como criou a todos nós. Como criou a Jesus. Como criou a todos os espíritos. Deus é o absoluto, o indivisível, o uno. E justamente por isso, tudo aquilo que está manifestado no relativo que somos nós as criaturas humanas e todas as coisas. Tudo aquilo que assim se manifesta no relativo, é criação de Deus. Por isso, São Francisco de Assis, como nós sabemos, um dos espíritos mais elevados que já passaram pela Terra, São Francisco de Assis costumava a chamar as coisas de irmãs. A irmã água, o irmão fogo, o irmão céu, a irmã terra, a irmã Lua, o irmão lobo, e assim por diante. Por quê? Porque São Francisco de Assis na sua elevação espiritual compreendia bem este problema. E é assim que os espíritas fazem. Não dizem que Nossa Senhora seja mãe de Deus, mas sim a mãe de Jesus. A mãe que se preparou para receber a encarnação na Terra do espírito mais elevado que já passou pelo nosso planeta.
 
Pergunta 5: Inferno e zonas infernais
 
Locutor
– Professor, o ouvinte Luiz Araújo Barbiere, do Largo do Arouche, pergunta. Primeiro. Professor, o Espiritismo nega a existência do inferno? Então Por que fala em zonas infernais?
 
JHP – Sim, o Espiritismo nega a existência do inferno na forma geralmente admitida, como sendo uma região sombria, nas profundezas das próprias entranhas da Terra ou em qualquer outro lugar do espaço, destinado ao sofrimento eterno das almas condenadas por Deus. Mas o Espiritismo reconhece a existência de zonas infernais, que são as zonas ainda inferiores. Inferno quer dizer inferior. E, justamente por isso, as zonas inferiores em que os espíritos ainda são brutais, grosseiros, são consideradas como zonas infernais. Por sinal, quero lhe dar uma informação bastante interessante. Kardec no livro O céu e o Inferno, livro de que agora pela primeira vez acaba de sair uma edição em nova tradução completamente anotada, atualizada, estabelecendo comparações entre o que Kardec dizia naquele tempo e o que hoje está acontecendo no campo das religiões. Neste livro, O céu e o Inferno, Kardec colocou muito bem este problema mostrando que o inferno, na verdade representa um estado de consciência do espírito, assim como o céu também. De acordo com a evolução do espírito ele pode viver no céu aqui mesmo na terra. Ou viver no inferno aqui mesmo na Terra. Mas Kardec chega também a esta conclusão. Se quisermos localizar as coisas, localizar as zonas infernais, purgatoriais e celestiais, diz Kardec. Nós tanto poderemos considerar a Terra como purgatório, porque é aqui que as almas vêm purgar as suas faltas, a fim de poderem evoluir, como poderemos considerá-la como o próprio inferno, porque aqui é que nós encontramos uma situação em que os espíritos vivem numa vida completamente destituída das orientações dos mundos superiores. Uma vida em que nós vemos os homens se devorarem uns aos outros e os crimes se multiplicarem por toda parte. Esta é a posição, portanto, do Espiritismo. 
 
Pergunta 6: Se o diabo não existe de onde vem o mal? Deus criou o mal?
 
Locutor
-  Segunda pergunta. Se o diabo não existe de onde vem o mal que existe na terra? Deus criou o mal?
 
JHP -  O mal que nós dizemos, que nós consideramos como sendo realmente O Mal, na verdade ele pertence à própria estrutura do Universo. E só corresponde àquilo que nós consideramos maldade, em vista da nossa situação. Nós não temos a visão do Universo. Dizia Kardec: "O homem se esquece de que ele vê apenas um canto do quadro geral da Natureza. Apenas um canto. Ele não vê a Natureza em geral. Aquilo que nós chamamos mal, pertence às fases inferiores da evolução. Por exemplo, um homem dotado de instintos animais que parecem dominá-lo, que o transformam mais numa espécie de animal do que de homem. Este homem é considerado como dominado por forças diabólicas pelo diabo. A figura do diabo é puramente mitológica. O diabo representa, na mitologia, as forças inferiores da natureza. Assim, a maldade como vemos, não é mais do que um problema de relatividade. Nós estamos numa posição relativa perante as criaturas que consideramos más, porque as comparamos com aquelas que consideramos boas. Mas na realidade, o que se processa no Universo é um desenvolvimento contínuo das fases inferiores da criação para as fases superiores. Se o senhor nos perguntar. Por que isto se dá? Nós teremos de responder que a ciência não trata do "porquê". A ciência trata apenas do "como". Como as coisas se passam? A ciência não procura saber, por exemplo, porque nascem as plantas? Por que as estrelas estão no céu? Por que temos a terra sob os nossos pés? A ciência indaga apenas o seguinte: Como se processa o desenvolvimento das plantas? Como se desenvolveu o mundo, a Terra? Como as estrelas apareceram ou se encontram no céu? Pois o porque pertence a Deus e não, a nós. Nós não sabemos por que Deus criou todas as coisas. Mas sabemos decisivamente, positivamente que ele as criou e então procuramos compreendê-las.
 
Pergunta 7: Como podem os espíritas negar a existência do diabo?
 
Locutor
-  Professor, a terceira pergunta do ouvinte Luiz Araújo Barbieri. Tenho interesse pelo Espiritismo, mas tenho medo de cair numa armadilha do diabo. O papa Paulo VI diz que todo cristão tem de acreditar no diabo. Se não acreditar, estará perdido. Os evangelhos falam no inferno e no diabo. Como podem os espíritas negar o diabo?
 
JHP  -  Os evangelhos falam no diabo, falam no inferno, falam no fogo eterno, na geena de fogo. Porque é preciso compreender que Jesus falava a um povo que não estava ainda em condições de compreender esses problemas em profundidade. Quando uma criatura superior vai, por exemplo, civilizar ou evangelizar um país ainda atrasado e mergulhado em condições mágicas e mitológicas, esta criatura vai usar ali uma linguagem que lhe permita ser compreendido pela população. Jesus usou muitas expressões de que ele necessitava para se fazer compreendido pelo povo do seu tempo. E tanto isto é verdade que, muitas vezes, ele teve de recorrer a símbolos, a alegorias, para poder explicar coisas que não seriam compreensíveis, se ele as manifestasse de maneira abstrata, como devia fazer. Então, ele teve de concretizar aquelas coisas em figuras e imagens que são as alegorias. A geena, como sabemos, era um lugar nos arredores de Jerusalém onde se incinerava o lixo da cidade. Falando geena de fogo, ele apontava aquela geena como um símbolo do que seria, por exemplo, a situação de uma criatura maldosa após a morte, vendo-se atormentada pela chama da sua própria consciência. Essas figuras não foram entendidas. E os cristãos infelizmente transformaram as palavras de Jesus em dogmas que não correspondem ao verdadeiro espírito dos evangelhos.
 
É neste sentido que os espíritas não podem acreditar no diabo. Porque se o diabo existisse, como nos é proposto pelas religiões, o diabo como uma criatura que foi criada por Deus, mas se rebelou contra Deus. Arrastou consigo uma turma de anjos, de espíritos puros que já haviam atingido alta evolução. E Deus nada pôde fazer contra eles a não ser desterrá-los do paraíso, porque eles se localizaram noutra região do espaço e fundaram, por assim dizer, o inferno e daí por diante começaram a guerra contra Deus. Ora, nós estamos diante então, de um soberano, de um rei universal que não foi capaz de sufocar a rebelião levantada contra ele pelos seus próprios filhos. E o diabo foi transformado num adversário eterno de Deus. Isto nos parece perfeitamente inadmissível. Completamente inaceitável, dentro do raciocínio lógico. Se Deus não é o Deus único do Universo, porque tem o diabo como Deus maldoso, oposto a ele e dominando a maior parte da humanidade. Porque o diabo, segundo os preceitos religiosos dia a dia se apossa do maior número de almas, arrebatando-as para o inferno, enquanto poucos são os escolhidos que vão para o céu. Então, nós temos de nos convencer de que o diabo na sua luta contra Deus está sempre e cada vez mais caminhando para uma vitória. Nós não podemos admitir isso.
 
Locutor -  Mande suas perguntas ao programa No Limiar do amanhã. Rádio Mulher, rua Granja Julieta, 205 São Paulo. Escreva-as a máquina ou com letra redonda e bem legível. Não faça relatórios. Faça perguntas. Aceite um conselho de mulher. Se alguém aparecer a sua porta em nome deste programa ou do professor Herculano Pires, não lhe dê atenção. Não temos representantes e não mandamos recados e nem fazemos pedidos. Nossas relações com os ouvintes são feitas através deste programa.
 
Dialogo no limiar do amanhã. Quem estará com a verdade?
 
Não tenha medo da verdade. Só ela nos libertará, disse o Cristo.
 
Pergunta 8: O que é perispírito e qual a sua função?
 
Locutor - Professor, a ouvinte Marisa Gonçalves Strock, de Osasco, pergunta. Primeiro: O que é perispírito e qual a sua função?
 
JHP -  Perispírito é o corpo espiritual. Nós sabemos que, durante toda Antiguidade, as grandes religiões e as ordens chamadas "ocultas", todas elas admitiam que o homem não possui apenas um corpo material, mas também um corpo espiritual. Ora, acontece que o Espiritismo conseguiu verificar a realidade desse corpo e provar experimentalmente a sua existência. Quando nós morremos, diz o apóstolo Paulo, o que mostra como os antigos já compreendiam muitas coisas que hoje ainda muita gente atual não compreende, diz o apóstolo Paulo que, quando nós morremos, enterra-se o corpo material e ressuscita o corpo espiritual. Ele chega mesmo a dizer que o corpo espiritual é o corpo da ressurreição. Assim, nós temos uma explicação do que seja o Espiritismo. O que seja o perispírito, perdão.
 
O perispírito tem esse nome porque foram os espíritos que, nas suas comunicações a Allan Kardec, disseram isto. Assim como a semente é envolvida por uma película que se chama perisperma, então, vamos dar ao perispírito, vamos dar ao corpo espiritual o nome de "perispírito". "Peri" que é "por fora", "arrodeando, cercando, envolvendo" o espírito. Este corpo perispiritual é aquilo que nós chamamos "o duplo" das criaturas. Quando nós, por exemplo, temos mediunidade de desdobramento, ou de bilocação, de acordo com aqueles fenômenos constatados em todas as religiões e pesquisado pelo Espiritismo. Os fenômenos das pessoas que podem estar com o corpo num lugar e aparecer num outro lugar, na mesma hora, manifestar-se à distância, por assim dizer. Hoje, em psicologia e parapsicologia, há o estudo disto com o nome de projeção do eu, a gente projeta o "eu" à distância.
 
Isto tudo investigado, se verificou que, na realidade, o homem possui não só o corpo material, mas também o corpo espiritual. Este corpo espiritual é o que chamamos de "perispírito". E para o senhor saber que este problema hoje não é mais um problema apenas de teoria, mas é um problema de investigação cientifica. Confirmando o que foi feito por Kardec na pesquisa no século passado, eu queria apenas lembrar ao senhor que os físicos russos, através de investigações no plano da antimatéria, acabam de descobrir, como nós sabemos, o corpo que eles chamaram de bioplasmático. O corpo bioplasmático do homem. Que nada mais é do que o perispírito, cuja existência o Espiritismo sustenta há mais de um século. Assim fica bem claro esse problema.    
 
Pergunta 9: Na comunicação espírita o espírito se infiltra no corpo do médium ou somente o obriga a falar?
 
Locutor
-  Professor, como se explica a comunicação espírita? O espírito se infiltra no corpo do médium ou somente o obriga a falar?
 
JHP -  Não. O espírito não se infiltra no corpo do médium. A comunicação espírita é um problema de sintonia. Um problema de indução, podemos dizer assim. O espírito se aproxima do médium e como o espírito está revestido do seu corpo espiritual, mas o médium também tem o seu corpo espiritual, então, o espírito irradia vibrações para o médium. Estas vibrações é que envolvem o médium e provocam uma resposta do perispírito do médium. Há então uma sintonia, uma ligação entre os dois, entre o espírito comunicante e o espírito do médium. Os dois corpos espirituais estabelecem a sintonia necessária e, então, o espírito pode transmitir ao médium aquilo que ele tem de dizer. Quando esta sintonia é perfeita, o médium é envolvido de tal maneira que recebe não apenas o pensamento do espírito, mas chega mesmo, às vezes, a tomar a atitude, os gestos, modificar a fisionomia,a ponto de se parecer com a fisionomia do espírito comunicante. Estas manifestações, esta maneira de comunicação é hoje profundamente estudada no Espiritismo e agora está sendo também investigada em profundidade pela parapsicologia. Que, diga-se de passagem, não obstante toda campanha que se fez baseada nela contra o Espiritismo, até hoje só tem provado a realidade do Espiritismo.
 
Pergunta 10: O que é carma?
 
Locutor
-  E a terceira pergunta da ouvinte Marisa. O que é carma?
 
JHP -  A palavra carma não é propriamente uma palavra espírita, não pertence ao vocabulário espírita. Mas está se integrando neste vocabulário em virtude do uso. A palavra "carma" vem do sânscrito e é usada na Índia, pelas várias religiões indianas. Principalmente pelo hinduísmo para indicar a lei de ação e reação que comanda, por assim dizer, o processo de evolução das criaturas e, consequentemente, se reflete nas vidas sucessivas no processo de reencarnação. Quando nós praticamos um ato bom ou um ato mau, este ato bom ou mal terá o seu reflexo e produz uma reação. Uma reação contrária e igual, que é a reação chamada "carma". Assim quando nós nos encarnamos, nós trazemos o nosso carma. Quer dizer, o contingente de consequências das nossas vidas anteriores. Daquilo que praticamos no passado, vem repercutir tudo aquilo em nossa vida presente, na nossa vida atual. O bem e o mal. Se nós praticamos mais mal do que bem, receberemos nesta vida mais mal do que bem. Se praticamos mais bem do que mal, receberemos mais bem e seremos mais felizes e mais tranquilos e teremos uma posição mais elevada entre as criaturas humanas, não do ponto de vista social, mas sim do ponto de vista espiritual. O carma é portanto, a conseqüência de nossas vidas passadas determinando o nosso destino na vida presente.
 
Pergunta 11: O que devo fazer para desenvolver minha mediunidade?
 
Locutor
-  Professor, o ouvinte Genésio Bravante, de Vila Diva, pergunta. Primeiro, sou médium não desenvolvido. O que devo fazer para desenvolver? Vejo e ouço espíritos, mas não sou espírita.
 
JHP -  Sim, o senhor tem mediunidade para desenvolver, segundo o senhor nos diz, porque ouvindo espíritos, o senhor diz mesmo que o senhor vê e ouve espíritos. Ora, então o senhor está revelando aí dois aspectos mediúnicos importantes que são a mediunidade de vidência e a mediunidade de audiência. Esses dois aspectos provam a existência da sua mediunidade. Neste caso, o senhor queira ou não queira ser espírita, o senhor precisa estudar o problema mediúnico. A primeira coisa que o senhor tem que fazer é estudar O Livro dos Médiuns de Allan Kardec, para procurar compreender como se dão os fenômenos da mediunidade. O senhor não precisará ficar espírita para isto. O senhor lê como quem busca informações de uma ciência que lhe esclarece um problema que as outras ciências não esclarecem. Mas na proporção em que o senhor tomar conhecimento disto, o senhor, aprendendo a controlar a sua mediunidade, não sei como, de que maneira, o senhor vai ficar fora do Espiritismo.
 
Pergunta 12: Certa noite eu ví o diabo. O que faço?
 
Locutor
-  Certa noite vi o diabo no meu quarto, tinha chifres vermelhos e os olhos pareciam de fogo. Fiz o nome do padre e ele desapareceu. Tenho medo que ele volte. O que faço?
 
JHP -  O diabo não existe. O que o senhor viu foi um espírito brincalhão que quis amedrontá-lo. Os espíritos brincalhões ou os espíritos maldosos, geralmente se servem do nosso medo pelo diabo para se manifestarem dizendo-se serem o diabo. Porque quando eles dizem que são o diabo, nós nos apavoramos. Quando eles nos apresentam uma fantasia, uma imitação do diabo que é muito comum entre os espíritos. Como aqui na Terra as pessoas que assombram as outras nas estradas e nos cemitérios imitando fantasmas, os espíritos fazem a mesma coisa porque são criaturas humanas. E então eles se servem deste recurso que, para eles, é importante. Se eles querem apavorar uma pessoa, basta dizer que são o diabo e a pessoa fica apavorada. Ficando apavorada, perde a possibilidade de defesa. O senhor felizmente não se apavorou tanto porque o senhor recorreu aos elementos defensivos da sua própria religião. O senhor apelou a Deus e assim apelando o senhor recebeu naturalmente o auxilio dos bons espíritos que afastaram aquela entidade. O senhor não deve temê-la. O senhor deve orar constantemente e pedir a Deus que ampare esses espíritos que procuram perturbá-lo.
 
Pergunta 13: Professor, quantas encarnações temos na Terra?
 
Locutor
-  A ouvinte Maria dos Anjos Brizola pergunta. Primeiro. Professor, quantas encarnações temos na terra?
 
JHP -  Quem poderá saber? Não há uma estatística sobre isso. Algumas correntes espiritualistas pretendem saber o número de encarnações que cada espírito tem aqui na Terra. O Espiritismo não tem essa pretensão. Porque nós sabemos que o número de encarnações pode variar ao infinito. O número de encarnações que o espírito tem num determinado mundo, decorre da maneira por que ele enfrenta os seus problemas evolutivos. Se ele não for um espírito ativo empenhado na sua própria evolução, ele pode demorar muito. Há espíritos que se reencarnam numerosas vezes numa mesma situação porque não evoluem, porque não saem daquelas condições. Eles voltam à Terra para sair, mas não saem. Então, muitas vezes eles são submetidos para poderem ser arrancados do círculo vicioso das reencarnações  semelhantes. Eles acabam sendo submetidos a processos bastante violentos que os impulsionam, que os arrancam daquela situação. Não que Deus os condene a isso, mas porque as leis da evolução agem dinamicamente e não podem permitir que as coisas se paralisem, fiquem estagnadas. Que os seres humanos, por exemplo, deixem de evoluir apenas para acomodar-se a situações onde na realidade nada tem a ganhar. Então eles são impulsionados, impelidos para frente. E é por isso que nós nunca podemos saber quantas encarnações se tem na Terra.
 
Pergunta 14: Jesus e Nossa Senhora subiram ao céu com os seus corpos materiais?
 
Locutor
- É verdade que Jesus e Nossa Senhora subiram ao céu com seus corpos materiais? Por quê?
 
JHP – Porque as pessoas fazem confusões. Já dizia o filósofo Descartes, que o homem confunde o corpo com a alma. Neste caso o que houve foi isto. Nós não podemos admitir, naturalmente, que Jesus nem Nossa Senhora tenham subido às regiões espirituais superiores com os seus corpos carnais. Estes corpos teriam forçosamente de ficar na Terra. Porque essas regiões espirituais superiores não se constituem de matéria densa, matéria pesada e grosseira como a Terra. Os corpos que sobem até lá são os corpos espirituais. São, portanto, a alma do homem. No Espiritismo, nós chamamos de alma o espírito, quando encarnado. Porque quando ele está encarnado ele anima um corpo. Então ele é a alma do corpo. Mas quando o espírito se liberta ele volta a ser espírito livre, não está mais sujeito à carga que ele carregava na Terra que era o seu corpo material. Ora, nós só podemos admitir que os espíritos superiores como Jesus, como Maria e outros grandes espíritos que passaram na Terra, subiram realmente aos céus, mas nos seus corpos espirituais e não, no corpo material.
 
Pergunta 15: Por que Deus escolheu a Terra para criar o homem do seu barro?
 
Locutor
- Terceira pergunta da ouvinte Maria dos Anjos. Por que Deus escolheu a Terra para criar o homem do seu barro. Não há outros planetas mais importantes? E neles não há gente?
 
JHP – Claro que existe. Imagine se por acaso nós descobríssemos de repente com a investigação astronáutica que o universo inteiro está vazio. Só existem mundos e mais mundos no espaço, despovoados. Então, nós estaríamos aqui na Terra como um pequenino planeta, entre milhões e milhões de planetas superiores, com o privilégio de ter a inteligência humana. Os outros mundos não teriam nada, estariam vazios. Isto é absurdo. De acordo com o Espiritismo, a humanidade é cósmica. A Terra foi um dos planetas últimos a serem, na escala dos mundos, por assim dizer, a serem povoados. Entre esses últimos planetas que foram povoados está a Terra. A nossa humanidade é apenas uma parcela ínfima, pequenina, da humanidade que enche o universo inteiro, habitando os mundos mais diversos. Os mundos, que vão desde mundos inferiores, povoados ainda apenas por selvagens, até os mundos de civilizações muito elevadas, superiores, muito acima da nossa civilização terrena, que é ainda, pode estar certa disso, uma civilização grosseira.
 
Pergunta 16: O que é mais importante a Ciência Espírita ou a Religião Espírita?
 
Locutor – Professor, o ouvinte José Alexandre Costa, da Rua Pires da Mota, Aclimação, pergunta. Primeiro. O que o senhor acha mais importante, a Ciência Espírita ou a Religião Espírita?
 
JHP – É claro que nós temos de compreender a Doutrina Espírita como um todo. Nós não podemos considerar que esta ou aquela parte é mais importante. Porque, na doutrina espírita, não existe apenas a ciência e a religião. Existe também a filosofia espírita, como um passo intermediário entre a ciência e a religião. A ciência como sabemos é a investigação dos fenômenos. Quando tratamos de ciência espírita, nós estamos investigando o espírito através das suas manifestações. E manifestando-se, o espírito nos dá, por assim dizer, os meios pelos quais nós podemos conhecê-lo, descobrir as leis que regem a sua vida, as suas manifestações, os seus pensamentos e as suas ações. Mas desta ciência espírita, que é desenvolvida de maneira a nos dar uma visão, não apenas do homem, mas do mundo. Porque todo mundo está envolvido, não somente pela existência dos espíritos, mas pela essência espiritual que informa o planeta, que lhe dá estrutura. Então, quando nós verificamos isto, nós vemos que a ciência é de importância básica no Espiritismo. A ciência espírita nos muda a nossa maneira de ver o mundo e, por isso, ela cria uma filosofia. Uma filosofia que se constitui na explicação do mundo à luz dos conhecimentos científicos adquiridos pela investigação espírita. Nasce portanto a filosofia espírita da ciência espírita.
 
Mas a filosofia espírita como todas as filosofias vai desembocar forçosamente num tipo de moral. E esta moral produz naturalmente uma religião. Porque a moral espírita não é apenas uma moral terrena mas uma moral que se refere a vida após a morte e as relações do homem com Deus. Então surge a religião. E a religião completa, por assim dizer, a estrutura do Espiritismo. A doutrina tríplice que se constitui de Ciência, Filosofia e Religião. Cada uma destas partes, consequência das anteriores. Esta doutrina tríplice, então, nos mostra que todas essas partes são importantes. Se nós tirarmos do Espiritismo a Ciência, tiramos a sua base. Se nós tirarmos do Espiritismo a Filosofia, tiramos a sua construção, as suas paredes, os seus andares. Se nós tirarmos do Espiritismo a Religião, tiraremos a sua cúpula, o seu acabamento. Portanto temos de compreender que todas estas partes do Espiritismo se equivalem em importância.
 
Pergunta 17: Kardec foi padre e abandonou a batina para se tornar espírita?
 
Locutor
– É verdade que Kardec foi padre e abandonou a batina para se tornar espírita?
 
JHP – Não, não é verdade. Deve ter havido aí uma confusão. Ou o senhor ou alguém que ouviu falar que Kardec era um sacerdote druida no tempo dos celtas, nas Gálias antigas. Quer dizer, na encarnação anterior dele, ele teria sido então um sacerdote druida. Não um padre da igreja presente, mas da religião dos celtas.
 
Pergunta 18: Kardec escreveu um novo evangelho?
 
Locutor
– Por que Kardec escreveu um novo evangelho. Que autoridade tinha ele para isso?
 
JHP – Ele não escreveu um novo evangelho, o senhor está enganado. O Evangelho segundo o Espiritismo que muita gente pensa ser um novo evangelho, é simplesmente um comentário dos evangelhos de Jesus.
 
Pergunta 19: Remoção do busto de Kardec da entrada da FEESP
 
Locutor
– Professor. Por que tiraram o busto de Kardec da entrada da Federação Espírita do Estado de São Paulo?
JHP – É o senhor tem razão de perguntar isto. Mas eu posso lhe dizer o seguinte. Entenderam que aquele busto de Kardec, que era constantemente reverenciado por pessoas humildes que ali entravam na Federação, e que às vezes chegavam até se ajoelhar diante do busto, estava representando um papel negativo, porque parecia uma imagem, uma imagem que atraía os fiéis para a reverenciarem. Entretanto, o busto de Kardec não tinha nada de uma imagem de santo ou coisa semelhante. É um busto como se faz de uma pessoa ilustre em qualquer parte, para homenageá-la.
 
Eu acho que o senhor devia perguntar isto, mandar esta pergunta à própria Federação, auxiliando-nos assim a despertar a atual diretoria da Federação para compreender que o busto de Kardec deve estar lá na entrada da Federação. Se as pessoas começarem a fazer isto que tem feito, para isso existe a Federação, que deve explicar e esclarecer a estas pessoas que aquilo não é uma imagem. É um busto como um retrato de uma criatura ilustre, como um busto que tem em praça pública de qualquer pessoa, para ser apenas, para ser ali colocada como uma lembrança da importância de Kardec para o Espiritismo.
 
Mande suas perguntas ao Programa No Limiar do Amanhã, Rádio Mulher, Rua Granja Julieta 205, São Paulo. Escreva-as a máquina ou com letra redonda e bem legível. Não faça relatórios, faça perguntas. Ouça o recado  final deste programa logo após a explicação do texto evangélico. Ouça e responda por escrito. Preste atenção, há nele uma pergunta. Se você responder certo, ganhará um livro para ajudar a sua busca da verdade.  
 
 
***
 
 
O evangelho de Jesus em Espírito e Verdade. Não fazemos sermões, procuramos apenas dar explicações.
 
Abrindo o evangelho ao acaso, como sempre fazemos, encontramos o seguinte: Atos 16: 11-15:
 
“Tendo pois navegado de Trôade fomos em direitura à Samotrácia. No dia seguinte à Neápolis e dali a Filipos, cidade da Macedônia, primeira do distrito e colônia. Nesta cidade ficamos alguns dias. No sábado saímos fora da porta para junto de um rio, onde julgávamos haver um lugar de oração e sentados falávamos às mulheres que ali haviam acorrido. Uma mulher chamada Lídia, vendedora de púrpura da cidade de Tiatira e que temia a Deus nos escutava. E o senhor abriu-lhe o coração para atender as coisas que Paulo dizia. Depois de serem batizadas, ela e sua casa, fez-nos este pedido: ‘se julgais que sou crente no senhor, entrai em minha casa e ficai nela’. E constrangeu-nos a isso.”
 
Neste trecho de Atos dos Apóstolos é muito significativo porque nos dá, nos oferece por assim dizer, a descrição de um episódio quase de maneira minuciosa. Um episódio da era apostólica. Do tempo em que os apóstolos semeavam a ideia do evangelho, a mensagem do evangelho no mundo. E vemos a descrição da viagem feita até a Macedônia, onde Paulo levava a palavra do evangelho como uma missão que ele tinha de cumprir junto daquele povo. E como nós sabemos, na sua inspiração e no seu desejo real de servir à causa do Cristo, Paulo tinha sido enviado realmente à Macedônia para o cumprimento dessa missão. Mas ali o que nós deparamos deste trecho, é que na cidade, ou da cidade Paulo sai, atravessa a porta. As cidades naquele tempo eram cercadas de muros, de grandes muralhas defensivas e haviam os portais que se abriam para o campo.
 
Ora, foi fora da cidade, nos arredores da cidade mas fora das muralhas, que Paulo se colocou num lugar que era destinado a oração próximo a um rio, para falar às mulheres que ali se encontravam. Vemos a simplicidade rústica destas cenas. O apóstolo dos gentios, aquele que havia sido doutor da lei em Jerusalém e que agora arrastava, por assim dizer, as suas sandálias pela poeira de todos os caminhos do mundo. Ele ia levar àquelas mulheres simples da cidade de Filipos, ali perto de um rio, na beira de um rio, onde naturalmente se entregavam aos seus afazeres de limpeza, de higiene e de lavagem. E depois se dedicavam à oração. Levar a elas a palavra do evangelho. E Paulo se põe a pregar àquela gente, a despertar naqueles corações o sentimento do amor para com Deus. O sentimento espiritual que palpita em todos os corações humanos. Procurando atraí-las para a compreensão de uma mensagem nova, redentora que surgia na terra. E dentre aquelas mulheres, o livro não menciona quantas mas nos mostra que havia ali várias mulheres, levanta-se Lídia, que foi, segundo nós vemos do próprio texto, naquele momento como que escolhida, porque tocada no seu coração, soube logo despertar para a compreensão do evangelho. Então acentua o Livro de Atos que ela foi batizada, ela e os de sua casa e se integraram no cristianismo.
 
Temos aí a questão do batismo. Pergunta-se então se Paulo batizava, se os apóstolos batizavam. O batismo não é por acaso uma determinação do próprio Cristo que surge nos evangelhos para ser realizado em todo o mundo. As igrejas cristãs assim entendem e não vemos nisso nada que possa ser considerado como negativo. Mas no Espiritismo nós interpretamos o problema do batismo segundo as próprias palavras do Cristo, quando foi batizado no Jordão. E as palavras principalmente de João Batista quando disse que atrás dele viria outro que batizaria não mais em água, mas em espírito. Nós então compreendemos o batismo como espiritual e não material. O batismo da água era um rito praticado desde a mais alta Antiguidade e naturalmente, entre os judeus na Judeia do tempo de Jesus, se praticava amplamente. Mas Paulo, ele mesmo nos diz numa das suas epístolas, que ele não foi enviado para batizar mas sim para evangelizar. E que depois de fazer os primeiros batismos, e este de Lídia foi um deles, ele não voltou mais a batizar, mas apenas a despertar as criaturas pela palavra do evangelho, pelo espírito, iniciando-as assim numa nova vida. O batismo é um sinal de iniciação. Paulo iniciava as criaturas através da palavra do evangelho, despertando-as para um novo sentimento da vida. E Lídia aparece então como uma figura auroral dos primeiros tempos do cristianismo. Uma figura que marca na Macedônia, o desenvolvimento da evangelização daquele povo.
 
Vamos agora ao nosso recado. Atenção amigo ouvinte, atenção para a pergunta que você deve responder por escrito:
 
As dificuldades e os sofrimentos da vida têm forçosamente uma razão. Nada acontece por acaso, nada. Nem um fio de cabelo cai de nossa cabeça por acaso, como ensinou Jesus. Tudo no mundo é regido por leis. O Universo é um organismo perfeitamente estruturado. As leis de Deus não são apenas as que estão no decálogo ou nos ensinos do evangelho. Estão na natureza, regem a estrutura da pedra e a estrutura de nossa consciência. Você discorda disto e acredita no acaso? Mande-nos a sua resposta por escrito. Se estiver certa, a leremos neste programa e você ganhará um livro para ajudá-lo na busca da verdade.
 
No limiar do amanhã. A verdade é o nosso objetivo.
 

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